Uma Coisa Só

São Francisco, Santo Agostinho, Santa Clara, São José, Santa Teresa… Graças a Deus, temos milhares de modelos a quem imitar em nosso caminho para a santidade.
Somos chamados à santidade tanto quanto todos os santos que vieram antes de nós. Mas a qual santo em particular devemos imitar? São Luís, rei da França, ou São Francisco de Assis, pobre entre os pobres? Santo Antão, eremita, ou São João Bosco, apóstolo dos jovens? São Francisco Xavier, missionário, ou Santa Teresa D’Ávila, carmelita enclausurada?

Na verdade, devemos imitar a todos os santos; não em cada pormenor de suas vidas, mas em UMA COISA SÓ: FAZER A VONTADE DE DEUS, COM HUMILDADE E AMOR.

Talvez Deus nos chame à pobreza; mas a nossa pobreza vai ser diferente daquela de São Francisco, porque vivemos num mundo diferente e, acima de tudo, porque somos diferentes. Deus, que criou cada um de nós, respeita profundamente a nossa natureza.
Até mesmo um frade franciscano é chamado à santidade de um modo diferente do próprio São Francisco. Vejamos alguns exemplos: São Francisco foi diácono, e não se julgou digno de ser sacerdote. São Boaventura não apenas foi sacerdote, mas Bispo. Lembremos ainda de Santa Clara, Santo Antônio de Pádua ou o Santo Padre Pio… Todos franciscanos, todos santos, mas cada um à sua maneira.

O fato, irmãos, é que Deus tem um projeto de santidade para cada um de nós. E este projeto não significa fazer grandes coisas ou fundar uma congregação.

Às vezes nos angustiamos, tentando “impressionar” a Deus ou “mostrar serviço” com as nossas obras. Não foi assim que os santos ganharam o céu. A Deus, agrada muito mais a obediência que o sacrifício. São Paulo diz que Jesus “foi obediente até à morte, e morte de cruz”.

O que nos torna santos é o amor e a humildade com que obedecemos à vontade de Deus. As grandes obras que os santos realizaram são os frutos deste amor, humildade e entrega. Mas alguns santos nem realizaram obras tão grandes. Dois exemplos:
Maria não pregou nem operou curas como os apóstolos. Pelo menos, a Bíblia não nos fala nada sobre isso. Mas, entre as criaturas, ela é a mais santa. Qual foi sua missão? Ser mãe! Quantos milhões de mães existem no mundo? E quantas delas são santas? Ser uma boa mãe já é motivo para santidade. Maria foi santa, não pelas muitas obras que realizou, mas pelo amor total com que realizou simplesmente aquilo que Deus lhe pediu: ser mãe do seu Filho. Ela não quis outras honras, não quis trabalhos mais importantes; doou-se totalmente na missão para a qual Deus a escolheu, sem almejar mais do que fazer a vontade de Deus.

É o orgulho, e não a santidade, que nos faz ficar procurando missões “importantes” na Igreja, ou achando que o que fazemos não tem valor “porque é pouco”.

Vou dar-lhes um bom exemplo de orgulho: eu mesmo. Eu queria ser santo, entregar minha vida totalmente a Jesus. Mas o trabalho que eu fazia — tocar violão dar palestras em encontros — não me parecia importante. O que eu queria era ser missionário na África. Não por amor aos irmãos nem por obediência a Deus, mas porque para mim isto parecia realmente “importante”.

A oportunidade de ir para a África nunca apareceu. Mas um dia Deus tocou-me o coração, mostrando-me o exemplo de Maria, santa mãe de Deus. Ela permaneceu humilde em seu grande amor. Não quis mais do que Deus lhe ofereceu. Isto é próprio de quem ama — não procurar agradar a si mesmo, mas aquele a quem se ama.

Pois bem: meditando sobre Maria, vi que Deus não me pedia para ir à África, mas para tocar violão e dar palestras. Então comecei a fazer isto com amor, como se Deus só quisesse isso de mim. Pouco tempo depois veio o convite para entrar na Comunidade Obra de Maria. Fiz a experiência e senti que Deus me chamava a esta vida. Percebi então que, mais do que eu, Deus queria que eu consagrasse minha vida a Ele. Porém, não para satisfazer o meu orgulho, mas unicamente por amor, para fazer a vontade de Deus.

Outro exemplo de santidade é Santa Teresinha de Lisieux: ela queria ser sacerdote, pregadora, missionária, doutora da Igreja, mártir, eremita… Ela descobriu que, sendo uma freira enclausurada, havia um jeito de ser tudo isso ao mesmo tempo: o AMOR. O amor é a essência de toda missão. Por isso ela escreveu: “No coração da Igreja, minha mãe, serei tudo, serei o AMOR”.

Ainda uma palavra sobre a humildade: Não devemos pensar que nós, por nós mesmos, somos capazes de nos tornar santos. Como diz São Paulo, é Deus quem realiza em nós “tanto o querer como o fazer, conforme o seu agrado” (Fl 2,13). A nós cabe escutar, aceitar e obedecer com todo amor de que somos capazes. O restante Deus mesmo realizará em nós, pois, mais que nós mesmos, Ele deseja a nossa santificação.
Amor, humildade e obediência: eis o caminho para a santidade.