Do alto deste Penhasco, no septuagésimo aniversário da Estátua do Cristo Redentor, queremos enviar a toda a Cidade do Rio de Janeiro e a todo o Brasil, uma mensagem de paz. E queremos fazê-lo precisamente hoje quando se completa exatamente um mês em que, no dia 11 de setembro, dois aviões suicidas derrubaram as torres do World Trade Center de Nova York, símbolo do poder econômico; e um outro deixou em ruínas uma parte do Pentágono, paradigma do poder militar da nação materialmente mais poderosa, abalando também com isso a precária estabilidade de um mundo que já padecia de uma endêmica insegurança depressiva. Manifestamos o nosso desejo de paz precisamente hoje, dizíamos, porque almejamos que esta não se estenda apenas ao Rio e ao Brasil, mas também ao orbe inteiro, como uma ressonância daquela saudação de Cristo que sempre cumprimentava com a Paz: A paz seja convosco , dizia, a minha Paz vos deixo, a minha Paz vos dou.
Desejaríamos que a gigantesca figura do Cristo Redentor se tornasse agora, de alguma forma, viva e que pudéssemos sentir neste momento o que sentiria o seu coração amabilíssimo ao olhar afetuosamente a cidade do Rio com as suas pupilas dilatadas pelo amor. Quereríamos que através desse olhar pudéssemos introduzir-nos no fundo de tantos milhares de lares situados nos bairros mais humildes, nas favelas, nos prédios e condomínios de luxo, para pedir-lhe, em contato com realidades tão diversas, que Ele nos venha a ajudar a nivelar com a justiça e a caridade diferenças sociais tão gritantes. Porque só onde há justiça verdadeira poderá haver autêntica paz.
Aspiraríamos a que esse olhar repleto de amor impregnasse o ambiente todo da cidade para que viesse a ser removido qualquer tipo de violência e de opressão, e a serem superados todos os conflitos sociais e familiares, todas as manifestações de insegurança e de medo, a fim de que esta cidade maravilhosa se converta num verdadeiro remanso de paz e de alegria, em concordância com a inigualável harmonia em que se integra o mar, as montanhas e as florestas nesta cidade insuperável pela sua beleza.
Pediríamos a esse seu Coração repleto de paz que, em ondas sucessivas cada vez mais amplas, consiga chegar aonde neste momento há destruição e morte, para que esse confronto bélico não venha a transformar-se numa espiral de violência, numa escalada de represálias mútuas sem término nem fim. Pedimos ao Senhor que com os escombros do World Trade Center venha a construir-se, não já uma segunda Torre de Babel, mas outra de solidariedade e de paz que vincule o norte e o sul, o oriente e o ocidente, os muçulmanos, os cristãos e os israelitas, naquela unidade por Ti tão desejada quando imploravas a Deus: Pai, que todos os homens sejam um como Tu e Eu somos um.
Te pedimos, com palavra de João Paulo II, para que os responsáveis pelas nações não se deixem dominar pelo ódio e pelo espírito de retaliação e façam tudo o possível para evitar que as armas de destruição semeiem novo ódio e nova morte e se esforcem para iluminar a escuridão das vicissitudes humanas com obras de paz (Audiência geral na Praça São Pedro 12-09-01).
Enfim, solicitamos que todo o espírito de concórdia, de paz e de compreensão, comecem a dar os seus frutos, antes de mais nada, dentro de cada um de nós de tal maneira que venhamos a nos tornar autênticos portadores e semeadores de paz e de alegria.
Com estes sentimentos queremos agora abrir os braços, como o Cristo do Corcovado, para abraçar a todos: aos pobres e aos ricos, aos sãos e aos doentes, às crianças, aos jovens e aos velhos, aos sem terra e aos sem teto, aos sem fé e sem esperança, e depois traçar o sinal da cruz, para abençoar com a bênção da Tua paz inigualável, esta cidade maravilhosa que estará sempre confiada as tuas afetuosas e soberanas solicitudes.
Dom Rafael Llano Cifuentes
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2001.