Completo agora seis meses vivendo em Roma. Pude acompanhar, passo a passo, o início do pontificado do Papa Bento 16 ou, como dizem aqui, Benedetto! Não é fácil substituir o grande João Paulo II, a quem o povo já proclamou santo e o mundo inteiro reconhece como sábio. A situação lembra um pouco o final do pontificado de Pio 12, na década de 1950, quando foi eleito um papa já idoso, apenas para fazer a transição: João 23! O velho papa supreendeu convocando o Concílio Vaticano II que fez a Igreja rezar de frente para as pessoas e na língua dos povos. Uma senhora muito simples deu o seguinte testemunho: “Finalmente Deus aprendeu a nossa língua”.
Benedetto foi eleito com uma certa idade. Certamente não era o mais simpático dos cardeais do conclave. Para nós, da América Latina, ele era o símbolo das restrições feitas à Teologia da Libertação. Ocupou durante anos a função de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que deve preservar a ortodoxia da moral e da doutrina. Mas para os pobres e trabalhadores dos arredores do Vaticano ele era simplesmente o bispo Ratzinger, que parava para tomar um cafezinho e falava com simplicidade, sempre sorrindo e um pouco tímido. Fazia isso com simplicidade e autenticidade. É difícil não admirá-lo depois de 10 minutos de conversa. Não se parece em nada com aquela imagem de intelectual distante e austero que a mídia conseguiu produzir e que alguns teólogos teimam em reproduzir.
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Bento 16 não se preocupa com as fórmulas do marketing, que ensinam como fazer sucesso e vender um produto. Seu norte é a Verdade com a Caridade. A cada 10 palavras ele supreende, não pela maneira como as diz, mas pelo conteúdo de seus discursos. Fala ao mundo, aos governantes, aos intelectuais e todo o povo entende suas palavras. Escreve livros que são citados e utilizados nos ambientes acadêmicos. Tem um conhecimento que poucos conseguem acumular na vida. Dedicou-se diariamente aos estudos. Sabe ensinar. Foi professor de Teologia. Conhece a história.
Suas palavras têm uma coerência de quem sabe o que disse, o que está dizendo e o que ainda vai dizer. Repete constantemente que os perigos à paz são o relativismo (nihilismo), o fundamentalismo e o terrorismo. Chama a ONU à responsabilidade de produzir unidade diplomática no mundo. Escolheu como lema para essa 39ª Jornada Mundial pela Paz: “Na verdade, a paz!” Anuncia claramente que a salvação vem por meio de Jesus Cristo. Mas ao mesmo tempo consegue uma aproximação incrível de outras religiões, como, por exemplo, do judaísmo. Realmente, sabe fazer amigos sem abandonar a verdade, a autenticidade.
É bom superar os preconceitos em relação àquele Cardeal que conhecemos pelo nome de Ratzinger e abrir os ouvidos para o que o Espírito diz às Igrejas por meio do Papa Bento. Existe qualquer coisa de novo acontecendo e precisamos discernir os sinais dos tempos. Nossa barca não está à deriva. O comandante é discreto e tímido, mas conhece o caminho dos mares. Habemus papam!