Odiar a mãe, isso seria concebível? Veja o relato desta pessoa: “Nunca senti o amor de minha mãe, ela me detesta, só ama o meu irmão. Comprou dois sapatos lindos para ela outro dia, sendo que o meu está rasgado na sola. Emprestei um vestido de uma amiga para ir a uma festa, fiquei linda mas, quando ela me viu, mandou eu tirar e devolver. Fui à festa de calça mesmo. Nada que eu faça está bom. Por mais que eu me esforce para deixar a casa limpa, ela diz que está um chiqueiro. Se me vê sorrindo, pergunta por que estou com essa ‘cara de boba’. Se tiro notas boas: ‘não fez mais do que a sua obrigação’. Se meu chefe me elogia no trabalho, ela diz: ‘É porque você está sendo vagabunda e se insinuando pra ele’. Se estou mal, ela fica em paz. Odeio minha mãe”.
Como pode uma pessoa odiar a mãe?
Sim, filhas de mães com transtorno de personalidade narcisista, podem chegar a esse extremo: odiar a mãe. Porém, antes de odiarem a mãe, odeiam a si mesmas. Mães com esse transtorno, são obcecadas consigo mesmas, parecendo incapazes de amar. Se fôssemos usar as histórias infantis para caracterizar essas mães, poderíamos compará-las com a madrasta da Branca de Neve: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?”. Se a resposta do espelho for “Sim, é sua filha”, coitada dessa criatura. Uma mãe normal ficaria orgulhosa, mas essas mães tem inveja. Com essa inveja (da beleza ou do sucesso da filha), fará de tudo para destruí-la.
Algumas mães, com transtorno de personalidade narcisista, são sutis. Através de palavras manipulatórias, tentam fazer as filhas pensarem que são menos, que são feias e culpadas por todo o “sofrimento” que causam à mãe. Exemplo: “Estou tão cansada, depois que você nasceu minha vida não é mais a mesma, você só me dá trabalho, a filha da minha amiga, no entanto, é tão inteligente, bonita. Porque você não nasceu assim?”. Outras mães são duras com claro abuso verbal: “Sua porca! Se você não limpar direito, não vou deixar você sair com suas amigas” e/ou “não
vai ser nada na vida; tenho vergonha de ter parido alguém como você; aberração da natureza, burra, retardada;”. Outras podem chegar até nas fortes agressões físicas e ameaças, dignas de denúncia à polícia.
Consequências e culpas
Mas quem iria denunciar essa mãe? A filha teria coragem de denunciar a própria mãe? Muitas iriam se sentir ainda mais culpadas, pois o estrago psicológico que essas mães causam são muitos. Filhas de mães com esse transtorno podem ir para as drogas, bebida, comida em excesso, ataques de pânico, depressão e até suicídio. Tornam-se pessoas inseguras, com baixa autoestima, com muito medo de errar e, se erram, sentem-se culpadas e nunca se sentem boas o suficiente.
É mais comum do que se pensa. 1% da população geral sofre desse transtorno. As causas podem ser tanto ambientais quanto genéticas, com o índice de hereditariedade podendo chegar a 64%. Mães com traços narcisistas são incapazes de se colocar no lugar do outro. Tudo precisa funcionar como ela quer. São perfeccionistas, rígidas, egocêntricas, arrogantes, frias. São manipuladoras, tratando bem a filha quando lhe é conveniente, principalmente na frente dos outros.
Como tratar dessas mães e dessas filhas?
Dificilmente essas mães buscarão ajuda, pois não admitem que estejam erradas, se acham “perfeitas”. As filhas precisam buscar apoio psicológico e as vezes até psiquiátrico, para conseguirem se libertar desse cordão umbilical venenoso. Nos casos extremos, quando se tratam de abuso físico e graves abusos verbais, o distanciamento físico se fará necessário.
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Mas, acima de tudo, é necessário o corte psíquico desse cordão. Essa filha deve compreender que ela não precisa mais absorver aquele “veneno”. Essa filha precisará se encontrar como pessoa inteira, completa, repleta de dons, capaz de tratar essa mãe como o ser humano doente que é. Digna de pena. Assim, o ódio dessa filha poderá se transforma em um olhar de compaixão. O que se esconde por trás dessa mãe são feridas, muitas vezes escondidas no próprio inconsciente. E atrás de toda aquela fachada poderosa, tem um ser sozinho, pequeno, que no fundo se sente um nada.