Até quando?, é a pergunta que milhões de brasileiros se fazem diante do quadro de guerra não declarada que abala todo o nosso Brasil. De norte a sul, de leste a oeste; nos grandes centros urbanos e nas pequenas cidades do interior; nas camadas pobres e nas mais abastadas; atingindo crianças, jovens e adultos. Que fim levou aquele povo calmo e ordeiro, amante da paz, que é acusado de ser até submisso demais, não participativo e não defensor de seus direitos? Quem serão os culpados por tal descalabro e desventura? E Deus, que dizemos ser brasileiro, por que razão se mantém calado e sem ação?
Mas não é verdade que, se refletirmos bem, somos todos um pouco ou muito culpados? Quem se interessa por Deus, atualmente, pelo menos na vida pública? Não está Ele excluído de nossos programas de televisão, de nossas novelas, e dos outros meios de comunicação social? Na ‘bolsa de valores’ do que conta na vida, a Igreja não é criticada por defender a vida diante do assassinato dos inocentes, mediante o aborto? Ou ainda a eutanásia? Não é chamada de atrasada por defender o matrimônio estável entre um homem e uma mulher, condenando o chamado ‘casamento’ entre duas pessoas do mesmo sexo? Não se opõe ao sexo fora da união conjugal, contra o Estado que lamenta a epidemia de Aids, mas distribui milhões de preservativos, gratuitamente, pagos com o dinheiro do povo?
E o que dizer da corrupção, do tráfico de influência, do apadrinhamento, de crimes ditos de ‘colarinho branco’, da impunidade, que campeia em todos os escalões, em nível federal, estadual e municipal? Dos políticos sem vocação para a defesa do bem comum, que fazem da profissão um meio de enriquecimento pessoal e familiar, mesmo que para isso sofram o pesado tributo da desonra moral?
É preciso falar ainda da vergonha nacional e mundial que sentimos por ver o Brasil entre as nações que possuem das piores distribuições de renda? E o que dizer das falhas ainda existentes na educação, que não beneficia os realmente mais necessitados? E o atendimento à saúde, inclusive para a classe média, que faz grandes despesas mensais com planos, com medo de ter que ficar na dependência da ‘assistência’ ou não, dada pelo governo?
E a ladainha poderia continuar nos planos sócio-econômico-político e religioso. Sabemos que para problemas complexos são necessárias soluções complexas. Não basta atacar um ponto apenas. Tudo dependerá dos governantes, mas também do povo que, aliás, elege seus governantes, bons ou maus. Dependerá dos pais, que educam ou não os filhos com valores humanos e religiosos. Dos professores. Das autoridades religiosas, através da palavra e dos exemplos, sem fazer de Deus e da crença um balcão de compra e venda de ascensão na vida e de ‘milagres’, mediante o pagamento do dízimo.
Um dos gritantes problemas, talvez mais um sintoma do que a própria doença, ou seja, um dos efeitos não porém a causa mais profunda, é a violência. Incrível como o Rio, a Cidade Maravilhosa, se tornou palco de combates só comparados aos que se travam nas linhas de frente de nações conflagradas em guerra. Como se pode dormir ao som de rajadas de metralhadoras? Quem sai às ruas, quer em ônibus, a pé ou em carro, que não viva sobressaltado? E os que não saem, quem não se tranca a sete chaves, com medo de assalto?
É tempo de se dizer um basta! Para começar, é necessário equacionar, enquanto possível, o problema da segurança dos cidadãos. E tal obrigação recai, em primeira instância, sobre as autoridades civis e militares, federais, estaduais e municipais. O povo anseia pela ordem social.
E, aliás, não é este o lema de nossa bandeira? Sem Ordem não pode haver Progresso. E Deus nos ampare nesta luta, pois, sem Ele, nada poderemos fazer! Cristo que condenou a violência nos ajude a procurar os valores da justiça da fraternidade e da paz.
+Dom Carlos Alberto Etchandy Gimeno Navarro
Arcebispo Metropolitano de Niterói