Sempre falo isso para um dos meus irmãos, e me divirto com as reações dele, quase sempre atrapalhadas, tentando explicar que não é bom, que agiu dessa forma por tal motivo; e finalmente parece sentir-se aliviado quando encerra o assunto dizendo que só Deus é bom.
Observo que quase ninguém acolhe essa afirmativa com naturalidade, inclusive eu. Em geral, ficamos meio sem jeito e rapidamente encontramos um meio de, com palavras ou gestos, desviarmos a atenção para outro ponto. Mas por que agimos assim?
Talvez seja por medo de nos vermos dominados pelo orgulho ou ainda por causa de feridas causadas por palavras duras ou verdades ditas de forma errada. Lembro-me de uma situação que vivi: desde criança, recebi muitos elogios, e sempre os acolhia com naturalidade, eram até uma forma de incentivo no meu empenho para ser íntegra e não decepcionar aqueles que me amavam e acreditavam em mim, a partir de meus pais.
“Você não é boa”
Até que um dia ouvi de alguém muito querido que eu não era boa, que as pessoas me admiravam só porque não me conheciam o bastante, mas que, na verdade, eu era muito ruim! Claro que foi terrível ouvir isso, mas o pior é que eu acreditei, pois vinha de alguém que eu amava. Quando as palavras vêm de alguém que amamos, têm muito mais peso em nossa vida. Aos poucos, fui me convencendo de que eu não era boa. Até que um dia, um dos meus irmãos me fez perceber que estava tudo errado! Daí, eu comecei um processo de cura interior que continua, mas já consigo acolher que sou boa, não por mérito meu, mas porque Aquele que me fez à Sua Imagem e Semelhança é bom e habita em meu ser.
Outra barreira que nos impede de acolher a afirmativa “você é bom” é que pagamos um preço alto pelo exercício da bondade. Torna-se alvo de observação e, às vezes, de crítica. Hoje, os valores parecem trocados, e quase todos seguem sem saber para onde ir. Dá a impressão de que a moda manda, pois o importante é estar fashion, agindo como a maioria age, independente se está certo ou errado. Claro que ter uma postura diferente chama a atenção, incomoda. Porém, não podemos temer o “ser diferente”! Somos escolhidos de Deus não por merecimento nosso, mas graças a Sua misericórdia, e isso já nos faz muito diferentes.
Sou movido pelo Amor
É certo que, na essência, todo homem é bom, pois foi feito à imagem e semelhança do Sumo Bem. Assumir isso não deve ser um peso, é questão de retomar a essência, é assumir a missão do verdadeiro cristão. Se levarmos isso a sério, chegaremos ao ponto que chegou o filosofo Raimundo Lullus, quando, certa vez, lhe perguntaram a quem pertencia, de onde vinha e para onde ia, e ele respondeu: “Pertenço ao Amor; saí do Amor e foi o Amor quem me conduziu até aqui. Sou movido pelo Amor!”. Que possamos, hoje, trocar as palavras de Raimundo pelas nossas, e afirmarmos: “Pertenço ao Sumo Bem, saí do seio da bondade, foi ela que me conduziu até aqui. Sou movido pela bondade!”.
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Que o Senhor nos dê Sua graça. É somente n’Ele que espero!