Como moldar as paixões para a glória de Deus
Segundo São Tomás, as paixões humanas tratam de tudo aquilo que sentimos, desde as emoções, inclinações, tendências afetivas e sentimentos propriamente ditos. A inclinação é aquilo que está dentro de nós, inerente, faz parte do que somos. Já a tendência é a inclinação em funcionamento.
As tendências se manifestam em sentimentos; e tanto elas quanto os sentimentos, chamam-se paixões, impulsos afetivos. Quem molda as paixões são os nossos hábitos, aquilo que realizamos todos os dias, que podem ser hábitos bons, virtudes ou hábitos maus, vícios.
Você já percebeu então que as paixões não são ruins, somos nós que as educamos para uma boa obra ou para o contrário.

Foto ilustrativa: Bruno Maques/cancaonova.com
O ser humano, quando pensado por Deus, trouxe em si essas atribuições que, de forma especial, nos distanciam das outras criaturas e nos aproximam do Criador. Somos seres com desejos, sentimentos, forças interiores que precisam estar em pleno equilíbrio para não nos conduzir ao precipício.
Santo Agostinho nos trouxe um belo caminho para ordenarmos o nosso interior, as nossas paixões e os nossos sentimentos. Ele chamou de Ordo Amoris, ou “a ordem do amor”. Agostinho nos dizia que “o amor é o nosso peso”, ou seja, somos puxados, atraídos por aquilo que amamos. E que amor colocaria tudo em ordem, senão o amor de Deus! Quando nós Lhe amamos acima de todas as coisas, tudo vai se ordenando dentro de nós.
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Neste ano que se inicia, eu pergunto: onde está o nosso tesouro? Porque, onde ele estiver, ali também estará o nosso coração. E, nessa direção, você colocará todas as suas forças, será arrastado mesmo que você não queira.
Temos uma geração emocionalmente fragilizada. As pessoas estão sendo reféns de seus sentimentos, agitadas pelos ventos, pelas intempéries de uma afetividade completamente desequilibrada, fruto não só de más escolhas, mas consequência de traumas, feridas, rejeições e abandonos.
Padre Jonas já nos dizia que queríamos ser amados, mas não foi isso que recebemos, portanto, os frutos são os traumas.
Para vivermos esse ordenamento que Santo Agostinho nos ensina, que devolve a paz e a tranquilidade de uma vida que amamos e valorizamos, cada coisa exatamente na proporção certa, eu lhe apresento três aliados: o autoconhecimento, a cura interior e a prática das virtudes. Uma vida ordenada é uma vida virtuosa.
O caminho da cura interior e do autoconhecimento
O autoconhecimento e a cura interior são buscas pessoais, auxiliadas pela graça de Deus. E para que cresçamos e avancemos nelas, precisaremos viver a cura dos traumas da nossa história, amar e olhar com os olhos do Pai tudo que vivemos, desde as coisas boas às coisas ruins, identificando aquilo que precisamos trabalhar hoje.
Algumas dicas práticas:
. Buscar a Eucaristia comungada e adorada, pedindo essa graça;
. Escrever a história da nossa vida;
. Confessar mensalmente;
. Ter um diretor espiritual;
. Buscar uma pessoa que possa rezar por nós;
. Fazer terapia com um bom terapeuta, de preferência aqueles que usam a abordagem da logoterapia;
. Buscar livros que falem sobre cura interior;
. Por fim, um atalho: lançar-se nos braços da Virgem Maria.
Também nos ensinou Padre Jonas que aquilo que não conseguimos falar para ninguém da nossa história, das nossas feridas, falemos para Nossa Senhora, façamos essa experiência e colheremos grandes frutos.
Trilhando esse caminho de cura interior, esse ordo amoris, poderemos buscar exatamente virtudes que, hoje, nos são necessárias e que educarão nossas paixões.
Falo aqui sobre virtudes humanas, aquelas que alcançaremos com esforço diário. Existem muitas, mas deixo aqui as cardeais, que são os eixos que puxam todas as outras: Prudência, fortaleza, temperança e justiça.
Caminhemos neste tempo novo com esses amigos: o autoconhecimento, a cura interior e a prática das virtudes. Assim, conseguiremos trilhar um caminho completamente novo em busca do homem e da mulher nova que está em nós.
Feliz Ano Novo
Feliz tempo novo!
Meiriane Silva Faria
Missionária da Comunidade Canção Nova.






