Conheça alguns pontos impulsionadores dessa onda de Bebês reborns
Nos tempos atuais, quando falamos sobre qualquer tema, é fundamental deixarmos claro sobre o que estamos falando e sobre o significado das palavras utilizadas. Acredito que o leitor concorda comigo, num tempo onde tudo é relativo e não existe verdade absoluta, torna-se impossível dissertar sobre qualquer tema sem um ponto de partida muito bem esclarecido, em virtude disso, vamos esclarecer dois verbetes: Bebê e reborn.

Crédito: Freila/GettyImages
Bebê1 no seu sentido original é um substantivo masculino que define uma criancinha, uma criança de peito, já reborn2 é um verbete que significa renascido ou nascido de novo e apenas para fechar os termos principais que vamos falar, também é importante saber o significado do verbete boneco3, substantivo masculino, figura de cartão, madeira, plástico, trapo, cera, etc., representando um homem ou um rapaz; manequim.
Agora, esclarecidos estes elementos primordiais, podemos nos instalar na realidade sabendo que os “bebês reborns” não são crianças e muito menos renascidos, eles não passam de bonecos extremamente realistas que buscam a maior semelhança visual possível com um bebê (não vou usar o complemento “de verdade”, porque acredito que o esclarecimento inicial já satisfaz esta lacuna). Por mais que: simulem batimentos cardíacos, respiração, partos, choros, existam “maternidades reborns” e qualquer outras características eles são bonecos e nada mais que isso.
Interesse lucrativo e desejo de reconhecimento e vaidade
Isto posto, é óbvio que aquilo que move todas as coisas seculares é um dos pontos principais a impulsionar esta onda reborn: d-i-n-h-e-i-r-o. Afinal, um destes bonecos pode custar de R$ 700 a R$ 9.000 ou até mais, e isso faz girar um mercado que pode render para apenas uma “cegonha” (assim são chamados os fabricantes destes bonecos), cerca de R$ 300 mil/mês4 – uma quantia mensal não desprezível.
Além disso, os “reborns” fazem girar um segundo mercado, o de acessórios: Roupas e vestuário, itens de alimentação, itens de descanso, itens de higiene, itens de interação e complementos diversos. Os preços podem variar de cerca de R$ 20 até chupetas custando aproximadamente R$ 2701. Até aí nada demais, pois não há nada de errado em fabricar e vender um produto.
Outro ponto impulsionador dessa onda é a vaidade, pois esses bonecos têm rendido muitos likes e seguidores, gerando uma onda de influenciadores digitais que, além de ganhos financeiros, têm suprido sua necessidade de reconhecimento e vaidade por meio da exibição destes bonecos com rotinas semelhantes a bebês.
Simulacro de vida e desconexão com a realidade
Saindo das possíveis forças geradoras dessa onda reborn — que podemos, em outro momento, explorar com maior profundidade — percebemos que, para além do ganho financeiro, há um abraço ideológico que ameaça destruir a dignidade do ser humano. Ao criar um boneco com aparência, cheiro e características cada vez mais próximas de uma criança real, tenta-se igualar a criação de Deus a um simulacro de vida. E, se por um lado o boneco passa a receber “direitos” humanos, nada impede que, adiante, um bebê recém-nascido possa ser descartado numa lata de lixo, sem comoção coletiva. Afinal, ao não diferenciar visualmente um boneco de um bebê, muitos deixam de atribuir a cada um a dignidade que lhes é devida.
— Parece absurdo? Meu caro leitor, aguardemos o correr dos dias.
Porém, quem sabe se, mais adiante, possamos aprofundar o tema dos reborns no que se refere a um ataque à dignidade humana e, assim, identificar as verdadeiras causas dessa onda — avaliando também um materialismo misturado à vaidade, que nos leva a uma corrupção completa da moral em busca de likes e monetizações.
Mas agora queria tratar do elo mais externo e visível destes acontecimentos, a pessoa que adquire este boneco e passa a tratá-lo como um bebê. É claro que se olharmos a maioria das reportagens2 existentes, vemos que há algo distorcido nestes atos.
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Em primeiro lugar, não é natural que uma mulher ou um homem adulto dedique horas do seu tempo a um boneco, como se este realmente dependesse de sua atenção para sobreviver. Ora, um boneco é apenas um boneco — tenha custado R$ 1 ou R$ 1 milhão. Ele não deveria exigir, de um adulto, sequer o mínimo do seu tempo, pois isso é típico de outra fase da vida: a infância — quanto mais um tempo significativo da vida adulta.
Essa desconexão com a realidade pode ser considerada um indício de um transtorno mais grave, como a esquizofrenia1. Assim como não é normal que uma pessoa adulta dedique-se, por hobby, grande parte do seu tempo com jogos eletrônicos.
Questão terapêutica: Desligamento da realidade não traz benefícios ao ser humano
Outro ponto levantado é a questão terapêutica para aqueles que sofreram traumas e perdas profundas. É verdade que esses objetos podem ser utilizados como elementos transicionais, auxiliando momentaneamente no enfrentamento da dor da perda. No entanto, como o próprio termo sugere, devem funcionar como uma ponte entre dois estágios2.
Quando esse uso se prolonga indefinidamente, evidencia não apenas uma fuga e uma distorção da realidade, mas também uma desordem emocional e psicológica que precisa ser tratada — e, não tomada como solução definitiva para o problema.
Nenhum tipo de desligamento da realidade traz benefícios ao ser humano. Via de regra, não aceitar a realidade ou buscar focos de atenção que nos afastem dela acaba gerando problemas mais graves, tanto de ordem emocional quanto psicológica.
A realidade — entendida aqui como a verdade, pois de fato o é —, por mais dolorosa que seja, quando encarada com coragem, seja sozinha ou com apoio para sua compreensão, promove amadurecimento psicológico e emocional, conduzindo-nos a um nível mais elevado como seres humanos.
Já a fuga da realidade nos estagna, oculta a ferida e permite que ela seja corroída e putrefata sob uma casca emocional bonita, mas falsa e frágil.
Como nos exorta a Palavra: “Não tenhais medo”. Não se agarre a muletas que o impedem de ser livre. Procure ajuda, reconheça suas dificuldades e dores, e busque compreender que elas não definem quem você é — são apenas parte de você. E sendo parte, podem até representar limitações, mas jamais devem ser motivo para fugir da realidade ou impedir seu crescimento.
Conte com minhas orações e siga em frente.
Almir Rivas
Missionário Aliança da Comunidade Canção Nova
@almir.f.rivas.jr
Referências:
1. AULETE. Bebê. Dicionário Caldas Aulete. Disponível em: https://www.aulete.com.br/beb%C3%AA. Acesso em: 14 maio 2025.
2. WORDREFERENCE. Reborn – Tradução em português. WordReference.com. Disponível em: https://www.wordreference.com/enpt/reborn. Acesso em: 14 maio 2025.
3. AULETE. Boneco. Dicionário Caldas Aulete. Disponível em: https://www.aulete.com.br/boneco. Acesso em: 14 maio 2025.
4. ECONOMIC NEWS BRASIL. Criadora de bonecas reborn fatura R$ 300 mil por mês com vendas. Publicado em: 14 maio 2025. Disponível em: https://economicnewsbrasil.com.br/2025/05/14/criadora-de-bonecas-reborn-fatura-r-300-mil-por-mes-com-vendas. Acesso em: 14 maio 2025.
5. MERCADO LIVRE. Bebê reborn com documentos – Lista de produtos. Disponível em: https://lista.mercadolivre.com.br/bebe-reborn-com-documentos_OrderId_PRICE_NoIndex_True. Acesso em: 14 maio 2025.
6. TELEJORNAL MEIO-DIA GOIÁS. Mulher trata boneca reborn como se fosse filha. YouTube, 7 out. 2022. Disponível em: https://youtu.be/kiB-0DNLe0Y. Acesso em: 14 maio 2025.
7. MSD MANUAL. Esquizofrenia. MSD Manual – Versão para o público geral. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/distúrbios-de-saúde-mental/esquizofrenia-e-transtornos-relacionados/esquizofrenia. Acesso em: 14 maio 2025.
8. LEIA NOTÍCIAS. Bebês reborn: o que a psicologia revela sobre a substituição simbólica e seus riscos emocionais. Publicado em: 26 abr. 2024. Disponível em: https://leianoticias.com.br/bebes-reborn-o-que-a-psicologia-revela-sobre-a-substituicao-simbolica-e-seus-riscos-emocionais. Acesso em: 14 maio 2025.