Esopo foi um grande contador de fábulas na antigüidade. Entre elas há uma que diz que uma raposa faminta viu em cima de si, numa maravilhosa parreira, um cacho de uva bem maduro, bonito. Ela, gulosa, tentou pular para apanhar o cacho de uva. Depois de muitos esforços, não conseguindo, olhou para todos os lados onde muitas outras raposas estavam como espectadoras e sentenciou com ar de vitoriosa: Ainda não está madura.
Esta fábula me vem em mente de tempos em tempos, diante dos meus fracassos não assumidos, das minhas derrotas que não aceito. Ou quando ouço dizer coisas que mostram fracassos diante de um ideal. O fracasso faz parte da pedagogia do ser humano que luta. Saber perder é uma das artes mais difíceis e mais duras para ser aprendida. Somente quem coloca a sua confiança plena no Senhor não fracassa porque sabe que toda vitória deve passar através da morte e da noite. Se o grão de trigo caído na terra não morrer, ele não vai produzir fruto.
Estamos no tempo pascal. Se contemplarmos a paixão e morte de Jesus com olhos humanos, podemos considerá-lo o maior derrotado. No entanto, à luz da fé, ele é o grande vitorioso sobre a morte. Na escola de Jesus aprendemos a fazer todo o esforço para alcançar o ideal e quando não conseguimos não damos a culpa a ninguém a não ser a nós mesmos, e vamos tentando a próxima vez, até que cheguemos a conquistar o ideal.
Quem não aceita fracassos, torna-se agressivo e prepotente e procura com todos os meios derrotar os outros. A vida se faz cada vez mais uma luta sangrenta e sem trégua para buscar cinco minutos de fama. Há quem se sujeite a tudo; é só parar alguns instantes diante dos meios de comunicação. Ninguém aceita estar no segundo lugar, o que importa é ser o primeiro. Há uma filosofia atrás de tudo isto, maquiavélica, aética e imoral.
Deveríamos ter a coragem, como cristãos e como pessoas humanas, de boicotar todos os meios de comunicação que não ajudam as pessoas a serem mais gente e não promovem o bem do outro. O profetismo não é somente gritar contra o escândalo, mas principalmente não ser conivente com o escândalo e não patrocinar o escândalo. É atitude dos que, conscientes de sua vocação, sabem que o grito, se não se faz ação e não se torna operatividade, para nada serve.
De um lado, gritamos contra a violência que chegou aos limites insuportáveis; de outro lado, os meios de comunicação nos oferecem pratos cheios da violência mais requintada, e ensinam como se elimina, sem deixar sinais, os próprios inimigos. Grita-se contra a impunidade e depois os nossos políticos se divertem conosco criando leis que absolvam os maiores corruptos. Convida-se o povo a não gastar energia – e se gastar vai ser multado, terá a luz elétrica desligada, todas formas repressivas e ditatoriais -, mas depois se autoriza as companhias de distribuição da energia a aumentar as tarifas para compensar as perdas que tiveram por causa do apagão…
O povo pobre é o mais prejudicado e sem possibilidade de reagir porque lhe faltam meios. O que chega ao povo é um desânimo muito grande diante da sua impotência e incapacidade. É necessário que ele reassuma a sua capacidade de luta, de coragem, para não se deixar dominar pelo fracasso, como o da raposa que diz que a fruta ainda não está madura. Quem tem verdadeiramente fé saberá sempre lutar pelo ideal que tem na sua frente. O cristão não se deixa vencer pelo desânimo, pela derrota, ele continua a lutar não em vista de momentos frágeis de prazer e de glória, mas por causa justa e santa.
A uva está madura, nós é que não conseguimos alcançar. Não devemos enganar a nós mesmos, devemos somente voltar para tentar de novo, até que cheguemos lá. Diante das nossas dificuldades, não devemos nos esconder atrás de razões que servem para criar novas máscaras. No seguimento de Jesus, o fracasso é um sacramento que nos ensina a lutar com mais coragem.