O amor que transforma

Episódio 3 - Os pobres como os tesouros da Igreja

Refletir sobre a identidade da Igreja e sua missão no mundo

A série “O Amor que Transforma” nos convida a uma profunda reflexão sobre a identidade da Igreja e sua missão no mundo. Longe de ser apenas uma questão de assistência social, a proximidade com os necessitados é uma necessidade teológica e espiritual que define o seguimento de Cristo.

A herança de São Lourenço

A fundamentação desse ensinamento remonta ao século II, em Roma, com o diácono São Lourenço. Ao ser intimado pelo imperador a entregar as riquezas da Igreja, Lourenço apresentou os órfãos, os doentes e os abandonados, declarando: “Eis os tesouros da Igreja”. Esta cena não é apenas um fato histórico, mas o resumo do coração do Evangelho: reconhecer no pobre o próprio rosto de Cristo.

Essa identidade foi reafirmada pelo Concílio Vaticano II, na Constituição Apostólica Lumen Gentium, que ensina que a Igreja deve seguir os passos de seu Fundador, que foi pobre e sofredor, reconhecendo nos que sofrem a imagem de Cristo.

O encontro que transforma: Francisco e Teresa

São Francisco de Assis: O ponto de virada em sua vida foi o beijo em um leproso. Esse gesto sublime quebrou o medo, trouxe a verdadeira alegria e o permitiu encontrar o “Cristo vivo” no irmão, amando sem medidas e sem regras.

• Madre Teresa de Calcutá: Com sua doação aos moribundos da Índia, ensinava que o importante não é o quanto fazemos, mas o quanto de amor colocamos na ação, pois o pobre é “Jesus disfarçado”.

• Santo Alberto Hurtado: O jesuíta chileno reforçava a necessidade de tornar Cristo presente entre os operários e abandonados, combatendo a indiferença daqueles que vivem como se o Senhor não tivesse existido.

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O sentido da pobreza evangélica

A verdadeira pobreza evangélica, segundo as fontes, não é apenas a falta de recursos, mas uma opção espiritual de desapego. No mundo contemporâneo, cheio de facilidades, abrir mão dos bens materiais é uma renúncia que nos “desinstala” e nos ensina a viver da Divina Providência. Ao desapegarmos das realidades terrenas, passamos a abraçar os verdadeiros valores do céu.

Teologia da presença

A relação entre a liturgia e a caridade é indissociável. São João Crisóstomo, um dos Padres da Igreja, advertia: “Se não encontrarmos Cristo no mendigo à porta da igreja, tampouco o encontraremos no cálice do altar”. A pobreza cristã é descrita como uma “presença” e o lugar do encontro com o mistério de Deus.

Como nos recorda São Paulo em sua segunda carta aos Coríntios, Jesus, sendo rico, se fez pobre por amor a nós, para que sua pobreza nos tornasse ricos. Portanto, quando a Igreja se aproxima dos marginalizados, ela não está apenas prestando um serviço, mas reencontrando sua própria identidade e revelando o rosto de Cristo crucificado e ressuscitado.

Transcrito e adaptado por Willian Coutinho