O que falta, por vezes, a muitos cristãos é a perseverança nos bons propósitos de seguir generosamente a Cristo. Há o entusiasmo pela figura do Divino Redentor e Suas palavras empolgam o coração. Acontece, porém, que tudo isso pode se dissipar rapidamente ao passar à realização concreta em ações bem definidas e a longo prazo. Vem daí a surpresa e, em seguida, a decepção e até o desânimo de continuar nas veredas traçadas pelo Mestre. Surge o vacilo e o titubeio. Qual o motivo de tudo isso? É que faltou uma reflexão profunda e sazonada, amadurecida. Fora fruto de um arrebatamento súbito e efêmero, talvez racional ou sentimental e sempre precipitado.
A afoiteza é um empecilho para uma existência cristã em plenitude. O cristão quer ser de Cristo, desse Cristo que é Deus e, ao mesmo tempo, Homem excelente, modelo de todas as virtudes humanas, percebe que junto d’Ele só há felicidade, mas se esquece daquilo que Jesus vai pedir nas ações do cotidiano. Não se lembra do que Ele disse: Se alguém não tomar a sua cruz e me seguir não é digno de mim (Mt 10,28). É preciso saber sacrificar as paixões, o comodismo, cumprir fielmente o dever de cada hora, não ceder às tentações diabólicas. Há forças hostis que necessitam ser dominadas. É preciso ser totalmente de Cristo e não de Lúcifer, pois este trabalha incessantemente no mundo para impedir a total vivência cristã.
Quem alertou sobre isso foi São Pedro: Meus irmãos, estai atentos porque o demônio, como um leão a rugir, anda em derredor de vós, prestes a vos devorar. Resisti-lhe firmes na fé (1Pd 5,8).
Não há tréguas nem quartel. O cristão quer, de fato, ser de Cristo e sabe que Ele é a personificação de todo o bem, do que há de melhor e de mais excelente; é Deus o próprio fim do batizado, a chave da salvação, da felicidade eterna. Esta constatação generosa compromete, porém, cada um a provas árduas e dolorosas. O maligno oferece riqueza, bens materiais, prazeres, luxo no comer e no vestir. Cristo, contudo, prega o desapego do mundo, a fuga dos deleites pecaminosos, o comedimento no se alimentar e no gastar. Lúcifer precipita o ser racional no rancor, na inveja, no ressentimento, no ódio. Jesus quer amor, pugna contra o egoísmo, perdão cordial, anistia radical. O demônio é o pai da mentira (cf. Jo 8,44); Cristo é a verdade personificada (cf. Jo 14,6).
A bandeira do diabo é a soberba; a de Jesus é a humildade. Então quem é de Cristo não quer outra glória senão a de Deus, nem outros triunfos do que os da santa causa da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nada de vã glória, proeminências ilusórias. Cumpre arrancar as raízes da vaidade e da empáfia. Não há meio-termo entre Lúcifer e Cristo. Este afirmou claramente: Quem não é comigo é contra mim ( Mt 12,30). Ele quer a mansidão: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração (Mt 11,29). Ele quer perseverança total: Ninguém que, no ato de por mão ao arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus (Lc 9,62). Deseja pureza de consciência: Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. Quer compaixão: Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Seu seguidor é agente da paz: Ditosos os pacíficos, porque serão filhos de Deus (Mt 5, 7- 9).
Em síntese, Jesus exige que, perseverantemente, se coloque em prática, custe o que custar, tudo que está no Sermão da Montanha (cf. Mt cap. 5-7, 13). Ele alertou: Entrai pela porta estreita, porque larga a porta e espaçosa a via que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Mas quão estreita é a porta e apertada a via que leva à vida, e poucs são os que passam com ela! (Mt 7,13). Portanto, sem perseverança, sem muita coragem os bons propósitos se evaporam, se tornam nuvens passageiras, sonhos dourados que logo desaparecem.