1. Depois de quanto dissemos sobre a dimensão cristã e sacramental da sexualidade humana e do matrimónio e da beleza da união nupcial como comunhão de amor, fica-nos a pergunta: que sentido tem a virgindade como vocação cristã, que exclui as núpcias humanas e supõe a renúncia a uma certa vivência da sexualidade? É preciso reconhecer que esta questão é hoje levantada por muitos cristãos, porventura por alguns daqueles e daquelas que escolheram a virgindade como caminho de vida.
Mas se alargarmos o horizonte do nosso olhar à sociedade como um todo, verificamos que a virgindade é um caminho incompreensível, quando muito aceite no contexto do respeito pelas opções da vida pessoal e privada. As causas desta rejeição encontramo-las no naturalismo de toda a nossa cultura, distante da dimensão sobrenatural da existência, que encontra na liberdade sexual uma das suas concretizações. Mas é preciso não esquecer que também o matrimónio cristão é uma ruptura com essa perspectiva naturalista da sexualidade, pois no sacramento esta é elevada à vivência de fé da comunhão de Cristo com a Igreja.
O quadro de compreensão do sentido da escolha da virgindade é da ordem sobrenatural da fé, tem como quadro de referência comparativo a vivência da sexualidade no matrimónio cristão, autêntico caminho de santidade e não uma visão naturalista da sexualidade e do amor. Na perspectiva da fé, há mais proximidade entre a virgindade e o matrimônio cristão do que entre este e essa visão naturalista da sexualidade e do amor.