Quando a paz começa dentro de nós
A ânsia pela paz é uma melodia universal que ressoa em cada alma, um anseio profundo que move a humanidade através dos séculos. Observamos a sua busca incessante nas negociações diplomáticas, nos tratados internacionais e nos esforços humanitários, mas, muitas vezes, a paz parece uma miragem distante, um ideal inatingível no horizonte turbulento do nosso tempo.

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Neste tempo marcado por conflitos, divisões e inquietações, muitos procuram respostas em fórmulas políticas, avanços tecnológicos ou estratégias diplomáticas.
A verdadeira chave para a paz, aquela que tem o poder de transformar o mundo, não se encontra nas grandes assembleias ou nos palácios do poder; é um segredo que permanece esquecido, silencioso e, ao mesmo tempo, poderoso: a paz verdadeira começa no coração humano.
O coração como epicentro da transformação
A tradição cristã sempre nos recordou que o coração não é apenas um órgão vital, mas o centro da pessoa, a sede da sua inteligência, da sua vontade e das suas afeições. É nesse espaço sagrado que se desenrolam as batalhas mais decisivas e onde se podem cultivar as sementes da verdadeira paz.
Se o mundo exterior reflete, muitas vezes, a desordem e a fragmentação dos corações humanos, é também no seu interior que reside o potencial para a harmonia e a reconciliação. A paz no mundo não é, portanto, uma questão meramente política ou social; é, primeiramente, uma questão espiritual e pessoal.
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Quando cultivamos a paz no nosso próprio coração, abrimos as portas à caridade, ao perdão e à compaixão. Acolher a paz significa desarmar as nossas próprias tendências para o egoísmo, a inveja e o ressentimento, que são as verdadeiras raízes dos conflitos.
É um caminho de conversão contínua, onde nos dispomos a amar o próximo como a nós mesmos, a perdoar as ofensas e a procurar a reconciliação mesmo nas situações mais desafiadoras.
Esse processo interior não é um ato de isolamento, mas um compromisso profundo com a humanidade, pois um coração em paz irradia essa mesma tranquilidade para o seu ambiente. É a oração do Pai-Nosso em ação.
A paz não se impõe; ela floresce
A paz não é fruto de imposição externa, mas de uma transformação interior. Jesus Cristo, Príncipe da Paz, não veio com exércitos nem decretos. Veio com mansidão, com perdão, com amor radical. Revelou que o coração humano é o santuário onde Deus deseja habitar — e onde a paz pode ser gerada e irradiada.
“Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá.” (João 14, 27). Esta paz que Cristo oferece não depende das circunstâncias exteriores. Ela nasce da reconciliação com Deus, da escuta da Sua Palavra, da abertura ao Espírito Santo. É uma paz que cura feridas, que desarma o orgulho, que transforma o medo em confiança.
O coração convertido: fonte de renovação
Quando um coração se converte, o mundo muda. Parece exagero? Não é. Um coração que ama, que perdoa, que serve, torna-se fermento de paz na família, na comunidade, na sociedade.
A história está cheia de santos que, sem poder político ou riqueza, mudaram o curso do mundo com a força da paz interior. A saber: São Francisco de Assis, despojado de tudo, tornou-se mensageiro da paz; Santa Teresa de Calcutá, com um coração abrasado de compaixão, levou consolo aos mais pobres; Papa João Paulo II, com coragem e fé, derrubou muros com palavras de esperança.
A nossa missão começa agora
Se quisermos paz no mundo, comecemos por cultivar a paz no nosso coração. Rezemos. Escutemos. Perdoemos. Silenciemos o ruído interior. Reconciliemo-nos com Deus. E, depois, seremos sinal de paz onde estivermos.
Não esperemos que os grandes mudem o mundo. Deus escolhe os pequenos para grandes obras. O nosso coração pode ser o lugar onde a paz começa a vencer.
“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5,9).
Paula Ferraz
Missionária da Canção Nova – 2º Elo; Fátima – Portugal





