A ascensão de Jesus recorda que somos passageiros no trem da vida. Não podemos correr o risco de que aqui na terra nós tenhamos morada permanente. Viemos só de passagem e, antes de sair da casa do Pai, recebemos uma missão para que, depois de a termos cumprido, sermos chamados a voltar para o local de onde viemos.
A ascensão nos vem recordar que Jesus, depois da ressurreição, quis ainda ficar conosco para nos lembrar o que é necessário fazer sem ele, continuar a celebrar a sua memória viva até que ele venha definitivamente, torná-lo presente na conflitividade e na desesperança da vida, causada pela força do pecado e da escravidão humana. Nós somos os herdeiros da paz de Jesus e devemos instaurá-la no mundo, na Igreja, na família e no nosso coração. Jesus deixou a todos os seus que fossem por todas as partes do mundo, em todos os lugares onde houvesse alguém para anunciar a boa nova do Reino, e proclamassem a todos que a salvação está dentro e entre nós, que não é necessário mais esperar que venha o salvador, mas nós mesmos, à imitação dele, tornamo-nos salvadores.
A tentação maior que o ser humano pode sofrer é a dos discípulos que foram levados ao monte da ascensão e que viram Jesus subir ao céu: permanecer com os olhos fixos no céu, contemplando o mesmo Cristo que não está mais conosco, deixar-se tomar pela ilusão de que ele voltará em breve e que é melhor olhar para o céu procurando sinais de sua volta ao descer de novo no meio da humanidade, que partir anunciando, testemunhando e, de mangas arregaçadas, construir o novo sobre os alicerces deixados por Jesus. Mas o mesmo Deus enviou os seus anjos para dizer aos discípulos com os olhos fixos nos céus: Por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que foi elevado ao céu de vosso meio, voltará assim como o vistes subir para o céu. ( At 1,11)
É neste momento da história que Deus envia de novo os seus anjos e nos recorda que já passou o tempo de estar olhando para o céu; é necessário olhar também para a terra. Paulo apóstolo nos recordará: Olhai para o alto onde está a nossa esperança. Buscar no alto a verdadeira força para que sejamos capazes de modificar a terra. Estes dois movimentos olhar para a terra e olhar para o céu constituem o dinamismo de todo cristão.
Se olhamos demasiadamente para a terra e para as coisas daqui esquecemos os verdadeiros valores da nossa existência, a nossa vocação, o nosso ideal. Mas, ao mesmo tempo, se olhamos somente para o céu perdemos de vista que a terra nos foi dada para cuidar dela, para dela extrair o necessário para a vida, para o bem. É aqui e agora que fazemos nascer o reino de paz e de justiça. Não podemos perder de vista o reino que está chegando através da cooperação humana.
Por que estamos olhando para o céu, sem olhar para a terra? Provavelmente porque estamos cansados de lutar. A Igreja, porém, sabe que a esperança é a força que nos impulsiona a sair de nós mesmos, a pedir a Deus força, luzes e coragem, e depois voltar ao meio dos irmãos anunciando o novo e fazendo nascer, pelos nossos esforços, a nova sociedade.
Esta festa da subida ao céu de Jesus é muito bonita e questionadora. É necessário ler a ascensão para poder escutar a voz do mesmo Cristo que, subindo ao céu, deixa-nos aqui na terra para continuar a sua missão. Deus fez aliança conosco para que o mundo seja melhor. Nunca podemos duvidar que ele seja fiel à sua aliança, mas devemos sempre duvidar um pouco de que nós nem sempre somos fiéis à aliança feita com ele. Só a fidelidade será possível gerar algo de novo. Olhar para o céu e para a terra: eis o segredo.