Deus derrama sua graça sobre nós abundantemente. Porém, a maior dignidade que Ele nos dá é a da filiação divina. É uma graça inestimável. Não se trata de metáfora ou símbolo. Diz São João: ‘Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus, e nós o somos!‘ (1 Jo 3,1). Somos ‘participantes da natureza divina’ (2 Pd 1,4). Somos admitidos na intimidade da Santíssima Trindade. Toda a nossa vida é afetada pela filiação divina o nosso ser e o nosso agir. Consequentemente, a nossa oração se dirige ao Pai amoroso, a quem Jesus nos ensinou a chamar de Abbá, papai, pai querido. Sentimos orgulho, firmeza e força em ser filhos do ‘Pai que está nos céus’.
Quem tem consciência de ser filho de Deus não pode temer nada em sua vida. Deus conhece melhor do que nós as nossas necessidades e é o nosso Pai. ‘Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem!‘ (Mt 7,11)
Um menino, no meio da tempestade em alto mar, continuava a brincar, enquanto os outros, amedrontados, temiam pelas suas vidas. Era o filho do timoneiro do barco. Quando, ao desembarcar, lhe perguntaram como tinha estado tão tranqüilo no meio daquele furacão, respondeu: ‘Como poderia ter medo? o leme estava nas mãos de meu pai’. Deus dirige a nossa vida, mesmo por entre tempestades e tribulações. Ele é Pai e nós somos seus filhos queridos; nada devemos temer.
É no batismo que nos tornamos criaturas novas, filhos adotivos de Deus, participando da natureza divina, co-herdeiros de Cristo. Desenvolvemos essa vida divina nos demais sacramentos, na oração e na vivência cristã autêntica. A filiação divina é também o fundamento da fraternidade cristã, que não se reduz à mera solidariedade. Os cristãos sentem-se verdadeiramente irmãos, porque são filhos do mesmo e único Pai. Têm a dignidade desse título maravilhoso, sem discriminação alguma. Começamos, naturalmente, pelos que estão ao nosso lado, mais próximos de nós. Dedicar a todos um amor sacrificado, benévolo e cheio de compreensão; ver as pessoas como Cristo as vê; tratá-las como Deus-Pai as trata.
Ser filhos de Deus é a maior graça a que poderíamos aspirar. Vivamos fielmente essa filiação divina. Ela desabrochará na vida eterna, onde seremos filhos de Deus em plenitude. ‘Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que seremos ainda não se manifestou. Sabemos que, por ocasião desta manifestação, seremos semelhantes a ele, pois o veremos tal como ele é’ (1 Jo 3,2).
É verdade que passamos por muitas tribulações. Se Deus, que é Pai, permite esses sofrimentos, também nos concederá a ajuda necessária para superá-los. ‘Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças‘ (1 Cor 10,13).
Dom Frei Daniel Tomasella
Diocese de Marília – SP
Fonte: Jornal ‘No Meio de Nós’