Para se pensar

Onde se encontra a gênese do caos social: Nas atitudes isoladas de cada indivíduo ou em todo um sistema formativo, desprovido de valores éticos e morais?

Não podemos também deixar de estabelecer uma séria análise sobre a falha distribuição de renda e as injustiças sociais.

Quais as possibilidades que o Estado, executor da justiça, proporciona aos cidadãos das favelas em uma grande metrópole? Será que as crianças desse lugar têm o mínimo em saneamento básico, lazer, educação, cultura e, principalmente, em alimentação? Na maioria das cidades, a periferia fica esquecida, salvo é claro, no período eleitoral.

Se existissem mais investimentos na saúde, na educação, na criação de novos empregos e na construção civil, em todos os aspectos e níveis, oferecendo condições de vida mais dignas para os cidadãos, será que a marginalidade não diminuiria consideravelmente?

A pobreza e a negligência das autoridades são aspectos desta reflexão, porém, esta não se detém somente nesses tópicos, pois tais problemas também se fazem reais entre os indivíduos das classes média e alta, que têm melhores condições, nas quais, também, acontecem crimes e violência em escalas de impunidade ainda maiores.

Onde está a raiz de tudo isso?

É alarmante perceber que existe uma enorme lacuna na formação de nossos jovens e crianças. Quais são os valores e limites que a sociedade e as famílias (onde estas ainda existem…) têm apresentado aos nossos jovens e crianças?

Cada vez mais, a sociedade caminha ausente de valores éticos e morais, na qual as crianças recebem, ainda no berço, a idéia de que o importante é se dar bem na vida a qualquer preço.

As novelas, cada vez mais, nos ensinam que vale tudo em nome de uma suposta (e ilusória) felicidade, nas quais os critérios de verdade e valores passam a ser estabelecidos pelo que a maioria pensa e faz, e não pelo o que é correto e justo.

Não importa se a mãe rouba o namorado da filha (ou vice-versa…), se um homem beija outro na boca, se alguém é prejudicado, se se destrói uma família para se viver com uma mulher casada, nelas o que vale é a suposta e pseudo “felicidade”. Somos nós quem criamos nossos fantasmas…

Quando se educa uma criança sem lhe impor limites, – em que ela tudo pode e os pais não sabem ou não querem corrigi-las, e levados pelos meios de comunicação secularizados a matriculam, desde cedo, numa escola do materialismo exacerbado –, é muito difícil impedir que quando adulta, tal pessoa queira fazer “o que lhe der na telha”, mesmo que sua conduta esteja pautada na maldade e violência.

Liberdade demais não forma, mas, deforma.

Corrigir e educar também significa impor limites, dizer “não” também é uma maneira concreta de amar. Quem não tem limites, perde-se em si mesmo.

Liberdade não é sinônimo de “fazer o que se quer”, pois se assim o fosse, correríamos o grave risco de nos tornar escravos de nossos próprios instintos e imperfeições.

Analise as idéias de liberdade, que mais parecem de rebeldia, que os seriados da TV têm semeado em nossos adolescentes, nos quais o que importa é malhar e se tornar bonito, custe o que custar.

Quando se encontra em tais programas o fator religioso, ou valores sérios com relação à família, ou atitudes de uma verdadeira filantropia desinteressada, sem ar de superioridade ou pena?

Diante destas grandes e sérias lacunas na sociedade, devemos analisar as pessoas e suas atitudes com mais compreensão e, é claro, procurando eliminar os males pela raíz.

Não podemos condenar as pessoas por suas atitudes isoladas. Um indivíduo não é somente o que vemos, antes, ele é a somatização das experiências por ele vivenciadas e que, em partes, tornaram-se fatores condicionantes sobre sua conduta.

Frente a isso, qual será o remédio para o fim da violência? Será o investimento na pessoa humana, procurando eliminar suas lacunas formativas e existenciais, ou serão severas punições como a pena de morte?

Acredito que a reformulação e aplicação de valores, juntamente, com a promoção da igualdade social surtiriam mais efeito que a legalização do assassinato.
Não é se institucionalizando a violência que a venceremos, mas, sim, investindo-se na pessoa humana, na sua formação e, ensinado-lhe a valorizar o outro na sua singularidade, dando-lhe o sagrado que lhe cabe.

O que vence o ódio é o amor e não o “calibre”.
Para se pensar…