A vitória da vida

A Revista VEJA de 27 de dezembro de 2006 publicou uma reportagem que mostra que a cada dia se torna maior a possibilidade de salvar a vida de uma criança cujo nascimento foi prematuro.

O menino Arthur Teixeira nasceu no dia 3 de dezembro, com 32 semanas (7 meses) e 575 gramas – 190 gramas a mais do que pesava o menor bebê já nascido no Brasil. Ele e sua irmã gêmea, Giovana, estão em franca recuperação. E outro bebê cujo nome também é Arthur, filho da carioca Ana Paula, nasceu com apenas 25 semanas (5 meses e meio) de gestação; pesava apenas 385 gramas, um décimo do peso de um recém-nascido normal, com 23 centímetros e cabia na palma da mão; todo o seu sangue caberia em uma xícara de café. O pé de um bebê normal mede cerca de 9 centímetros. O deste bebê tinha 3,7 centímetros, tamanho de um clipe de papel, um pouco maior que uma moeda de um real. Era o menor já nascido vivo no Brasil e o quinto menor do mundo. Ele saiu do parto sem respirar, e foi ressuscitado em seguida pela junta médica com massagens cardíacas. Depois disso, foi encaminhado a uma UTI neonatal, onde chegou a pesar míseros 282 gramas. Quatro meses e três dias mais tarde, ele recebia alta médica, pesando 2 quilos, 110 gramas e uma vida normal pela frente.

Antes de Arthur, o menor bebê do Brasil era Carlos Flores, o Carlinhos, que nasceu pesando 450 gramas no ano de 1995. Prematuro de seis meses de gestação, o bebê passou 43 dias na UTI, teve de operar a retina, que ainda estava malformada, e ficou com uma miopia de 10 graus. Mas, depois do sufoco, o bebê se desenvolveu como uma criança normal. Hoje, com 11 anos e pesando 44 quilos, tem um apelido novo: Carlão. “Ele nunca teve problema de saúde, nem dor de barriga. Sempre foi um menino muito esperto e inteligente”, afirma Ivonete, a mãe do garoto. “Era um verdadeiro palito até os 5 anos de idade, não engordava de jeito nenhum. Hoje, nem ele acredita que foi prematuro”, ressalta.

O menor bebê do mundo é uma menina que nasceu nos Estados Unidos com 26 semanas de gestação, Rumaisa Rahman, nascida em 2004, pesava apenas 244 gramas e media 20 centímetros. No aniversário de um ano já pesava 5,9 quilos. Isso acontece porque a medicina evoluiu bastante neste campo. A cardiologia neonatal atualmente permite operar o coração de um bebê em uma cirurgia de apenas 45 minutos. Antes disso, prematuros que não estavam com o coração totalmente pronto para funcionar não tinham chance de sobreviver.

A partir da década de 80, foi possível produzir em laboratório uma substância chamada surfactante, secretada pelo organismo e que permite a expansão dos pulmões. Pela falta dela, a grande maioria dos prematuros morria asfixiada. Também houve uma grande evolução nos equipamentos; as modernas incubadoras são capazes de detectar alterações mínimas nos sinais vitais do bebê. Aparelhos para exames e cirurgias foram se miniaturizando – hoje, sondas, cateteres e agulhas são do diâmetro de um fio de cabelo, desenhados para impingir o menor sofrimento aos pequeninos.

Há quinze anos, bebês que nasciam com peso abaixo de 1 quilo – só em raros casos – podiam ser salvos pela medicina. No fim da década de 90, o limite caiu para 750 gramas. Hoje, bebês com menos de 500 gramas, como Arthur, já têm chance de sobreviver sem complicações posteriores. O mesmo é válido para o tempo de gestação. Se no passado sete meses era o limite da prematuridade, atualmente é justificável investir num ser humano que nasça com até cinco meses e três semanas.

Duas décadas atrás, apenas 20% dos bebês, que nasciam com menos de 600 gramas, sobreviviam. Hoje, nas melhores clínicas, esse índice é de pelo menos 40%. Para bebês entre 750 gramas e 1 quilo, a taxa de sobrevivência salta para 90%. Ana Paula, a mãe de Arthur, dá o seu testemunho: “Foi um período muito difícil, principalmente por ter de conviver com o drama dos outros. Nesse tempo deparamos com cinco ou seis falecimentos na UTI”. E desabafa: “Além da tristeza, havia o cansaço de enfrentar aquela rotina diariamente. Às vezes eu saía da sala e chorava de desespero. Mas nunca perdemos a esperança.”

Vinícius também nasceu prematuro, a mãe, Daniela Martins, diz: “Meu filho nasceu com 31 semanas e o médico não nos deu esperanças. Disse que ele não tinha tamanho, peso nem pulmão para viver fora do útero. Foram dias de sofrimento, preocupação e muita ansiedade. Ele ficou na UTI e doía muito o fato de não levá-lo para casa com a gente. Era uma agonia visitá-lo sem saber como estaria. Um dia estava melhor, no outro piorava. Mas naquela altura eu não conseguia mais imaginar o que seria da minha vida sem ele. Graças a Deus, aos médicos, às enfermeiras e auxiliares, ele teve alta médica depois de 43 dias. Foi o dia mais feliz da minha vida.” Hoje, Vinícius está com três anos.

Fica agora aqui um pergunta: Se um bebê de até cinco meses e meio de gestação já pode sobreviver fora do ventre da mãe, como então, em muitos países, o aborto é aprovado até seis meses de gestação? E não há dúvida de que esse prazo de gestação poderá diminuir ainda mais com o avanço constante da medicina.

O aborto é crime, é uma covardia, um atentado contra a criatura mais fraca e indefesa que existe: a criança no ventre materno! É uma gravíssima ofensa a Deus; um pecado que clama aos céus. Antes, o útero materno era o lugar mais seguro do mundo… Hoje, se tornou “zona de fogo livre”. Chega de tanto sangue inocente derramado barbaramente!


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino