As várias classes sociais, que reúnem segmentos da população, foram se formando aos poucos, com a divisão do trabalho e o ganho de cada trabalhador. Freqüentemente, estamos nos referindo às classes pobres ou às ricas da sociedade. Em geral, os pobres têm o estritamente necessário para a sobrevivência. Os ricos, das classes médias e altas, gozam de uma situação bem melhor quanto à moradia, atividades mais intelectuais que braçais e os salários maiores. É doloroso saber que há classes extremamente pobres, com pessoas vivendo na miséria, enquanto outras usufruem um bem-estar de alto nível, proporcionando-lhes o supérfluo.
Em recente artigo, afirmei que o empenho de todos os governantes e cidadãos deve ter por objetivo uma aproximação maior das classes sociais, levando a uma partilha mais justa dos bens criados por Deus. Em todo caso, tanto o trabalho quanto uma herança honesta, acabam sempre diferenciando as classes sociais. Pena que aumentam as desigualdades entre os que possuem muito e os que não possuem nem mesmo o necessário para uma vida digna.
Nos tempos do Império Romano, a organização da sociedade foi bem mais simples do que hoje. De um lado, os bem situados social e economicamente. Do outro, os escravos e o povo, vegetando em meio a injustiças de todo tipo. Com o tempo, a questão mereceu uma análise e uma crítica. É justo haver a distinção em diversas classes? É possível diminuir as distâncias entre as classes sociais? Seria possível uma sociedade sem classes, nivelando a todos?
Alguns utópicos, como os marxistas, propõem uma sociedade sem classes, nivelando todos como trabalhadores, sob a liderança de governantes que providenciariam a casa, o pão, a cultura, o lazer e tudo o mais que seja necessário para o cidadão. A leitura do “Manifesto do Partido Comunista” (1848) de Karl Marx e Friederich Engels, sonha com as utopias de uma superação da divisão em classes sociais. Somente o Estado totalitário e ateu teria a propriedade de todos os bens de produção: terras, serviços de toda ordem, empresas e indústrias. Mais à frente, até mesmo deixariam de existir os governos, atingindo a sociedade uma espécie de “novo paraíso terrestre”, em que todos seriam efetivamente iguais em direitos e deveres.
Quase um século antes, na metade do século XVIII, com a Revolução Francesa e a Industrial, estaríamos em uma sociedade de classes e um sistema de mercado livre que daria a todos pobres e ricos, operários e empresários uma nova situação de bem-estar geral. Os governantes e o Estado providenciariam como resposta a todos os necessitados a satisfação de suas necessidades primárias casa, alimentação, etc e também secundárias: educação, segurança, lazer, educação, etc. O liberalismo como sistema político e uma economia de mercado livre, acabariam levando toda a sociedade a um bem-estar jamais alcançado na história.
Após dois séculos de liberalismo e 70 anos de comunismo, é fácil perceber que aumentou o número dos mais pobres e carentes. As diferentes classes sociais estão aí, lutando entre si, em busca de uma nova organização da pirâmide social. Os longos anos da ditadura comunista só empobreceram as populações, roubando-lhes a liberdade política, religiosa e outras. O Estado tornou-se uma superpotência, militarmente preparado para uma possível guerra nuclear com outros países, vivendo hoje em outra realidade sócio-econômica.
Lamentavelmente, em um dos meus últimos artigos, divulgado pela internet e em inúmeros jornais, foi divulgada a posição da Igreja, da doutrina social cristã e minha também, em termos contraditórios. De um lado o artigo reafirmava a legitimidade das várias classes sociais e, pouco mais adiante, acenava a “uma sociedade sem classes” e a um “paraíso terrestre”, o que é tipicamente do marxismo. O possível que merece todo o nosso empenho é a construção de uma sociedade menos desigual, o que é urgente dadas as diferenças injustas entre pobres e ricos. Por outro lado, jamais chegaremos a ter um mundo paradisíaco como nas origens da história humana, antes do pecado original.
Para atingir uma convivência social mais justa, queremos o que a doutrina social da Igreja ousou propor: além de um salário justo para todos os que trabalham, uma participação tanto na propriedade quanto na gerência e distribuição dos lucros das empresas. Teríamos, assim, comunidades fraternas de trabalho, com maior produtividade e mais paz na convivência entre empresários e operários.