Jesus, ao decidir escolher seus doze Apóstolos, aos quais o Evangelho por vezes chama simplesmente os Doze, realizou um ato fundante da sua Igreja. A fundação da Igreja deu-se através de diversos eventos fundantes, realizados por Jesus durante a sua vida, culminando com os eventos da sua Morte e Ressurreição e com a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos.
O número doze reporta, sem dúvida, às doze tribos de Israel, que estão na base da constituição do antigo Povo de Deus, com o qual Deus fez aliança no Sinai. Como as doze tribos constituíram o antigo Povo de Deus, assim os doze Apóstolos foram constituídos por Cristo como base do novo Povo de Deus, a Igreja. Os Doze foram escolhidos e preparados pelo próprio Cristo para que, unidos a Ele, pedra fundamental do novo Povo de Deus, fossem também pedras de fundação da Igreja, a nova Jerusalém, como se descreve no Apocalipse: Sobre as portas (da Jerusalém celeste e messiânica) há doze Anjos e nomes inscritos, os nomes das doze tribos de Israel (…). A muralha da cidade tem doze alicerces, sobre os quais estão os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro (Ap 21, 12-14).
Por isso, o Catecismo da Igreja Católica ensina: A Igreja é apostólica por ser fundada sobre os Apóstolos, e isto em um tríplice sentido: a) ela foi e continua sendo construída sobre o fundamento dos Apóstolos (Ef 2,20), testemunhas escolhidas e enviadas em missão pelo próprio Cristo; b) ela conserva e transmite, com a ajuda do Espírito que nela habita, o ensinamento, o depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos Apóstolos; c) ela continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos Apóstolos, até a volta de Cristo, graças aos que a eles sucedem na missão pastoral, ou seja, o colégio dos Bispos, assistido pelos presbíteros, em união com o sucessor de Pedro, pastor supremo da Igreja(n. 857).
O Evangelho, deste Domingo (16/06), nos fala justamente da escolha dos doze Apóstolos por Jesus. Ele começa dizendo que Jesus vendo as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor (Mt 9,36). Jesus veio ao mundo para salvar em definitivo a humanidade que Deus havia criado com tanto amor e que estava perdida, longe de Deus, como ovelhas sem pastor, desde que o pecado entrou no mundo. Jesus é a própria manifestação da compaixão de Deus por nós. Deus se compadece de nós, porque sozinhos não teríamos como nos salvar. Deus nunca deixou de nos amar. A cada um de nós. E se dispôs a fazer tudo para nos salvar. Acabou enviando seu próprio filho, Jesus, o qual aceitou morrer por nós e assim nos resgatar da perdição. Deus é compassivo e Deus é todo-poderoso. Essas duas qualidades juntas puderam nos salvar.
A Antiga Aliança de Deus com o povo de Israel não foi suficiente para salvar a humanidade, mas era o prenúncio da aliança definitiva, que se daria por e em Jesus. Essa nova e definitiva aliança, que se constituiu no sangue dele, é constitutiva da Igreja, que Ele fundou e da qual Ele é a pedra angular. Mas, associando a si os doze Apóstolos, fez também deles o fundamento deste novo Povo de Deus, assim como no Antigo Testamento Deus escolheu as doze tribos para serem o fundamento constitutivo do povo de Israel, o povo eleito.
Esses doze Apóstolos deveriam ser antes de mais nada as testemunhas de Jesus, de toda a sua vida, palavras e ações, mas acima de tudo testemunhas de sua ressurreição. Enviou-os o próprio Jesus Cristo a pregar ao mundo inteiro o Evangelho da sua morte e ressurreição e de seu Reino, para assim tornar todas as nações discípulos seus. Baseada neste testemunho dos Doze, a Igreja continua ainda hoje e continuará até o fim dos tempos, a ser evangelizadora e missionária, com coragem e amor.
Dom Cláudio Cardeal Hummes
Arcebispo de São Paulo