A principal fonte canônica para traçarmos a história de Maria Madalena são os quatro Evangelhos: os três sinópticos (Marcos, Lucas e Mateus) e o de João. Ela é citada nominalmente sempre nas mesmas circunstâncias, sendo que no de João, sua importância como única testemunha da ressurreição do Cristo é mais relevante. A única diferença entre os três primeiros evangelhos é uma citação que Lucas faz sobre as mulheres que acompanhavam Jesus:
‘Os doze o acompanhavam, assim como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios, Joana mulher de Cuza, o procurador de Herodes, Susana e várias outras, que o serviam com seus bens’ (Lucas, Cap 8 v.1-3).
O seu segundo nome, Madalena, ou Magdalini em grego, significa que ela era natural de Magdala, ou Mejdel. Escavações efetuadas na cidade e escritos de Flavius Josefus e outros, a descrevem como uma rica cidade comercial, baseada na pesca, e com muito contato com o mundo helênico, localizada no lado noroeste do lago da Galiléia. Maria (ou Mariam) é sempre citada com seu segundo nome para diferencia-la das demais mulheres citadas no Novo Testamento com o mesmo nome: Maria mãe de Jesus; Maria, mãe de Tiago e Maria de Betânia, irmã de Lázaro.
Era permitido no judaísmo que mulheres ajudassem e servissem com seus bens à rabinos e seitas, porém não lhes era permitido participar ativamente dos rituais e eram separadas nas sinagogas. Essa atitude era devido ao status que as mulheres tinham nas comunidades judaicas, e ao fato de serem consideradas impuras e portadoras do pecado original.
No caso das mulheres que seguiam Jesus, não é dito claramente que papel tinham no grupo, porém a palavra grega utilizada, diakonein, pode tanto significar ‘servir’ como ‘ministrar’, ‘ensinar’, e é a palavra que deu origem ao termo Diácono, que tinha um papel relevante nas comunidades cristãs iniciais.
Jesus, com certeza, quebrou com várias regras estabelecidas pela comunidade judaica, e dar um papel mais importante às mulheres dentro de seu grupo foi uma dessas regras. Cristo conversava diretamente com elas, ministrando-lhes conhecimentos sagrados, tal como fez com Maria de Betânia, irmã de Marta e com a Samaritana; e se deixava tocar por mulheres consideradas impuras pelos judeus tradicionais. Com certeza, Paulo em suas epístolas, cita algumas mulheres que tinham tarefas de evangelização dentro da comunidade, tais como Febe, diaconisa da Igreja da Cencréia, Maria, ‘que muito fez pela comunidade romana’; e Júnia chamada de ‘apóstola’ (Romanos, cap16 v 1-8). Com certeza, Maria Madalena não é citada, dentro dos evangelhos canônicos como um dos apóstolos, mas podemos inferir que era uma discípula com preeminência, pois é sempre citada primeiramente, e não tendo nenhum grau de parentesco assinalado.
Os ‘sete demônios’ citados no versículo de Lucas com certeza não se referem a enfermidades ou coisas malignas, mas sim aos sete defeitos capitais, as influências astrais, dos quais Maria Madalena se libertou quando seguiu o caminho do Cristo. Nesse sentido, ela representa a purificação alcançada pelo trabalho espiritual, condição para que depois possa receber a Gnose e transmiti-la ao mundo. Ela não é a ‘nascida Virgem’, mas a ‘tornada Virgem’. É a Alma purificada para seu retorno à Divindade.
Fonte: sca