Neste mês de novembro, quando comemoramos os nossos entes queridos falecidos, é bom lembrar que uma das grandes certezas propugnadas por praticamente todas as religiões é que a morte não tem a última palavra. Pelo contrário, ela é apenas uma passagem para a vida plena e eterna, que é a ressurreição.
Dostoievski, um escritor de renome mundial, escreveu: «Minha imortalidade é indispensável, porque Deus não iria cometer a iniqüidade de apagar completamente o fogo do amor depois que este se acendeu para ele em meu coração. Comecei a amá-lo e me alegrei com seu amor. Será possível que ele me apague e minha alegria se transforme em nada? Se Deus existe, também eu sou imortal».
Muito antes de Dostoievski, São Paulo tinha a mesma convicção: «Se afirmamos que Cristo ressuscitou da morte, como é que alguns de vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, tampouco Cristo ressuscitou; e se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé… Se pusemos a nossa esperança em Cristo somente para esta vida, somos deveras os mais dignos de compaixão de todos os homens» (1Cor 15,12-13.19).
Um pouco mais adiante, na mesma carta, São Paulo enfrenta outro problema: «Alguém poderá perguntar: Como ressuscitam os mortos? Com que corpo voltarão? Pois bem, escute: o que semeias, não volta à vida se antes não morrer. O que semeias não é a planta já desenvolvida, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outro cereal. E Deus lhe dá o corpo que quer, a cada semente o próprio corpo» (1Cor 15,35-38).
Desta forma, a morte é a nossa formatura, quando receberemos o corpo luminoso que Deus e o nosso amor prepararam durante os anos que passamos nesta terra. Como o cereal que é plantado, morre e renasce. Como a lagarta que se transforma numa maravilhosa borboleta. Um corpo idêntico, mas, ao mesmo tempo, infinitamente diferente. Acima de qualquer expectativa: O que os olhos não viram e os ouvidos não ouviram nem a mente humana concebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam (1Cor 2,9).
Por isso, o que importa fazer, é morrer. Morrer a cada instante, como, aliás, se esforçava para fazer São Paulo: «Morro todos os dias!» (1Cor 15,31). Trata-se de uma morte que, na prática, significa converter-se a cada instante. Renovar a escolha de Deus a cada instante. Colocar-se numa atitude de serviço a cada instante. Abraçar a nossa cruz de cada dia a cada instante…
Assumindo a vida desta forma, ou seja, como uma missão a cumprir e não como uma aventura a desfrutar egoisticamente quando chegar a última morte, estaremos tão treinados, que essa morte, ao invés de nos assustar, será para nós a irmã Morte como gostava de chamá-la São Francisco.
É por isso que, em seu último livro, a Bíblia nos adverte: «Felizes os mortos que morrem no Senhor!» (Ap 14,13).
Sim, imensamente felizes os que aprendem a morrer durante a vida, porque, na hora da morte, já estão ressuscitados!
Dom Redovino Rizzardo
Bispo coadjutor de Dourados – MS