Poucos dias depois de sua chegada, celebrou-se em Paris, a grande cerimônia da transladação do corpo de S. Vicente.
“Feliz e contente – escreve Catarina por ter chegado para assistir à grande solenidade – parecia-me que não mais estava na terra. Pedi a São Vicente todas as graças que me são necessárias, pedi-as também para as duas famílias, (padres e irmãs) e para a França inteira, pedi-lhe enfim que me ensinasse o que devia pedir e a graça de cumprí-lo com fidelidade.
Todas as vezes – conta Catarina – que voltava de São Lázaro, onde estavam participando de uma novena de ação de graças, sentia tantas saudades! (o coração de São Vicente foi colocado sobre o reliquiário onde estavam expostas as relíquias do Santo na Igreja de São Lázaro). Afigurava-se em ver São Vicente na comunidade (na casa das Irmãs) ou pelo menos o seu coração.
Apareceu três dias seguidos de modo diferente: branco, cor de carne, o que anunciava a paz; depois rubro, o que queria dizer que a caridade devia acender os nossos corações e que a companhia devia renovar-se e estender-se até os confins da terra; enfim vi-o rubro-sombrio, o que me causou uma imensa tristeza, pois não sei porque, nem como, isso dizia qualquer referência à mudança do governo.”
Ela ainda acrescenta o seguinte: “O coração de São Vicente está muito aflito com os males que vão cair sobre a França”.
No último dia da novena, ela viu o mesmo coração com uma bela cor vermelha enquanto uma voz interior lhe dizia: “O coração de São Vicente está um pouco mais consolado, porque alcançou de Deus, por intercessão de Maria que as duas famílias não perecessem no meio daquelas desgraças, e que Deus se serviria delas para renovar a fé”. Para tranqüilizar o seu espírito falou de suas visões ao seu confessor que lhe deu o conselho de não prestar atenção a essas idéias e afastá-las. O seu confessor era um padre moço, mas de uma prudência consumada. Seu nome venerado ficará eternamente ligado ao nome da Serva de Deus. É o padre Aladel. À uma grande prudência unia-se uma profunda piedade.
A essa visão prodigiosa sucederam outras mais extraordinárias. Deus lhe concedeu em particular ver Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento do Altar. “Vi-O – escreve ela – todo o tempo do meu noviciado, exceto todas as vezes em que duvidava; então nada mais via, porque queria aprofundar o mistério. Pensava ter me enganado”.
Não duvidava da presença real d Ele; mas julgando-se indigna de tão grande favor, duvidava de si mesma, temendo ser vítima de uma ilusão.
“No dia da Santíssima Trindade, Nosso Senhor apareceu sobre o sacrário, como um rei, com a cruz ao peito. Era durante a Santa Missa. Ao Evangelho, pareceu-me ver a cruz cair aos pés de Jesus; vi Nosso Senhor despojar-se dos paramentos que vestia. Tudo caiu por terra. Foi então que fui assaltada pelos pensamentos mais tristes; pensei que o Rei da terra seria despojado de suas vestimentas reais. Receio grandes males.
Pela segunda vez e, desta feita, de um modo claro, pressente a queda da monarquia.
Mas essas visões, por importantes que sejam, eram o prelúdio de outras ainda mais importantes em suas conseqüências.