O trabalho valoriza a pessoa humana e constrói a sociedade
Saudamos, neste dia, os trabalhadores e as trabalhadoras empenhados na construção do Brasil. O trabalho valoriza a pessoa humana e constrói a sociedade; por isso precisa ser defendido contra aqueles que o utilizam para oprimir e explorar o próximo (cf. Deuteronômio 5, 12-15).
Vemos com esperança todas as iniciativas, em nível municipal, estadual e nacional, para oferecer mais oportunidades de trabalho, bem como o reajuste, acima da inflação, do salário mínimo e das aposentadorias e pensões, embora ainda aquém das necessidades da população.
No entanto, preocupa-nos o desemprego, que continua sendo a grande praga do mundo contemporâneo. São muitas as pessoas que procuram, sem êxito, um trabalho honesto. Por que não aumentam as oportunidades de trabalho, enquanto cresce a geração de riquezas? Preocupam-nos também a pouca valorização do trabalho da mulher, a falta de oportunidades de trabalho para os jovens, a discriminação racial nas relações de trabalho e o descaso com os aposentados, que contribuíram com seu suor para a construção do País.
Trabalho e economia
A solução para esses problemas dificilmente acontecerá num modelo econômico que tende à concentração da renda e à exclusão cada vez maior dos trabalhadores, reais construtores da sociedade. O papa João Paulo II já advertia, após o Sínodo da América, em 1999: “Domina cada vez mais, em muitos países americanos, um sistema conhecido como ‘neoliberalismo’; sistema que, apoiado numa concepção economicista do homem, considera o lucro e as leis de mercado parâmetros absolutos em detrimento da dignidade e do respeito da pessoa e do povo. Por vezes, este sistema transformou-se numa justificação ideológica de atitudes e modos de agir no campo social e político, provocando a marginalização dos mais fracos” (Ecclesia in América, A Igreja na América, nº 56).
O mesmo Papa João Paulo II insistia sobre a centralidade do trabalho, como “chave da questão social” (Laborem Exercens, Sobre o trabalho humano, n° 3). No entanto, o que se vê com frequência, é o econômico contraposto ao social, como se os dois aspectos da convivência humana não estivessem implicados um no outro. Como pode conviver o crescimento econômico com altos índices de desemprego, subemprego, exploração do trabalho infantil e até com a existência de trabalho escravo? Como falar em democracia num contexto de desrespeito às leis trabalhistas e da tentativa diuturna de flexibilização dos direitos sociais?
Trabalho e política
Os caminhos para a superação desta realidade encontram-se no âmbito da política, como “forma sublime do exercício da caridade”, respeitados os preceitos da democracia. Neste ano eleitoral, é preciso que a questão do trabalho seja priorizada nos programas dos candidatos e nos debates pré-eleitorais, preparando, assim, o terreno para novos passos na superação do desemprego. Só existe verdadeira cidadania quando o direito ao trabalho está assegurado.
A melhor política pública é proporcionar oportunidades de trabalho, assegurar o justo salário, possibilitar a distribuição de renda, imprimir ao desenvolvimento uma dimensão humana e ecológica, promover a justiça e a paz. Assim realiza-se o sonho do profeta Isaías: “construirão casas e habitarão nelas, plantarão vinhas e comerão de seus frutos. Ninguém trabalhará inutilmente…” (Isaías 65, 17-25).
Trabalho e solidariedade
As experiências de economia solidária trazem grande esperança; elas alteram as relações da vil exploração do trabalho, abrindo espaço para a dimensão solidária e criativa do trabalho e para o atendimento às necessidades básicas da pessoa humana. Essas experiências lembram o trabalho de Deus, na criação do mundo (cf. Gênesis 1,1-2, 4).
Neste Dia do Trabalhador rogamos a Deus que cessem todas as discriminações e injustiças ligadas ao mundo do trabalho e que o povo brasileiro desfrute de verdadeira justiça, solidariedade e paz social. Nossa Senhora Aparecida e São José Operário abençoem as famílias brasileiras para que todos os trabalhadores e trabalhadoras tenham vida e vida em abundância (cf. João 10,10).
Mensagem da CNBB aos trabalhadores no dia 1º de maio de 2006