Dar um lugar prioritário à espiritualidade significa partir da descoberta centralidade da celebração eucarística, âmbito privilegiado para o encontro com o Senhor. Nesta, faz-se Ele novamente presente em meio aos seus discípulos, explica as Escrituras, abrasa o coração e ilumina a mente, abre os olhos e se faz reconhecer (cfr. Lc 24, 13-35). O convite de João Paulo II dirigido aos consagrados é particularmente vibrante: «Encontrai-o, caríssimos, e contemplai-o de um modo todo especial na Eucaristia, celebrada e adorada todos os dias, como fonte e cume da existência e da ação apostólica». Na Exortação Apostólica Vita consecrata, ele já chamava a uma participação cotidiana no Sacramento da Eucaristia e à sua adoração assídua e prolongada. A Eucaristia, memorial do sacrifício do Senhor, coração da vida da Igreja e de cada comunidade, plasma interiormente a oblação renovada da própria existência, o projeto de vida comunitária e a missão apostólica. Todos precisamos do viático cotidiano do encontro com o Senhor para inserir o dia-a-dia no tempo de Deus, que a celebração do memorial da Páscoa do Senhor torna presente.
Podem-se aqui realizar plenamente a intimidade com Cristo, a identificação com Ele e a total conformação com Ele às quais os consagrados são chamados por vocação. Na Eucaristia, com efeito, o Senhor Jesus nos associa a si na própria oferta pascal ao Pai: oferecemos e somos oferecidos. A mesma consagração religiosa assume uma estrutura eucarística: é uma oblação total de si, estritamente associada ao sacrifício eucarístico.
Concentram-se na Eucaristia todas as formas de oração, proclama-se e é acolhida a Palavra de Deus, somos interpelados a respeito de nossa relação com Deus, com os irmãos e com todos os homens: é o sacramento da filiação, da fraternidade e da missão. Sacramento da unidade com Cristo, a Eucaristia é contemporaneamente sacramento da unidade eclesial e da unidade da comunidade dos consagrados. Em suma, ela se revela como «fonte da espiritualidade do indivíduo e do Instituto».
Para que ela produza em plenitude os esperados frutos de comunhão e de renovação, não podem faltar as condições essenciais, sobretudo o perdão recíproco e o compromisso do amor recíproco. Segundo o ensinamento do Senhor, antes de se apresentar a oferta ao altar, exige-se a plena reconciliação fraterna (cfr. Mt 5, 23). Não se pode celebrar o sacramento da unidade permanecendo reciprocamente indiferentes. Tenha-se presente, outrossim, que tais condições essenciais são também fruto e sinal de uma Eucaristia bem celebrada. Pois é principalmente na comunhão com Jesus eucaristia que nós conseguimos a capacidade de amar e de perdoar. Além do mais, cada celebração se deve tornar ocasião para renovar o compromisso de dar a vida, uns pelos outros, na acolhida e no serviço. Então para a celebração eucarística valerá verdadeiramente, de um modo eminente, a promessa de Cristo: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles» (Mt 18, 20) e, ao redor dela, a comunidade renovar-se-á a cada dia.
Cumpridas estas condições, a comunidade dos consagrados que vive o mistério pascal, diariamente renovado na Eucaristia, torna-se testemunha de comunhão e sinal profético de fraternidade para uma sociedade dividida e ferida. Da Eucaristia nasce, com efeito, aquela espiritualidade de comunhão tão necessária para estabelecer o diálogo da caridade de que o mundo de hoje carece.
Papa João Paulo II, da Instrução Partir de Cristo, de 14 de junho de 2002