No discurso escatológico de Jesus, sobre o fim dos tempos e o ‘Dia do Senhor’. Nesse discurso põe-se em realce a necessidade da vigilância, de estar preparados, porque não sabemos o dia nem a hora em que virá o Senhor. Mas destaca-se também a necessidade de perseverar.
No Evangelho de Lucas Jesus diz: ‘É pela vossa perseverança que mantereis vossas vidas‘ (Lc 21,19). No Evangelho de Mateus a expressão é esta: ‘Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo'(Mt 24, 13). Já no discurso missionário Jesus fizera a mesma afirmação, ao predizer as perseguições e conflitos a que estarão sujeitos os Apóstolos (Mt 10, 22). Dizia um provérbio latino: ‘Quem começou já fez metade do caminho’. Mas há o reverso da medalha: ‘Não é o que começa bem que merece o prêmio, mas o que termina bem’. É a necessidade da perseverança.
A perseverança é o fruto da fidelidade diária nas pequenas coisas, apoiada na humildade de recomeçar quando, por fragilidade, houver um desvio de rota. Perseverar é responder positivamente aos pequenos e constantes chamados que o Senhor nos faz ao longo da vida, apesar dos obstáculos e dificuldades que enfrentamos, dos pecados que cometemos e das derrotas que sofremos. Temos todos a dolorosa experiência dos que começam bem e vão afrouxando e desistindo; participam de encontros e cursos, começam com entusiasmo ou readquirem o fervor primitivo, mas dentro de pouco tempo ou, talvez, depois de muito caminhar, abandonam o antigo fervor e retomam o caminho largo que conduz à perdição.
São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, lembra que todos os hebreus estiveram debaixo da nuvem, todos passaram o mar, todos comeram o mesmo alimento celeste o maná e todos beberam da mesma água espiritual; e, não obstante, a maioria deles não agradou a Deus e foi abatida no deserto (1 Cor 10, 1-5). E acrescenta: ‘Esses fatos aconteceram para nos servir de exemplo’ (v.6). ‘Estas coisas lhes aconteceram para servir de exemplo e foram escritas para a nossa instrução’ (v.11). ‘Assim, pois, aquele que julga estar de pé tome cuidado para não cair’ (v.12)
A vida cristã é comparada por São Paulo a uma competição esportiva e a um pugilato (1 Cor 9, 24-27). Há sérias exigências de renúncia e de contínuo exercício de virtudes. O relaxamento, o descaso, o afrouxamento em cumprir essas exigências levará facilmente à tibieza e à infidelidade. E o segredo da perseverança nas coisas importantes é a fidelidade nas coisas pequenas: ‘Quem é fiel nas coisas mínimas é fiel também no muito, e quem é iníquo no mínimo é iníquo também no muito‘ (Lc 16,10).
A segunda carta de São Pedro tem um texto que faz pensar: ‘Ora, se depois de fugir das imundícies do mundo pelo conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de novo são seduzidos e se deixam vencer por elas, o seu último estado se tornará pior do que o primeiro. Assim, melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça do que, após tê-lo conhecido, desviarem-se do santo mandamento que lhes foi confiado. Cumpriu-se neles a verdade do provérbio: O cão voltou ao seu vômito, e: A porca tornou a revolver-se na lama’ (2 Pd 2,20-22).
Vida cristã é vida de conversão constante, um contínuo recomeçar, é luta que exige pertinácia e perseverança. O Concílio de Trento nos fala do ‘grande dom da perseverança final, que não pode ser obtido sem um especial auxílio de Deus. É um bom costume pedir todos os dias: Concedei-me, Senhor, por vossa bondade, a graça da perseverança final’.
Dom Frei Daniel Tomasella
Diocese de Marília – SP
Fonte: Jornal ‘No Meio de Nós’