“Deus controla todas as coisas!” Será?

A guerra começou e assim inicia-se mais uma trágica página da história humana. Mocinhos e bandidos, gatos e ratos, Deus e o Diabo; sempre as forças opostas parecem se atraírem neste campo de batalha chamado mundo.
Agora, este dualismo reinante ou maniqueísmo atual não nos ajudará em nada, pelo contrário, tende a colocar-nos diante dos noticiários como quem feliz e curioso vai ao cinema com o saco de pipocas e refrigerante na mão – preparado para assistir a um lançamento que de antemão somente sabíamos tratar-se de uma mega produção, e por isso, já ficamos convencidos que será o ‘máximo’ este novo “Gladiador” e “Titanic” atualizado.

Não é novidade demonstrar o Bem e o Mal personificados e digladiando-se para agradar a platéia que se contenta com a política do “pão e circo,” esta técnica já era um antigo método utilizado pelos dominadores e que tem funcionado, podendo até servir para aumentar pontos no ibope e ganhar eleições.

A minha pergunta é se nós realmente queremos fazer parte dessa platéia que assistirá este conflito com conseqüências mundiais? Ou criticamente, nos envolveremos a ponto de entrar não em cena, pois infelizmente não é uma tragédia encenada, mas participar com Deus e encarar essa realidade do jeito do Senhor e Juíz da história.

Muitas vezes eu já ouvi: “Deus controla todas as coisas!”, Concordo de imediato com quase toda frase, mas prefiro de início terminá-la com uma interrogação: “Deus controla todas as coisas?” Para assim, chamar a atenção para o modo e de que lado Deus está nesta Guerra, bem como em relação a todos os demais conflitos humanos.
O Senhor da história está tão inocente quanto uma criança de colo, a qual é capaz de captar tudo da mãe, inclusive os seus batimentos cardíacos com disritmia por estar aflita com o futuro do neném. Os cientistas atestam que o nosso planeta é um bebê perante o Universo e os ambientalistas chamam cada vez mais a atenção para os cuidados que devemos ter com a mãe terra. Mas somente o Criador e Pai de todos tem o poder de captar tudo de todos, compadecendo-se sem desanimar do bem e sem desacreditar que neste mundo há um futuro para os inocentes e aflitos, como vislumbrou o apóstolo São João:

“Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e há NÃO HAVERÁ MORTE, NEM LUTO, NEM GRITO, NEM DOR, por que passou a primeira condição” (Apo 21,1-4).

Ou seja, passou a última guerra, acabaram as grandes injustiças realizadas até em nome do rancor e da vingança, ou como preferem chamar, em nome de Deus! E como não sabemos se o atual conflito será o último da “primeira condição”, então sugiro terminarmos aquela célebre frase com três pontos: Deus controla todas as coisas…
Esta maneira de terminar penso ser mais responsável, pois supera a inteligência dos mais “sábios” desta Guerra, que são os milionários mísseis inteligentes, que embora ajam assim, poderão acertar ou errar os alvos com a ‘tranqüilidade’ de fazerem um estrago sem ter que prestar contas “perante Deus, as próprias consciências e a humanidade’, como enfatizou o Papa João Paulo II aos culpados. Sem dúvida, esta atual guerra tirará cada vez mais o coração da humanidade do ritmo da verdadeira Paz!

Deus verdadeiramente controla todas as coisas…, e assim, alerta-nos para um horizonte aberto à presença Divina, sem um juízo definitivo a respeito de um problema milenar que se não solucionado pelo fácil e limitado dualismo, abre o nosso coração e mente para uma equação de impossível progressão, caso não recorramos à palavra MISTÉRIO.

Mistério da liberdade humana, mistério da iniqüidade, ou maldade, e mistério da Providência Divina. Somando, subtraindo, dividindo, multiplicando, e quem sabe, aplicando mil fórmulas e até gráficos, sobre os mistérios que nos envolvem, chegaremos, sem dúvida, a cálculos que somente Deus é capaz de computar sem enlouquecer. Não é à toa que o salmista nos ensina a constatarmos o problema e passarmos sabiamente a “folha e o lápis” para quem não inventou a conta mas sabe resolver – por ser Deus: “O Senhor é o juiz dos povos. Fazei-me justiça, Senhor…”(Sl 7,9).

À Luz da Palavra teremos sempre a liberdade e até o dever de sermos críticos, não para dizer se gostamos ou não daquela ou desta “cena” entre Bush e Saddam, e nem para canonizarmos um e ‘satanizarmos’ outro, mas para sermos atentos a um juízo de valores, os quais são submetidos à visão da Igreja de Cristo que toma sempre o partido do Princípe da Paz. Por isso tudo, como Igreja, ou simplesmente como crentes, precisamos anunciar este Deus que quer conduzir ao Reino de Paz a TODOS, principalmente aos que estão ou estarão presos inocentemente nos destroços deste novo “Titanic,” que já começou afundar no seu lado Oriental, mas que ao afundar afetará toda a tripulação, inclusive a do lado Ocidental.