Uma das características do homem e da mulher de todos os tempos é sua fome. E essa fome se manifesta de muitos modos: fome de alimento e de bens essenciais à vida; fome de justiça e de liberdade; fome de amor e de esperança. Não foi isso que vivenciou a multidão que, dois mil anos atrás, havia seguido a Jesus? Homens e mulheres, jovens e crianças, famintos, estavam perto do lago da Galiléia. Tinham fome de sua palavra, e a escutavam com tanta alegria que não viram o tempo passar. Estavam famintos de pão, e não havia condições de serem saciados, num lugar como aquele, tão distante da cidade. Jesus, então, fez o milagre da multiplicação do pão e se apresentou como o pão vivo que desceu do céu e dá vida ao mundo. A multidão não se conteve e lhe pediu: Senhor, dá-nos sempre deste pão! (Jo 6,34).
Não temos nesta terra morada permanente. Somos caminheiros. E como nos cansamos ao longo de nossas estradas! Temos decepções com alguns; surpresas com nossos próprios defeitos; vivenciamos acontecimentos alegres; outros, marcados pela dor… E nos perguntamos: Vale a pena caminhar? Tem sentido continuar nossos passos? Jesus nos responde: Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei (Mt 11,28). Convida-nos a nos sentarmos à sua mesa. Sabe qual o poder que tem o seu pão. Quer que recuperemos a força para continuarmos o caminho, rumo à comunhão definitiva com Deus.
Nossa fé afirma e reafirma que Jesus é a única resposta à nossa fome fome de um sentido para vida, fome de um sentido para nosso futuro. Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. O que come deste pão viverá eternamente(Jo 6,54.58). Especialmente nos momentos em que o sofrimento nos atacar, e que não tivermos resposta para as perguntas que se multiplicarem em nosso coração, precisaremos nos lembrar das palavras de Jesus: Tomai e comei. Jesus está dizendo que na Eucaristia encontraremos não só a comida que nos alimenta, mas também o sacramento que nos renova. O que vem a mim jamais terá fome e o que acredita em mim jamais terá sede (Jo 6, 34-35). A Eucaristia é a força dos fracos, o vigor dos doentes, o remédio de nossas feridas, o alimento dos que partem para a última viagem. Para quantos irmãos nossos, que viveram perseguidos em países e regimes que proibiam a fé, a Eucaristia foi o alimento mais desejado?
Senhor, dá-nos sempre deste pão! Mas, que conseqüências tem esse alimento para nossa vida? Comungando com Cristo, aprendemos dele que não há construção de seu reino sem o perdão. Nossa salvação começou com o perdão do Pai. Nada construiremos se não tivermos a pré-disposição do perdão permanente. O autor da Carta aos Hebreus afirma que o sangue de Cristo purificará nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo (Hb 9,14). Servir o Deus vivo é uma graça e um privilégio. Trata-se de colocar a vontade de Deus em primeiro lugar, como Cristo o fez. Há atitude mais lógica ou mais importante para uma criatura?
Comungar é, como Cristo, morrer pelos outros. É dar nossa vida dia-a-dia pelos irmãos. Se a semente que cai em terra não morre, não produz a vida. Nosso Senhor e Mestre nos ensinou que viver é servir. E como a humanidade tem necessidade de pessoas com o espírito de serviço!
Convidando os apóstolos a participar da Eucaristia, Cristo os envolveu com seu projeto. O Mestre que os convidou a sentarem-se à mesa, convidou-os também a irem para fora, para a escuridão da noite, onde começaria uma longa Via-Sacra. A Eucaristia é sempre o ponto de partida para o imprevisível. Ela nos ensina que será solidário com os homens quem antes foi solidário com Cristo.
Senhor, dá-nos sempre deste pão! Que a atualização desse pedido desperte em nosso coração o desejo de acolher Cristo Eucarístico, que está à porta do coração de cada um; ele bate calma e insistentemente, e espera de todos uma resposta de amor.