Quando os discípulos de João Batista perguntaram a Jesus: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”( Mt 11,3), receberam dele esta resposta: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” ( Mt 11, 4- 5). Ele “passou fazendo o bem” ( Atos 10, 38) e legou um exemplo magnífico a seus seguidores. Deve haver, portanto, um comprometimento decididos da comunidade cristã com os que sofrem.
A religião de Jesus não é, de fato, uma mensagem de pura resignação estóica, um consolo transitório, mas compromisso de promoção humana integral sob pena de se infirmar a própria fé. A mentalidade de Cristo que deve ser o modo de pensar de seu epígono é da luta constante contra todo tipo de sofrimento . Os primeiros fiéis bem compreenderam isto e impregnaram a sociedade romana com o perfume das mais notáveis provas de serviço aos doentes.
A figura de Jesus contemplada no faminto, no excluído, no prisioneiro, no doente tem sido a tônica do comportamento dos crentes através dos tempos, bem dentro do programa estabelecido pelo Redentor ( Mt 25, 31-40). A atenção por aquele que padecer foi, é e será sempre a maior glória da Igreja instituída pelo Filho de Deus. Nunca foi pregada uma resignação doentia e comprometedora, pois fazer da doutrina de Jesus um ópio seria um acinte ao Mestre divino. Seria uma atitude alienante e fonte dos maiores males.
No tratar os enfermos algumas normas evangélicas são importantes. Cumpre evitar sempre qualquer forma de paternalismo, pois ajudar a quem padece é dever de justiça social e um dever cristão. Camilo de Lelis recusava o agradecimento dos doentes que tratava, porque, dizia ele, é uma obrigação elementar cuidar de Cristo neles. Com efeito, julgava ele que o cristão é que deve agradecer a Jesus por oferecer uma oportunidade de poder servi-lo. O mundo todo, com razão, ficou consternado ao ensejo do falecimento de Madre Teresa de Calcutá, dia 5 de setembro último, pois a milhares de sofredores ela soube levar o lenitivo de uma ajuda oportuna. Ministério sagrado que lhe mereceu o prêmio Nobel da Paz e inúmeras outras honrarias. Uma vida de abnegação a serviço dos doentes e excluídos da sociedade.
A pergunta de Deus a Caim: “Onde está teu irmão Abel” ( Gên 4,9), Ele a continua fazendo através dos tempos, para urgir a total assistência aos necessitados. Quantos respondem com Caim, asseverando que não é “guarda” de seu irmão, escamoteando sua obrigação. Muitos são aqueles que falam de solidariedade social, até mesmo se entregam a grandes obras assistências, mas se esquecem dos mais próximos dos próximos que é quem habita sobre o mesmo teto. Se tornam cegos, surdos e mudos diante do sofrer dos que convivem com eles.
Além dos gestos expressivos individuais, é preciso se dê apoio total às associações de caridade que estendem por toda parte aquele mesmo amor de Jesus pelos sofredores. Felizes os que têm o carisma para ajudar os doentes, pois sua recompensa no céu será verdadeiramente extraordinária. É mister ainda levar os doentes a valorizarem as provas que Deus lhes envia, dando uma aplicação a suas dores, pois nem sempre está nos planos divinos curar imediatamente um doente e há aqueles que, portadores de deficiências físicas, têm que conviver com este estado, mas sem nunca perderem sua dignidade e seu amor à própria vida.
Uma reflexão crítica pessoal se faz necessária ao que sofre com vistas a uma reação positiva e construtiva. Toda promoção do ser humana é um ato de valor imenso diante de Deus. Todo enfermo deve ser levado a se sentir perto de Jesus, o Homem das Dores. O que se deve oferecer ao enfermo, enquanto a dor não passa é a certeza da graça de Deus que leva à paciência e total conformidade com a vontade divina.
Santo Agostinho, no livro VIII das Confissões fala no “colírio das dores” morais com que Deus o experimentou: “Estimuláveis-me com um misterioso aguilhão para que estivesse impaciente até me certificar de vossa existência por uma intuição interior. O meu tumor decrescia ao contato da mão oculta da vossa medicina. A vista perturbada e entenebrecida da minha inteligência melhorava, de dia para dia, com o colírio das minhas dores salutares”. O dito de Catarina de Sena deve ser inteiramente vivido: “O sofrer passa, o ter sofrido permanece para sempre“, ou seja, ter valor para a eternidade se foi aceito cristãmente.