Evangelização

O Cristianismo na era das novas formas de comunicação

É preciso comunicar o Cristianismo e levar esse conteúdo de mensagens cristã

Por que deve o Cristianismo se comunicar? Uma religião pode ficar restrita a um povo, a uma etnia ou mesmo a uma tribo, sem que seus membros pensem em comunicá-la para outros. Isso não acontece com o Cristianismo, pois este apresenta uma pretensão à universalidade tal, que nada nem ninguém pode ficar de fora. Ele apresenta primeiramente o sentido para a totalidade da realidade, da história, da humanidade. Também oferece a salvação trazida por Jesus Cristo a todos os homens e mulheres de qualquer época ou região do mundo. O Cristianismo confessa o Filho de Deus como Revelador definitivo e Salvador único e universal da humanidade.

Ao proclamar a construção do Reino de Deus como meta de sua vida, em obediência ao Pai, Jesus de Nazaré, por Suas palavras e ações, procurava fazer surgir uma sociedade alternativa para a humanidade baseada no acolhimento de um Deus de amor, na partilha de bens, no amor recíproco, na justiça para todos. Assim podemos afirmar ser o próprio conteúdo da mensagem cristã que a impele de se limitar a um povo ou uma região.

O cristianismo na era das novas formas de comunicaçãoFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

O que envolve a comunicação no Cristianismo?

Podemos fazer outra pergunta: o que, afinal, comunica o Cristianismo? Poderíamos ser tentados a responder que transmite uma doutrina e padrões morais que, afinal, marcaram profundamente a cultura ocidental, e que se reflete nas artes, na filosofia, na organização da sociedade, na área educacional e assistencial. A resposta pode até ser concreta, mas não chega ao núcleo verdadeiro do Cristianismo, pois a revelação cristã não constitui tanto em desvendar os desígnios de Deus para a humanidade quanto em realizar a doação do próprio Deus a essa humanidade. Uma doação de raízes eternas, de um começo temporal no nascimento de Jesus, de uma revelação em sua história e em sua morte, e finalmente, de uma comprovação em Sua Ressurreição dos mortos. De fato, o mistério pascal é o cerne da verdade cristã, que é comunicada.

Portanto, a comunicação que Deus faz de si próprio não é apenas verbal, mas real, tendo se dado em Seu Filho e no Espírito Santo. Desse modo, a aceitação livre na fé, por parte do indivíduo, mais do que aderir a doutrinas ou normas morais (o que não se nega), consiste em acolher o próprio Deus, ao assumir o modo de vida e o destino de Jesus. Então, o cristão vive também o mistério pascal e experimenta o modo de ser de Deus, seu amor, sua misericórdia, sua gratuidade. Essa experiência pessoal de sentido, de plenitude, de força, que conhecemos como experiência salvífica, é a dimensão mística da fé, às vezes tão esquecida.

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Essa experiência pressupõe uma fé adulta, madura, comprometida, uma verdadeira identidade cristã, que transforme e molde a vida do fiel, tornando-o diferente, porque é cristão. O Cristianismo comunica uma realidade viva, o próprio Deus doando-se a si próprio a cada ser humano para fazê-lo participar de sua vida eternamente feliz. Essa doação é uma realidade histórica naqueles que a acolhem verdadeiramente, os quais se tornam testemunhas de Deus ao apontarem para Ele por suas vidas, suas crenças e ações. Portanto, cada geração de cristãos transmite às gerações seguintes o que crê, o que é e vive. O processo comunicativo é mais amplo do que formulações doutrinais ou normas morais. Ele implica assim o testemunho da própria comunidade crista, que deve ser sinal da salvação de Deus para a humanidade. Ela continua assim na história a missão salvífica do Pai, começada no envio do Filho e do Espírito Santo.

Finalidade da comunicação cristã

Uma terceira questão poderia ainda ser colocada: qual a finalidade dessa comunicação cristã? Embora, de certo modo, já respondida acima, ela exige uma exposição mais completa, pois a salvação cristã é uma realidade complexa que abriga componentes divinos e humanos. Ela remete, por um lado, ao próprio Deus, já que a felicidade perfeita do ser humano, enquanto ser aberto ao infinito, vem a ser Deus sem mais, como já afirmava Tomas de Aquino. Realmente, só Deus pode satisfazer a sede humana por felicidade, experiência que todo mortal mais atento faz em sua vida. Por outro lado, ela é salvação do ser humano, isto é, tem que salvar, aperfeiçoar, recuperar e levar à plenitude todas as dimensões dele vida corporal, espiritual, intelectual, afetiva, social, econômica, ecológica. Nesse caso, a salvação cristã, que é simples (Deus mesmo), diversifica-se, pluraliza-se, concretiza-se diferentemente, podendo uma dimensão emergir mais fortemente, seja numa época da história, seja na vida do indivíduo.

Naturalmente, há uma primazia da dimensão espiritual sobre as demais, mas estas não são descartáveis, pois a salvação cristã implica que o homem todo seja salvo. Observemos também que este só se realiza adequadamente enquanto é ser social. Portanto, a salvação cristã jamais é assunto meramente individual, já que implica necessariamente o comportamento de cada um com relação a seu semelhante, à sociedade onde vive a cultura que partilha com outros. Desse modo, a fé cristã exclui de antemão uma noção errada de salvação cristã de cunho espiritual e individualista.

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