Lamentável

Mataram mais uma mãe

Mãe linchada em Guarujá (SP) é uma  mártir da maldade humana e vitima dos boatos virtuais

200x150-Pequeno-M Às vésperas de celebrarmos mais um Dia das Mães, somos envolvidos por notícias tristes, chocantes e deprimentes de violência contra mães e contra filhos. Não vale a pena repetir as notícias que se multiplicam em nossos noticiários e jornais, mas um desses dramas repercute no coração de tantas pessoas. Não encontramos consolo nem respostas para tamanha brutalidade. Uma mãe cristã católica, com duas filhas – uma de um ano e outra de 13 anos –, foi “crucificada” de forma covarde e brutal. Ela foi confundida com uma outra mulher, suspeita de ter cometido um crime que, na verdade, nunca ocorreu.

 Fabiana Maria de Jesus, tinha 33 anos de idade e 15 de casada. Ela ainda estava se recuperando de uma depressão pós-parto. Era uma mulher inteligente, criativa, bondosa e carinhosa, que adorava visitar as pessoas e ajudar quem precisasse dela. Quando ela não estava bem, adorava andar de bicicleta e ir à igreja rezar. Todas as vezes que se sentia mal, saia de casa e passava longas horas, na igreja, rezando. Ela dizia que a casa de Deus era o lugar onde ela se sentia bem e feliz. Era frequentadora assídua da comunidade São João Batista, em Morrinhos 2, no Guarujá, litoral de São Paulo.

Na última semana, quando voltou à igreja para buscar sua Bíblia, que havia esquecido lá, retornou para casa e foi surpreendida por um grupo de pessoas que a lincharam num ato de maior covardia. Ela foi surrada, espancada, humilhada, maltratada, ofendida de todas as maneiras, sem, ao menos, saber por que passava por tamanha humilhação. Enquanto uns participavam do linchamento, agredindo-a fisicamente, outros riam e zombavam daquela deprimente situação. Sem direito a respirar nem pedir ajuda, ou ao menos ser socorrida, ela foi espancada até quase a morte, fato que ocorreu dois dias depois.

A dor da família de Fabiana é sem explicação. O fato ocorrido representa o que há de pior na relação entre as pessoas. O início da tragédia aconteceu, nas redes sociais, onde uma onda de boatos começou a ocorrer a partir de uma falsa denúncia, em um site voltado para os problemas da população. Não se trata de jogar pedra ou acusar quem fez ou não fez tal coisa, o que se espera é que a justiça aja com rigor e apure, com firmeza, os fatos. Porém, algumas atitudes necessitam da reflexão de todos nós.

 Os boatos ampliaram-se cem vezes mais com o advento das redes sociais. Um fato que, antes, se espalhava apenas de boca em boca, agora, se espalha numa velocidade sem igual pelos sites e pelos mecanismos das redes. E boato é uma praga, para não dizer uma desgraça social. Ele inflama fofocas, conversas torpes, acusações sem fundamentos, discussões infundadas, calúnias, difamações, prejulgamentos e desvia o foco das pessoas de coisas fundamentais da vida, alimentando-as de fantasias e jogos de interesse.

 Existe um ser fofoqueiro dentro de cada um nós. Existe, na espécie humana, uma sede de saber e contar novidades. Algumas pessoas aguçam mais essa sede do que outras; há, inclusive, quem alimente sua vida e suas relações sociais a partir de fofocas. Acredite: difamação e especulação sobre a vida alheia espalha-se com mais facilidade pela sociedade do que a verdade e as boas notícias.

 A mãe de família Fabiana Maria foi vítima, em todos os sentidos, dos boatos e das fofocas espalhadas pelo ar. Ela foi confundida, prejulgada, condenada e assassinada sem direito a responder nem dizer nada. E, desde quando, alguém que é julgado pode dizer alguma coisa? A Fabiana foi vítima de uma fofoca cruel e trágica.

A fofoca é um dos elementos mais perversos da rede de intrigas, que fomenta as relações mais estúpidas de uma sociedade. Ela já destruiu casamentos, amizades, relacionamentos, comunidades, reputações e vidas.

 Eu me faço totalmente solidário a essa família e assumo, no meu coração, os sofrimentos dela e de tantos amigos que estão, no Guarujá, sofrendo essa tragédia. Mas não posso deixar de convidar cada um a rever suas atitudes diante de tudo que ouve, fala, escreve e, acima de tudo, de seus julgamentos, porque a maioria deles acaba sendo precipitado. Não julgo aquela multidão que gritou para crucificar Jesus nem emito um juízo diante da insanidade coletiva que tomou conta das pessoas que crucificaram essa mãe de família. Mas não posso negar que dói, no coração, saber que nós seres humanos somos tão desumanos ao lidar uns com os outros.