O sentido do trabalho no dia a dia
O ser humano foi feito para o trabalho, para o movimento criativo e transformador que em nós aponta para a realidade da força, da destreza, da capacidade cognitiva e para uma necessidade ontológica: não fomos criados para a estagnação, mas para entregar algo bom ao mundo. Agir e ter constância, em seu sentido mais amplo, não é apenas uma obrigação social; é uma oportunidade de crescimento, de sentido e, portanto, de amadurecimento pessoal.

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Muitas vezes, associamos “trabalho” apenas a uma função profissional registrada em carteira de trabalho, mas ele começa em gestos basilares do nosso cotidiano, como arrumar a cama, organizar o guarda-roupa, lavar a louça utilizada etc. Essas pequenas ações revelam mais do que disciplina doméstica: elas são sementes de virtudes.
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Cada gesto repetido com fidelidade educa a vontade, fortalece o caráter e nos prepara para responsabilidades maiores, algo muito valoroso nos dias de hoje. Num mundo digital em que tudo parece se resolver com o toque de um dedo na tela, resgatar o valor dessas atitudes concretas é um ato de valor.
Pequenos gestos que transformam
Pode parecer banal insistir no valor das tarefas simples, mas estas nos preparam para feitos grandiosos. A determinação nas ações cotidianas é um caminho de fortaleza diante de uma realidade concreta. Ao contrário, aquele que nada faz progride na preguiça, na irresponsabilidade, na imoralidade e na devassidão.
Perseverar nas ações nos fala de sobrevivência, aponta para um maravilhoso recurso terapêutico, já que olhamos para fora, para deixar algo para o mundo, alimentando a chama da esperança em nós.
A perseverança também tem um efeito profundamente terapêutico. Repetir com amor pequenas ações nos permite enxergar o sentido, onde até os gestos mais simples se tornam caminhos de transcendência e realização. Quando olhamos para fora e percebemos que nossos gestos – por menores que sejam – deixam um impacto no mundo, somos fortalecidos para seguir adiante.
Os trabalhos mais simples e monótonos, muitas vezes desvalorizados, são justamente os que nos moldam e são uma escola silenciosa de paciência, disciplina e fé.
1Viktor Frankl, fundador da Logoterapia, lembra que o valor do trabalho não está em sua natureza – se é manual ou intelectual, braçal ou conceitual –, mas na postura interior que assumimos diante dele. O que dá sentido ao trabalho é a atitude com que o realizamos. Um mesmo gesto, feito de maneira automática, pode se tornar vazio; mas, se realizado com consciência, empenho e entrega, torna-se fonte de sentido e crescimento.
Caminho de santidade
Precisamos com ousadia buscar ser os melhores que podemos, com as possibilidades que temos. Daí a importância de não cair facilmente no desânimo e ir abandonando as atividades que começamos.
Faz quanto tempo que você não vai à Igreja fazer adoração? Onde está o seu caderno de estudo bíblico? Há quanto tempo não vai visitar um amigo de longa data, ou quem sabe um enfermo, fazer exercício físico, voltar a estudar, aprender novas coisas? Há sempre algo que pode ser feito e que nos fará vivenciar valores.
Para viver a constância, é preciso empenho, que nasce do amor. Como dizia Santo Agostinho: “Ama e faz o que queiras”. O amor por Deus, pelo próximo e pela vida é a motivação que transforma a rotina em caminho de santidade. O sucesso, quando vier, deve ser apenas um efeito colateral. O que realmente importa é o desejo de ser a melhor versão de nós mesmos, de superar nossas limitações e colocar cada talento a serviço de algo maior.
Viver o hoje com propósito
Cada um de nós é uma tarefa inacabada, uma obra em construção, e a vida não nos permite parar. O fato de criar, produzir, repetir exaustivamente em várias situações nos lembra que existem obstáculos que podemos transpor, que há possibilidades de aprimoramento para conseguirmos ser melhores em todas as áreas da vida, ou seja, um contínuo processo de lapidação e novos horizontes a serem alcançados.
Há, porém, uma armadilha comum: a “Síndrome de Oxalá”. Quantas vezes não pensamos: “Oxalá eu tivesse um emprego melhor… Oxalá minha vida fosse diferente…”? Esse pensamento nos paralisa, coloca-nos em espera. Mas a vida não começa quando as condições são ideais. Ela acontece agora, nas circunstâncias presentes, no mundo real e objetivo. O convite é viver da melhor forma possível no hoje, com o que temos em mãos.
Padre Jonas cantou muitas vezes uma lição preciosa de São Francisco de Assis: “Se você quiser servir a Deus, faça poucas coisas, mas as faça bem”.2.
É preciso resgatar a consciência de que não é a quantidade de tarefas, mas como nos colocamos diante dela e sem desistir apesar das exigências. Poucas coisas feitas bem e com amor têm o poder de transformação em nossa vida e também na vida de quem nos cerca.
Micheline Teixeira
Membro definitivo do Núcleo da Comunidade Canção Nova, casada e Pós-graduada em Logoterapia.
Fontes:
1-Frankl‘, Viktor Psicoterapia e sentido da vida fundamentos da Logoterapia e análise existencial / Viktor Frankl; tradução de Alípio Maia de Castro ~ 6-” ed. – São Paulo ‘. Quadrante, 2016.
2-“Tema de Clara e Francisco“, composto pelo Monsenhor Jonas Abib, está incluído no álbum “O Amor Vencerá”, lançado em 1977 pela Canção Nova.