Aborto e pena de morte

“Amai os vossos inimigos” (Lucas 6,27).

Na infinita bondade e misericórdia de Deus, Ele criou o ser humano à Sua imagem e semelhança. Ao criar o homem e a mulher, o Senhor dá uma prova concreta do Seu amor incondicional à humanidade. Nós nascemos da vontade de Deus. Nós passamos a existir a partir da decisão livre e amorosa d’Ele. Lendo e meditando a História da Salvação e a Sagrada Escritura, nós aprendemos que em Deus só há amor. Tudo o que Ele cria, faz e transforma é por amor, pois, “Deus é amor” (1Jo 4,16). E se nós fomos criados à Sua imagem e semelhança, logo, nós precisamos agir de tal maneira que sejamos reflexos do amor divino. As pessoas precisam reconhecer o amor de Deus em nós por meio de nossas atitudes e decisões. Pelo nosso modo de ser e de agir, precisamos irradiar o amor divino para o mundo e para a humanidade.

Parece que o ser humano tem uma queda à violência. Nas mais diversas fases da história da humanidade, nós percebemos que, em muitas ocasiões, o homem tenta resolver os seus problemas na base da força e da violência. Aquilo que popularmente se diz: “fazer justiça com as próprias mãos”. Às vezes, se pensa que o melhor mesmo é um retorno à “lei de Talião”, ou seja, “olho por olho, dente por dente”.

Recentemente, não só o Rio de Janeiro, mas, o Brasil inteiro ficou consternado, abismado, indignado e até revoltado com a violência que não pára e não tem limites. A brutalidade que chega a ponto de sacrificar um inocente de seis anos de idade, o pequeno e grande João Hélio, que barbaramente foi martirizado, preso pelo cinto de segurança pelo lado de fora do carro. A que ponto chega a barbárie?!

Diante de episódios tristes como este, reaparece o debate com relação à pena de morte. E junto com este tema, surge também na pauta dos Parlamentares do povo em geral a questão sobre o aborto. Precisamos conversar sobre esses dois temas. Mais do que conversar, precisamos ter uma consciência clara sobre o que a Santa Mãe Igreja nos ensina sobre esses dois assuntos. E mais: precisamos tomar uma posição e não ter medo nem vergonha de assumir uma posição bem clara e bem definida sobre isto. Será que um católico pode ser a favor da morte? Será que um cristão pode ser a favor da violência?

É muito interessante observar como a contradição encontra lugar em nosso pensamento e em nosso coração. Choramos e nos revoltamos ao ver um menino de seis anos ser violentamente assassinado. E isto é inaceitável mesmo! Não poderia jamais acontecer algo assim. Contudo, existem pessoas que gritam, fazem passeatas e esbravejam contra este tipo de violência, mas que, ao mesmo tempo, defendem a liberdade do aborto. Ou seja, são a favor da violência contra crianças que estão no ventre materno, indefesas e inocentes. São pequenos, são fetos, mas são vidas! Isso é uma grande contradição.

Existem Estados norte-americanos e países que legalizaram a pena de morte. E, no entanto, não conseguiram diminuir a violência. Esta é uma punição que não tem volta; irreparável. E se depois de se executar uma pessoa se descobrir a sua inocência? É bem verdade que o nosso sistema prisional está muito longe do ideal. Pois, não reeduca e não ressocializa as pessoas detidas. Pelo contrário, às vezes, até piora a conduta delas. Mas, este é um outro problema, que precisa ser resolvido também. A questão é sobre a nossa posição em relação à legalização da pena de morte e do aborto. Será mesmo que abortar, matar, executar, eliminar seria solução para os nossos problemas? A violência e a morte nunca solucionam problemas. Pelo contrário, os aumentam!

O ser humano foi criado para ser bom. Todas as vezes em que alguém pratica a violência e que se torna mau, contraria a sua própria natureza. E uma pessoa que age contra a sua natureza se torna alguém infeliz e angustiado. Quando contrariamos a origem de nossa criação, perdemos a graça, o brilho nos olhos e a beleza da vida. Todas as vezes em que pagamos o mal com o mal, nos tornamos parecidos com o mal. Por outro lado, sempre que respondemos ao mal com o bem, tornamo-nos parecidos com Deus. É no bem e no amor que ficamos semelhantes ao nosso Criador!

A graça de Deus pode mudar a vida das pessoas. Por pior que alguém seja, ele pode ser tocado por Deus. A conversão pode acontecer. Nós acreditamos em milagres. A conversão é um milagre. Deus pode realizar muitos milagres de conversão na nossa vida e na nossa família. Pois, para o Senhor não existe caso perdido. O Apóstolo Paulo, antes era Saulo e perseguia e matava os cristãos. Santo Agostinho, antes de sua conversão, teve uma vida devassa, e depois se tornou um grande homem, padre, bispo, doutor e santo da Igreja. A conversão pode acontecer. O nosso Deus é o Deus da vida e da vida em abundância. Sendo assim, um católico, um cristão, jamais pode ser a favor da pena de morte e do aborto. Por mais difícil que seja a situação, somos e seremos sempre a favor da vida. O mundo – para ser melhor – não precisa de aborto nem de pena de morte. O mundo – para ser melhor – precisa de Deus!