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O sentido do sofrimento: uma jornada de descoberta

Por que sofremos? Por que o sofrimento nos acomete?

São perguntas que fazemos sempre que estamos diante de algo intransponível, insuportável ou inegociável. A morte, a doença e o sofrimento psicológico são situações que sempre nos rodeiam, fazem parte da natureza humana. Então, existe mesmo algum sentido em tanto sofrimento que essa vida nos apresenta?

O sofrimento humano é inerente à pessoa humana segundo Viktor Frankl. A vida sempre tem um sentido, e mesmo no sofrimento, o sentido existe independente de nós o entendermos ou não. O que acontece então quando não conseguimos enxergar algo quando estamos vivendo uma situação difícil ou querendo desistir de tudo por não encontrar sentido em nada? Frankl diz que o sofrimento, muitas vezes, encobre o sentido, então precisamos trilhar um caminho para essa descoberta e reconhecer o sentido que foi dado àquela situação.

O sentido do sofrimento: uma jornada de descoberta

Crédito: D-Keine / GettyImages

A força da resiliência

Por exemplo, estou passando por uma perda de um ente querido. No momento em que tudo está acontecendo, eu só consigo ver tragédia e dor. Porém, o sentido desse sofrimento está escondido num lugar que nós, muitas vezes, não temos ainda a condição de enxergar e entender. Por isso, geralmente, ouvimos as pessoas dizerem que só depois de anos elas conseguiram entender por que determinada situação aconteceu, e parecia que era o fim de tudo. Quando temos a possibilidade de nos afastarmos um pouco da situação, as coisas se tornam mais claras.

Então, nunca devemos tomar nenhuma atitude diante do sofrimento no sentido de desistência, porque o verdadeiro sentido de tudo ainda não foi revelado. Os desafios existem para todos, e a autocomiseração é um sentimento muito negativo que nos faz ter dó de nós mesmos, enfraquecendo-nos e dificultando nosso posicionamento firme diante do problema. “Por meio de uma atitude correta, o sofrimento é transformado numa heroica e vitoriosa conquista” (Frankl. Viktor, Psicoterapia e existencialismo, 1 ed. São Paulo: É Realizações, 2020 p.106)

Sabemos que, algumas vezes, o sofrimento pode ser evitado, outras vezes não, mas não deixa de ser uma realidade humana que não acomete somente uma pessoa, mas toda a humanidade. Eu não vou transgredir regras do trânsito porque posso tomar uma multa e pagar por isso, essa é uma escolha que posso fazer. Porém, quando um acidente já aconteceu e é um fato, eu já não posso voltar no tempo, preciso pensar o que posso fazer de agora em diante.

Desvendando a beleza e o propósito no sofrimento

A mesma coisa com a vida, questionar os porquês de tudo não nos leva a nenhuma solução, mas “o quê” devo fazer daqui em diante. Olhar para o passado a todo momento nos faz ficar de costas para o futuro e nos acorrenta, não conseguir ter esperança ou agir, porque o que já foi não muda mais.

A desistência da vida é um ato de fuga desse enfrentamento e desse caminho de busca de sentido, onde a pessoa não se posicionou diante do sofrimento com valor de atitude, decisão e liberdade para responder adequadamente ao que a vida lhe pede.

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Atualmente, existe uma cultura que nos ensina que sofrimento é algo ruim, e que aquele que aceita o sofrimento é “masoquista” ou passivo demais diante da vida. Por isso também, cada dia mais, estamos com inúmeros casos alarmantes de suicídios, vazio existencial, dependência química e depressão que culminam em tragédias. Segundo Frankl, a pessoa não é a doença nem seus distúrbios, mas possui um enorme potencial para a vida, para realizar valores. Os prazeres imediatos que ela acredita que seriam felicidade não perduram, e assim a pessoa se frustra e desiste da sua busca gerando um grande vazio existencial.

Desvendando o mistério do sofrimento

Pelo que Nosso Senhor Jesus Cristo teve que passar enquanto viveu nesta Terra? Passou por humilhações, foi traído pelos seus amigos mais próximos, enfrentou calado o demônio no deserto por 40 dias, foi julgado injustamente e levado à morte de cruz. Carregou sua cruz, sangrando e sendo xingado. E se não bastasse, foi crucificado, passando dores que nenhum humano seria capaz de passar para nos ensinar o valor do sofrimento e do amor! Sofrer com sentido é sacrifício.

Ele tinha um sentido, que era morrer pelos nossos pecados e nos salvar mesmo antes de nos conhecer; por isso submeteu-se ao sacrifício de morte de cruz, assumindo para si todas as nossas culpas. E como estamos nós? Na maioria das vezes, não aceitamos uma palavra atravessada de um irmão de comunidade, ou em casa quando nos deparamos com uma dificuldade conjugal em que precisamos ceder ou calar, não somos capazes disso, ao contrário, como crianças pequenas, fazemos birra com tudo aquilo que nos desagrada.

A exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, que não desistiu de sua cruz e de seu chamado, que nós possamos estar mais atentos ao nosso redor e avaliar realmente se o sofrimento não é válido para nos transformar em pessoas melhores. Só aprendemos a sofrer sofrendo. Nenhum problema se resolve tirando a própria vida, mas descobrindo sua missão pessoal e intransponível.

A busca por sentido na vida

Viktor Frankl, pai da Logoterapia, nos ensina que, quando nos colocamos acima de nós mesmos e deixamos de olhar para nosso próprio umbigo, somos capazes de realizar valores muito importantes que a própria vida em comunidade nos possibilita. Como isso acontece? No relacionamento com o irmão, no trabalho em comunidade, na busca de fazer, com excelência, tudo a que foi chamado a fazer nas suas tarefas diárias.

Doar-se para o próximo em algo que só você pode fazer vai encher sua vida de sentido; e mesmo que o sofrimento apareça, você se sentirá maior que ele, porque estará sendo útil e deixando sua marca pessoal em tudo que faz. Não haverá espaço para o vazio nem para a tristeza. Deixando sua marca, você será sempre lembrado, e seu legado pessoal dará o sentido que você tanto procurava!

Alinne Bianchi Batista, psicóloga clínica, casada, católica e mãe de 3 filhas.