A data de hoje tem um significado histórico, lembrando a presença organizada dos leigos na Ação Católica. A proposta foi apresentada há 10 anos pelo Conselho Nacional de Leigos e Leigas Católicos do Brasil (CNL) e gradualmente vai se firmando nas comunidades como momento forte de reflexão sobre a identidade, vocação e missão dos leigos na Igreja e na sociedade, nesse novo milênio.
Os dois mil anos do cristianismo trazem consigo uma história de luzes e sombras, também abrangendo os leigos. Eles foram a massa passiva, subserviente e acrítica. Reforçaram a clericalização da missão e projetaram uma Igreja que os atendia como freguesia. Mas, também, muitos batizados, homens e mulheres, foram autênticas testemunhas de Jesus, assumindo na totalidade de suas vidas as exigências do Reino. Protagonizaram a inculturação do Evangelho e colaboraram decisivamente para que a Igreja fosse o fermento da transformação do mundo.
Nós, cristãos leigos mas também as demais vocações e ministérios , somos herdeiros desse passado, cheio de ambivalência, mas sempre pulsando vida e esperança. Essa coincidência histórica tem possibilitado, no presente, uma reflexão do conjunto da Igreja e permitido o recolocar-se e resignificar-se dos próprios leigos. Cresce a afirmação da própria identidade e da sua participação na comunhão; aprofunda-se o dom batismal; acentua-se a pertença eclesial e a co-responsabilidade pelos demais ministérios; vive-se uma espiritualidade mais intensa, própria e peculiar; testemunha-se com generosidade a exigência de novos serviços e ministérios; assume-se de modo consequente a missão, com profetismo e martírio; amadurece a prática da articulação de um organismo próprio; experimenta-se, enfim, um renovado e alegre sentir-se Igreja no mundo.
O olhar para o futuro será muito daquilo que foi construído no passado e no presente, entrelaçado, infundido e fecundado com o sopro do Espírito. Por isso, creio que a Igreja de amanhã terá criativas possibilidades para viver intensamente a comunhão. Nela crescerá a autonomia relacional; os ministérios se redefinirão dialogicamente; os leigos serão decisiva presença missionária e todos os cristãos saberão responder mais adequadamente aos desafios de um tempo com diversa configuração de época. Talvez, superem os intimismos e os espiritualismos, revigorem o profetismo e o martírio, desinstalem-se pseudo-seguranças institucionais, solidarizem-se efetivamente com os empobrecidos e excluídos. Enfim, creio que os leigos, também coletivamente, firmem-se como conferência, articulem-se nas bases e estabeleçam laços de mútua ajuda entre países e continentes.
Que tudo isso seja autêntico sinal do Reino e testemunho histórico de seguimento a Jesus Cristo.
Wolmir Therezio Amado
Presidente do Conselho Nacional de
Leigos e Leigas Católicos do Brasil