Vivemos num tempo de incertezas, sobretudo quanto ao modo de educar os filhos: devemos educá-los segundo valores e princípios morais ou devemos omitir qualquer orientação e deixar-lhes a responsabilidade de serem eles, mais tarde, a fazer as suas opções?
Vivemos também num tempo de mudanças. A promoção da mulher e o reconhecimento do seu papel na vida laboral e social, fez emergir o papel do homem na comunidade familiar, quer no envolvimento nas tarefas domésticas, quer na educação dos filhos, a partir dos cuidados pós-natais. No entanto, em alguns ambientes permanecem ainda traços de machismo que provocam conflitos e divisões em muitas famílias.
Vivemos, apesar de tudo, num tempo aberto à esperança. A esperança vem, em última análise, de Deus que vela por todos nós e permanentemente nos dirige palavras e energias de salvação; mas passa também e muito fortemente pela vitalidade e beleza da vida familiar, especialmente pela redescoberta do papel do pai na comunidade doméstica. Por isso, confiada e insistentemente, dirigimos a todos os pais um apelo para que participem ativamente na educação dos filhos, especialmente na educação da afetividade.
Esta participação consiste, em primeiro lugar, numa aposta segura no amor conjugal. Assim, os filhos, desde o início da sua existência, poderão ver-se envolvidos nos laços da conjugalidade feliz e estável e aí crescer e aprender a viver os valores do amor, da verdade e da fidelidade. Sabemos como é importante para o pleno desenvolvimento e felicidade de qualquer pessoa a experiência de se sentir protegida pelos laços da relação amorosa dos pais.
O pai não deve desvalorizar muito menos reprimir as manifestações afetivas, mas introduzir um justo equilíbrio entre os afetos e as regras, a ternura e a disciplina de vida. Situar-se-á, certamente, neste campo a sua missão específica na educação dos filhos.
O modelo da paternidade humana é Deus Pai, em cujo Amor todos os pais e mães encontram os traços mais sugestivos e profundos do significado da sua missão paterna e materna. S. José é como que um espelho dessa paternidade, pois lhe foi confiado o cuidado com o Redentor, Jesus Cristo, Filho de Deus, e porque soube exercer com especial sabedoria a sua missão.
Fortalecidos pela paternidade divina, inspirados na personalidade e no modo de S. José desempenhar a sua missão de guarda do Redentor, os pais de hoje saberão reconhecer, maravilhados e agradecidos, o dom dos seus filhos, cuja guarda, proteção e educação Deus lhes confiou.
Com as suas esposas, os pais constituirão as famílias em que a paternidade tal como a maternidade seja a expressão corajosa e feliz da fecundidade conjugal que se inspira na paternidade de Deus, para que, no meio das mudanças, e apesar de todos os receios, se edifique com solidez a civilização do amor.
A Comissão Episcopal da Família
Portugal, Março 2002