No texto do Evangelho de São Lucas, Jesus cura dez leprosos, enviando-os depois aos sacerdotes, para cumprir o que prescrevia a lei. Dos dez que foram curados, apenas um, justamente um Samaritano, volta para agradecer, louvando a Deus em alta voz (cf. Lc 17,11-19).
É preciso ser livre diante da lei para experimentar a gratuidade do Dom, reconhecê-la com lealdade e proclamar com alegria a ação de Deus que transforma a vida. Costumamos identificar na oração quatro passos: louvor, ação de graças, pedido de perdão e súplica. Na cura dos leprosos, é patente a necessidade da cura, expressa na súplica ardente dos doentes. Um dos dez volta para agradecer e louvar! Louvar a Deus é proclamar o que Ele é!
Antes de pensar nos benefícios que realiza em nosso favor, Deus vale porque é Deus! Depois vem a ação de graças, cujo conteúdo não é um simples agradecimento. Trata-se de uma ação que acompanha a vida, uma atitude de vida. Só quem entende assim a ação de graças será capaz de ver sempre o bem, mesmo em meio as dificuldades.
João Paulo II lançou um apelo ao mundo inteiro, por uma nova evangelização; nova em seu ardor, nova em seus métodos e nova em suas expressões. A evangelização será sempre nova se for fiel as suas raízes; pois o evangelho é sempre novo.
Os apóstolos, com seus limites culturais pessoais, enfrentaram um mundo imbuído de paganismo e o transformaram por dentro. O primeiro anúncio foi radical e decisivo, mudou a história. E, no decorrer da vida da Igreja, o sangue dos mártires, a coragem dos missionários, a sabedoria dos mestres na Igreja, a santidade vivida no escondimento e na simplicidade de tantos cristãos, tudo isso foi anúncio da Boa Nova que fermenta a história, certeza do reino de Deus que cresce e é maior do que o mal e o pecado.
No meio de tantas falhas que nós cristãos cometemos durante a história da Evangelização, com certeza consideradas como manchas e enfermidades a serem curadas e pelas quais pedimos perdão, existe a certeza de que, como nos primeiros tempos da vida da Igreja, também hoje somos acompanhados pela graça que liberta e salva, pelo que maiores são os motivos para louvar e agradecer.
Louvemos, pois, o Senhor, antes de tudo porque Ele é o Deus fiel, como afirma o Apóstolo São Paulo: Se lhe somos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo (cf. 2 Tm 2,8-13). Deus acompanha o Seu povo e os anunciadores de Sua palavra. E, jubilosos, cantemos o hino de ação de graças porque o Evangelho foi e está sendo anunciado. Conosco canta a Virgem Maria, com as palavras do seu cântico: A minha alma engrandece o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador… o poderoso fez em mim grandes coisas.
Nossa gratidão será fonte de renovação, para que os eventuais erros do passado sejam superados, e a perene novidade do evangelho transforme o nosso mundo.
Dom Alberto Taveira
Arcebispo de Palmas TO
Fonte: ‘Aos pés do Senhor‘
Livro: Quero a Misericórdia