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Alzheimer e o desafio de cuidar com amor

A Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, caracterizada por um processo neurodegenerativo crônico e progressivo. Manifesta-se de forma silenciosa, quase sempre com pequenos esquecimentos de fatos recentes, que se intensificam ao longo do tempo.

Créditos: shapecharge by Getty Images.

Estudos mostram que, no cérebro, ocorre uma atrofia principalmente na região do lobo temporal medial — envolvendo estruturas como o hipocampo, o córtex entorrinal e a amígdala, áreas ligadas à memória e às emoções. Embora as explicações científicas sejam fundamentais, é no impacto humano e familiar que a doença revela seus maiores desafios.

De acordo com o World Alzheimer Report 2016, estima-se que, em 2050, mais de 131 milhões de pessoas no mundo viverão com Alzheimer. Ainda não existe cura, e o principal fator de risco é o avanço da idade e, mesmo que envelhecer seja um privilégio, traz consigo essa vulnerabilidade de desenvolver a doença.

O Alzheimer nos coloca diante dessa nossa fragilidade

Conviver com o Alzheimer nos leva a refletir sobre perdas como a autonomia e capacidade de decidir. Como afirma a médica Ana Claudia Quintana Arantes, a dignidade humana se expressa justamente no poder de escolher — e o Alzheimer nos coloca diante dessa nossa fragilidade. 

Ao mesmo tempo, somos interpelados por Deus a darmos uma resposta em meio aos padecimentos da vida. A logoterapeuta Elisabeth Lukas lembra que, diante do sofrimento, temos dois caminhos: encontrar sentido no que vivemos, transformando dor em aprendizado e amor, ou permitir que a raiva, o desespero e a ansiedade conduzam nossos dias (Lucas, 2016).

Viktor Frankl, fundador da logoterapia, reforça que a vida é transitória, mas sempre temos a possibilidade de encontrar sentido no que vivemos, mesmo em meio aos desafios da vida. É justamente nesse olhar que o cuidado é importante não só para o enfermo quanto para o cuidador e familiares também, já que nos leva à autotranscendência, que é o ser humano dirigir-se para algo ou para alguém fora de si próprio. 

A família cuidadora

Trago aqui um testemunho pessoal: há quase cinco anos, depois do falecimento do meu pai, em 2019, eu e meus irmãos entendemos que seria melhor que minha mãe viesse morar comigo e minha família. Ela deixou para trás mais de cinco décadas de vida na Bahia para enfrentar uma nova realidade.

Não foi fácil para ela, tampouco para nós. Tivemos que adaptar a rotina, reorganizar espaços, aprender a cuidar de uma idosa em todos os detalhes. Foi e continua sendo um desafio. Mas não posso negar que também trouxe amadurecimento, união e uma profunda reflexão sobre a vida e a morte.

A inversão de papéis é tocante: aquela que um dia trocou minhas fraldas, passou pelos perrengues de educar filhos, agora depende inteiramente de mim e da minha família. Nesse processo, eu encontrei o apoio do meu esposo, que é para mim uma força inestimável. Quantas vezes eu e o Laércio corremos juntos para o hospital! Quantas vezes dividimos a apreensão e também a esperança! E, a cada uma dessas experiências, os nossos laços foram se fortalecendo.

Meus filhos, dentro de suas possibilidades, também participam desse processo; e o cuidado, que poderia se resumir em apenas ser exigência, tem se transformado em escola de vida para todos nós. Descobrimos, na prática, que o amor pode nos levar a experiências gratificantes, mesmo no terreno do sofrimento.

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O Alzheimer, um chamado à solidariedade e ao sentido da vida

O Alzheimer é uma realidade dura, mas também um chamado à solidariedade e ao sentido da vida. Ele nos lembra que somos frágeis, mas que o amor e o cuidado mútuo são forças capazes de nos levar além da fragilidade e a ver no próximo o rosto do Cristo sofredor.

Ao cuidar de quem já cuidou de nós, aprendemos que envelhecer não precisa ser apenas sinônimo de perda. Pode ser, sobretudo, uma oportunidade de revelar o melhor do humano: a capacidade de amar sempre.

Por isso, se você tem seus pais vivos, quem sabe valha a pena voltar a renovar os laços, mas, caso não seja possível porque eles morreram ou porque a sua história com eles foi dolorosa, conte com a Virgem Maria e entregue as suas dores e lágrimas para aquela que é a Auxiliadora dos cristãos. O próprio Cristo no lembra: “No mundo tereis aflições, mas tende coragem! Eu venci o mundo!” (João 16,33).

Fontes: 

(Bases biológicas dos transtornos psiquiátricos [recurso eletrônico] : uma abordagem translacional / Flávio Kapczinski … [et al.]. – 3. ed. rev. e atual. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2011.

Editado também como livro impresso em 2011.

ISBN 978-85-363-2670-2

  1. Psiquiatria. 2. Transtornos psiquiátricos. I. Kapczinski, Flávio.)

(Arantes, Ana Claudia Quintana

Pra vida toda valer a pena viver [recurso eletrônico]: pequeno manual para envelhecer com alegria / Ana Claudia Quintana Arantes. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Sextante, 2021.)

LUKAS, E. También tu sufrimiento tiene sentido: Alivio en la crisis a través de la logoterapia. México: Ediciones LAG, 2016.

Frankl, V. E. (1984). Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Direitos da versão portuguesa reservados: 1985 Editora Sinodal – São Leopoldo – RS – Brasil e Coeditora: Editora Sulina  Porto Alegre – RS – Brasil


Micheline Teixeira
é Membro definitivo do Núcleo da Comunidade Canção Nova, casada e Pós-graduada em Logoterapia.