Junho traz uma convergência especial: final da copa do mundo, e festa de S. Pedro. O Brasil entra em campo para decidir a parada, e o Papa ainda permanece em campo, disposto a outros lances em sua persistente batalha.
Pensando nos atletas, compreendemos o justo orgulho de terem chegado à difícil final da competição. Chegar até o fim, lutando bravamente, é honra que enobrece qualquer jogador. Pensando no Papa, ninguém lhe tira este mérito. Ele se habilitou a empunhar a bandeira de causas imprescindíveis da humanidade. Por elas está disposto a ir até o fim.
Neste contexto, o belo espetáculo da final da copa do mundo, contrasta vivamente com o crescente clima de tensão que vai marcando a situação mundial. As instituições internacionais se mostram inadequadas para resolver os novos problemas que vão surgindo. Há uma urgente necessidade de recompor a ordem mundial, em base a valores que precisam presidir e guiar a ação de todos os atores que interferem na situação atual da humanidade, de qualquer ordem que forem. Pois as atuais instituições parecem estar à beira da falência.
Na verdade, daria para dizer que, infelizmente, a Fifa é uma das poucas instituições mundiais que ainda gozam de credibilidade. E isto, não por causa dos seus dirigentes, mas pela ação dos atletas, que salvam o espetáculo apesar da precariedade dos juízes.
Nesses dias aconteceu em Roma a assembléia da FAO, o organismo das Nações Unidas incumbido de administrar a questão fundamental da fome no mundo. Foi um fracasso total. Os dirigentes dos países do primeiro mundo, detentores do capital financeiro, fizeram questão de mostrar o seu descompromisso, como se o problema da fome fosse secundário.
Já faz tempo que a ONU se mostra inerme, amarrada, omissa e incompetente para arbitrar as tensões entre países e povos. Ela se reduziu a um aparato simbólico, desprovido de autoridade, instrumentalizada para mascarar a ilegalidade de ações que atropelam direitos humanos e ameaçam a sobrevivência de nações, como é o caso da Palestina. Ninguém tem a coragem de apresentar o cartão vermelho para Sharon.
A situação internacional está se tornando um vale-tudo, onde o poderio militar da única superpotência se julga o árbitro de todas as situações. A pretensa luta contra o terrorismo serve de pretexto para escolher os alvos de suas represálias. Para aumentar nossas preocupações, o seu Presidente, comparado com os atletas de futebol, mais parece um desastrado perna de pau, que se arrogou o direito de jogar com o apito na boca, e marcar as penalidades de acordo com suas conveniências.
Parece estranho, mas é assim que pinta o quadro mundial neste início de terceiro milênio: a ditadura mundial dos interesses econômicos e financeiros, atropelando os direitos dos povos e a sobrevivência da humanidade. Já houve outra época com obsessão parecida: o início de século dezenove, com o positivismo achando que a ciência iria atropelar todos os outros valores humanos. O tempo se encarregou de mostrar a inconsistência deste equívoco.
Agora a situação é mais perigosa. Pois a ganância financeira é muito mais voraz do que a petulância cientificista. E o vazio de lideranças mundiais acrescenta uma preocupação a mais. E neste contexto que a figura do Papa emerge como um gigante, que sustenta uma causa que precisa ser assumida com urgência. Na falta de outros atletas, mesmo estropiado pela idade e pela doença, é ainda ao Papa que precisamos entregar a camisa nove da batalha em favor das causas da humanidade. Esta partida não podemos perder.