Porque Jesus foi conduzido ao deserto pelo próprio Espírito Santo para ser provado, tentado pelo diabo? Para que ele pudesse se fortalecer, se preparar para sua missão, e dar início a sua vida pública.
Mas porque Jesus, sendo Deus, precisava se fortalecer? Porque, quando Jesus veio até nós na forma humana, assumiu diante desta natureza todas as limitações e fraquezas que a ela competem. Mas mesmo com uma natureza humana, e portanto, pecadora, Jesus não pecou, e também, nunca deixou de ser Deus, ou seja, não perdeu sua natureza Divina, pois o que fez foi unir as duas naturezas, a Divina e a pecadora em uma só, para nos mostrar que, unidos a Deus, é possível evitar o pecado como ele o evitou. Em outras palavras, viver o PHN.
O que fica bem claro nesta passagem do Evangelho é que Jesus foi preparar-se para sua missão evangelizadora. A nossa missão não é diferente da missão de Jesus, pois nós, os batizados, somos chamados a ser missionários e levar a Boa Nova a todos (evangelizar). A maior prova de que Deus nos chama a uma missão desde o nosso batismo é que Jesus, sendo batizado por João Batista, deu início a sua missão, que é a de evangelizar todas as pessoas.
Também precisamos nos preparar, nos fortalecer para exercer bem nossa missão. E Deus, por vezes diversas, tem nos conduzido a estes momentos de deserto, ou dificuldades para que possamos crescer. Mas será que temos acolhido estes momentos? Ou ficamos reclamando da vida, murmurando, e até jogando a culpa em Deus como fez o povo do Egito enquanto estava no deserto. Sabemos que estar num deserto não é fácil, a começar pelo clima que durante o dia é muito quente, e de noite a temperatura cai bruscamente podendo até ser negativa. Nossa vida também possui esta variação, ora estamos frios, ora quentes, e isto acontece por não decidirmos o que queremos; buscamos até o meio-termo, sendo que esta, a do meio-termo, não existe para Deus. É necessário, diante de nossa missão, optarmos pelo bem, pelo quente que é proporcionado pelo fogo do amor de Deus por nós e em nós.
O deserto é lugar seco, árido, sem vida, e isolado de tudo. Nossa vida em muitos momentos encontra-se nestas condições.
Seca, por estar faltando a água viva do Espírito Santo, e isso acontece porque nos esquecemos do que Jesus disse: ‘Quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede‘ (Jo 4, 14).
Árida, por não sentirmos Deus em nosso momento de intimidade com ele. Nos esquecemos que a nossa fé não é amparada por sentimentos. Muitos dos santos, por exemplo, viveram estes momentos fortes, e até longos, de aridez espiritual. Jesus nos mostra claramente nesta passagem do Evangelho que podemos transcender nossas dificuldades se estivermos apoiados nele e em sua palavra, pois foi pela palavra de Deus que Jesus venceu o maligno no deserto, e esta vitória já está proclamada por ele, como narra São João. ‘Eu vos escrevi, jovens: sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós, e vencestes o maligno‘ (1 Jo 2, 14).
O mundo tem nos acostumado muito mal com todas as facilidades geradas, principalmente pelo avanço tecnológico, fazendo com que, cada vez, nos tornemos fracos diante das dificuldades e dos sofrimentos.
Sem vida, porque muitas pessoas estão morrendo e sendo mortas para Deus, pois ainda não tiveram um encontro pessoal com o autor da vida, que é Deus. O Criador facilmente se deixa encontrar, e só não o encontram, os que o procuram em lugares errados, e às vezes, em locais tão distantes, que se esqueceram de que ele se encontra dentro de nós, fazendo morada em nosso coração.
Isolado de tudo, porque, infelizmente, diante das dificuldades, nós fugimos, e nos isolamos de tudo e de todos, pois nos esquecemos o que afirmou Jesus: onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei presente (cf. passagem). Muitas vezes, nos sentimos sozinhos e abandonados por Deus no deserto da vida, porque nos esquecemos que ele nos deixou uma promessa: ‘Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos‘ (Mt 28, 20).
Conclui-se, portanto, que quando nos encontrarmos nesta situação de deserto, é bom lembrar que Deus está oferecendo a nós a sua graça, dando-nos a oportunidade de caminhar sozinhos, para nosso crescimento e amadurecimento e para que possamos aprender diante das adversidades a compreender sua presença, assim como um pai que, a ensinar o filho a pedalar uma bicicleta, por muitas vezes, acaba por soltar a mão, para que o filho caminhe sozinho.