A jornada de encontrar um novo lugar para a dor
A perda é uma das experiências mais universais e avassaladoras da vida humana. No turbilhão de emoções que se segue a um adeus, muitos procuram um mapa, uma linha de chegada que os guie através do sofrimento. No imaginário popular, persiste a ideia de que o luto é um processo com etapas bem definidas que, uma vez seguidas, garantem a “superação” da dor. No entanto, a realidade do luto é muito mais complexa e íntima do que um roteiro com começo, meio e fim.
O mito das fases e a pressão desnecessária
É extremamente comum ouvir falar nas famosas “cinco fases do luto”. Contudo, é fundamental compreender a origem deste conceito: ele foi desenvolvido a partir da observação de pacientes que recebiam a notícia da própria morte. Aplicar esse modelo a quem perdeu um ente querido, a quem rompeu um vínculo, não é apenas um desvio de contexto, mas pode impor um peso extra ao enlutado.
Quando a pessoa enlutada se prende à ideia de que deve seguir fases, ela se impõe uma pressão adicional, somando à dor a preocupação: “Será que estou na etapa certa? Estou a melhorar no ritmo esperado?”. A dor, que é intrinsecamente caótica e única, é forçada a encaixar-se numa estrutura rígida, o que não privilegia a sua integração.
A verdadeira jornada: integração da perda
O luto, segundo estudos mais recentes, não é uma sequência de etapas a serem cumpridas, mas sim um processo de integração da perda.
O caminho do luto é uma verdadeira montanha-russa de emoções. A dor é intensa e aguda no início, com picos e vales que podem ocorrer no mesmo dia. Depois, esses períodos espaçam-se, manifestando-se em dias de baixa e dias de alta. Não se trata de linearidade, mas de estados emocionais flutuantes, pois o luto nunca será linear.
O objetivo deste processo não é eliminar a dor, mas sim encontrar um lugar para ela. Ela não precisa tomar conta de todo o ser. Com o tempo, ela pode tornar-se uma presença, como uma dor crónica que existe enquanto se trabalha, se estuda ou se vive o quotidiano. A dor está ali, mas já não impede o viver. Ela pode visitar-nos numa data comemorativa ou num momento especial, mas já não abala a totalidade do nosso ser.
Transformar o vínculo, não superar o amor
O termo “superação do luto” também precisa ser revisto. Superar sugere que a dor deve ser aniquilada, que é preciso esquecer a pessoa e simplesmente seguir em frente. A verdade é que a dor nos acompanha, ainda que reduzida [04:34]. O caminho saudável não passa por esquecer, mas sim por lembrar a pessoa e transformar o vínculo. A relação com o ente querido passa da presença física para a memória. Trata-se de integrar toda a vivência partilhada na nova vida que se abre, apesar da inevitável “cadeira vazia” que fica.
Superar o luto pressupõe superar o amor que se sente, o que é impossível. O caminho é o oposto da rigidez: é chorar, permitir-se ser alcançado pela emoção e, ainda assim, continuar a viver. A jornada do luto é a prova de que o amor persiste e encontra uma nova forma de existir.




