4. Este rosto novo da virgindade tem a ver com o tempo novo, início de uma nova criação, inaugurados em Jesus Cristo. O ser, a existência e a missão de Jesus, são profundamente virginais. O seu Ser virginal brota do mistério da união hipotática, em que a sua divindade se une radicalmente à humanidade. Na sua própria Pessoa e mistério concretizam-se as anunciadas núpcias entre Deus e a humanidade, inaugurando o tempo definitivo da criação. A sua permanente participação na comunhão de amor trinitário, unifica todas as concretizações do Seu amor nesse amor divino. A Sua virgindade é um coração indiviso, porque unificado em Deus. Todo o Seu amor pelos homens é virginal, porque amando-os, os reconduz ao único amor da Sua vida, Deus. O Seu amor pela Igreja é esponsal, porque virginal.
Jesus explica esta sua experiência, difícil de perceber no contexto judaico, com o mistério do Reino. Aos discípulos, que mostram dificuldade em aceitar as exigências do matrimónio na lógica do Reino, Jesus responde: há quem não case por causa do Reino dos Céus. Tendo consciência de que esta é uma linguagem nova, acrescenta: quem puder entender que entenda (cf. Mt. 19, 10-12).
A radicalidade do Seu amor ao Pai, no Espírito Santo, é unificadora de todo o Seu amor redentor, tudo é reconduzido a esse acto fontal de amor e exprime-se na radicalidade de serviço do Reino que comunica aos discípulos. Esse amor exclusivo tudo exige, tudo possibilita e Jesus sabe que essa exigência incluirá a Sua morte na Cruz: Se alguém vem a Mim, sem se desprender de seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não tomar a sua cruz e Me seguir, não pode ser meu discípulo (Lc. 14, 26-27).
Mas Jesus sabe que esta radicalidade do Reino, nEle já presente, seria uma realidade do tempo definitivo, que pode já ser partilhada pelos discípulos que aceitam segui-Lo nessa radicalidade, na esperança da plenitude escatológica, em que as maneiras de amar do tempo presente passarão, dando lugar ao amor definitivo, a forma de amar daqueles que participaram na Sua ressurreição: Os filhos deste mundo tomam mulher ou marido. Mas aqueles que forem julgados dignos de tomar parte no outro mundo e na ressurreição dos mortos, não tomam mulher nem marido; aliás nem sequer podem, porque são semelhantes aos anjos, e são filhos de Deus porque são filhos da ressurreição (Lc. 20, 34-36).
Seguir Jesus no seu amor virginal é possível porque já participamos na Sua ressurreição e, por Ele, participamos no amor de Deus. A atracção do definitivo, em termos de amor, pode acontecer num coração humano recriado pelo Espírito Santo, aceitando toda a exigência de viver nas realidades do mundo presente, uma forma de amar que só será plena no Céu.