Muito me incomoda, em nossos tempos modernos, o barulho generalizado, ou seja, a falta de silêncio interior e exterior para podermos rezar, tomar decisões, escutar a Deus, escutar a si mesmo e os outros. Outro dia, fui ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida; e li, numa das colunas internas do local, o apelo: “Silêncio é também oração!”. Parece que, diante de tudo o que vivemos, é necessário falar o tempo todo. Pouco se faz silêncio, e um dos motivos, penso eu, é que, na verdade, nós temos medo do que vamos ouvir, por isso, o silêncio nos incomoda tanto. Também porque, nos tempos de hoje, não educamos as pessoas para ouvir, vivemos em meio a muita informação e pouca comunicação.
Antes mesmo de entrar no tema da oração, nos exercícios espirituais de conversão, percebo o quão necessário é silenciar.
Se a oração é diálogo, é fundamental que ela seja intercalada por profundos momentos de silêncio. Esse tem a função de abrir espaço para a Palavra do Senhor, Sua direção e Suas moções, mas também abre espaço para que ouçamos nós mesmos e os irmãos.
O silêncio não é somente a ausência de barulho
O silêncio é imprescindível para rezar, não só para isso, pois, para qualquer diálogo, é preciso escutar, calar e ouvir. Nós aprendemos a falar porque escutamos nossos pais e irmãos falando, então, começamos a dizer as primeiras palavras. É necessário escutar bem para falar bem e na hora certa. É necessário ouvir para aprender; silenciar para ter coragem de reconhecer o homem interior. É uma viagem tão pequena, que é feita da mente ao coração, mas temos um medo muito grande de realizá-la, porque não sabemos o que vamos encontrar lá. Outras vezes, até sabemos, mas não temos coragem de nos recolher no coração e nos deparar com alguns monstros bem conhecidos.
Há alguns níveis de silêncio que fogem, muitas vezes, do padrão, pois não é somente ausência de barulho.
O primeiro nível do silêncio é o exterior que pode incomodar muito nossa vida e em nossa saúde. “Sem recolhimento não há profundidade”; vivemos na superficialidade, fazendo muito barulho para não escutar os gritos do nosso interior. O barulho das grandes cidades, hoje, é um problema até de saúde pública. Vemos muitas famílias procurando residências afastadas dos grandes centros, em sítios e cidades menores. Há necessidade de sossego para descansar o corpo e a alma.
O que é o silêncio interior?
O silêncio interior é, antes de tudo, o mais necessário e imprescindível para o ser humano, para o seu equilíbrio, para discernir e tomar decisões, para ouvir a sua consciência. Mesmo porque, haverá momentos em que, em meio a muitas pessoas conversando, trabalhando ou até se divertindo, isso não vai nos incomodar pelo nível do barulho feito pelo silêncio interior existente em nosso interior. Por isso, a ausência de barulho interior, a agitação, o nervosismo e a distração são essenciais para a vida de todo ser humano.
Esse estado de espírito se desenvolve em nós quando temos paz.
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Essa paz não é somente ausência de guerra, de confusão e brigas, e sim provém de um caminho de maturidade e equilíbrio, que vamos fazendo em nossa vida. Escolhas, de pessoas que caminham conosco, pois o grupo ao qual nos associamos pode tirar ou nos dar a paz. E isso influência diretamente no nosso interior, no silêncio ou no barulho e confusão que transmitimos. Daí nós nos tornamos promotores da paz ou da confusão, do silêncio ou do barulho.
A paz
“Shalom” é o nome da paz do Ressuscitado, uma paz completa que atinge o corpo e a alma de cada homem e mulher, que ultrapassa as condições externas e nasce de uma experiência interior, de uma coragem de encarar a vida e escutar as vozes de dentro e de fora. Jesus disse aos discípulos, com medo e escondidos no cenáculo, depois da experiência traumatizante da cruz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Cf. João 14, 27). Quando Deus visita o interior de nosso coração, nasce a paz, o silêncio e a coragem.
Paz interior
Silêncio não é somente uma questão de “psiu”! E como é chato ter a necessidade de fazer ou ver e ouvir alguém colocando o dedo indicador na boca e fazendo esse barulho [psiu], que mais irrita do que resolve. O que resolve, na verdade, é a paz, o “Shalom”, que é o interior, que transborda para nossa vida exterior.
Desejo para você a paz, para que possa ter o silêncio e as condições de decidir e viver melhor a sua vida!
Se o silêncio é o porteiro da vida interior, façamos com coragem essa viagem preciosa da mente ao coração. Ao mundo desconhecido de nossa alma, de nossa consciência sem medo do que vamos encontrar: dos monstros e das situações do passado e do presente, sentimento de inferioridade e tantas outras coisas que guardamos dentro de nosso interior e que o barulho sufoca essas situações de se manifestar e ser resolvidas.
Sem recolhimento não há profundidade; sem silêncio não se ultrapassa a porta desse mundo interior, que está em nosso coração e precisa vir para fora. E você verá que o conhecendo, encontrará mais surpresas agradáveis.
Convido-o a rezar comigo a oração:
“Virgem do Silêncio, Tu que ouves nossas vozes, ainda que não falemos, pois compreende no movimento de nossas mãos a linguagem de nossos corações. Não te pedimos, Senhora, que nos dê a voz e o ouvido para nossos corpos, mas sim que nos conceda entender a Palavra do teu Filho e o discernimento dos espíritos e das situações. Chegar a Ele com amor para salvação de nossas almas.
Queremos amar nosso silêncio para evitar a calúnia, o ódio e o pecado, as decisões sem pensar, e calando dar testemunho de nossa fé.
Queremos oferecer-te o silêncio no qual vivemos, para que todos te chamemos de Mãe e sejamos verdadeiros irmãos, sem ódios nem rancores, como filhos teus. Pedimos que traduza nosso arrependimento, nossas palavras quando não conseguimos expressar, diante do teu Filho, na hora das decisões, das escolhas e na hora de nossa morte, para que na outra vida, possamos ouvir e falar cantando tua louvação por toda a eternidade. Amém.”
“Sua mãe guardava todas estas coisas no coração” (Lucas 2,51).
Minha bênção fraterna!