Sexualidade

A força da atração sexual

Sabe aquela sensação física, que você não sabe de onde vem, mas movimenta todo o seu corpo, mexe com seus pensamentos, faz com que tenha sonhos à noite e até durante o dia? Sabe aquele frio na barriga que você sente quando está perto dela (e) e que o faz sentir até um tipo de “calor interior”? Sabe quando o perfume dela (e) parece deixá-lo encantado por uma magia que não consegue identificar? Tudo isso é um processo energético que ninguém pode explicar, mas todos conseguem sentir. Quem nunca ouviu ou até mesmo disse: “Está rolando uma química entre aquele casal?”, ou ainda: “Rolou uma química entre nós?”. De fato, não é mito nem magia de pó de pirlimpimpim. Quando estamos na presença de uma outra pessoa que nos chama à atenção, quando “rola uma química”, experimentamos sensações estranhas no nosso corpo como coração acelerado, suor nas mãos, respiração ofegante, maçãs do rosto aquecidas e avermelhadas ou mesmo aquele típico “olhar de peixe morto” (olhar distante).

Hoje, a ciência já explica que existe, sim, uma “química do amor”. Quando estamos  apaixonados, nosso corpo produz uma série de substâncias químicas que nos faz sentir diferentes. Essas substâncias são hormônios estimulantes, por isso, a sensação de estar apaixonado é muito boa. Rola muita adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, serotonina e as endorfinas – e olha que não estamos em uma aula de bioquímica! Então, deixando para lá os nomes acima, queremos que você saiba que não depende de você o sentir e o quando sentir. É algo do seu corpo. Não adianta apertar um botão quando encontrar aquela pessoa especial e dizer: “Liberando adrenalina em 3, 2, 1…”.

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como todo estímulo tem uma resposta, essa pode cessar. Então, o que acontece quando a sensação de paixão não dura muito tempo? Será que a química entre o casal acabou? Não necessariamente! Acontece que, com o passar do tempo, o nosso organismo vai se acostumando com o nosso parceira (o) e necessitando de doses maiores de substâncias químicas para provocar as mesmas sensações.

Faremos uma reflexão sobre a atração sexual ser uma mistura de sensações físicas

Entrarão, aqui, as outras camadas do amor. No entanto, vamos nos aprofundar um pouco nessa primeira camada chamada de atração sexual ou, como disse João Paulo II, impulso sexual, sensualidade.

Não estou criando uma teoria do amor, mas dissecando o que o Papa João Paulo II descreveu em sua obra ‘Teologia do Corpo’. Primeiramente, ele discute como o impulso sexual se manifesta na tendência de as pessoas buscarem o sexo oposto; sua essência é a busca pela complementariedade, por isso, “Deus os fez homem e mulher” (Gn 1,27). Para João Paulo II, o impulso sexual orienta um homem para as características físicas e psicológicas de uma mulher – seu corpo, sua feminilidade, seu jeito de ser no mundo, sua maneira de lidar com as pessoas –, que são os próprios atributos mais complementares ao homem. A mulher, por sua vez, está orientada para os atributos físicos e psicológicos de um homem – seu corpo e sua masculinidade, seu jeito de ser no mundo, sua maneira de lidar com as pessoas –, as propriedades que são naturalmente complementares para a mulher. Portanto, o próprio impulso sexual é experimentado como uma atração corporal (física) e emocional (psicológica) por uma pessoa do sexo oposto. Como estamos tratando da atração física nesta primeira camada, podemos perceber que é algo que não passa de primeira pela razão do homem ou da mulher, isto é, não depende de sua vontade; simplesmente acontece! (No livro ‘Agora e para sempre’, trabalhamos as “tendências psíquicas” que nos levam a gostar de alguém, bem como as outras camadas do amor).

Não corramos o risco de pensar que o impulso sexual é uma atração para as qualidades físicas e emocionais do sexo oposto no abstrato, algo que “não dá para conter”. Papa João Paulo II afirma que, o impulso sexual somente existe em uma pessoa humana concreta. Por exemplo, nenhum homem é atraído pelo conceito de “bonita” ou “feia” abstratamente. Em vez disso, ele se sente atraído por uma mulher – uma pessoa em particular – que pode ter cabelo loiro ou moreno, ser alta ou baixa, magra ou gorda.

Da mesma forma acontece com uma mulher: ela não se apaixona por “músculos”, e sim pelo homem que porta esses músculos; ela se sente atraída, primeiramente, por algo que percebe externamente, mas só se envolve verdadeiramente por algo que a faz se “sentir” de determinada maneira.

Desejo sexual

Ao enfatizar esse ponto do impulso sexual, que é inato à pessoa humana, João Paulo II quer evidenciar a essência do amor, que é essa força de atração entre sujeitos, entre pessoas – não entre “coisas”. Não temos como dirigir nossa paixão ou nosso amor à partes de uma pessoa, mas sim ao seu ser por inteiro. Na verdade, o desejo sexual pode fornecer um espaço para o autêntico amor se desenvolver.

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Esse espaço precisa ser ampliado pelo sentimento, pelo valor, pela graça de Deus! Como é triste perceber que muitas pessoas só ficam nesta camada do amor que não é verdadeiro! Faz parte do amor, mas não é amor. Tais pessoas são, nas mãos uns dos outros, meros pedaços de carne a serem degustados e depois descartados. Elas se prendem ao físico de alguém ou à libido que sentem por alguém, mas esse alguém está bem longe do seu horizonte de comprometimento e responsabilidade.

As reações dos sentidos e as emoções produzidas pelo desejo sexual são uma parcela de tudo aquilo que compõe o amor verdadeiro. Ele vai além disso porque leva a pessoa que ama a tomar atitudes voluntárias para promover o bem do seu amado. É como se você dissesse a quem ama: “Eu o amo, por isso, quero o seu bem, meu bem!”. O impulso sexual pode fornecer a “matéria-prima” a partir da qual atos de amor podem surgir; porém, esses atos são sempre orientados pela vontade e pela liberdade, visando o bem daqueles que se amam – é o bem recíproco. Não podemos correr o risco de demonizar o impulso sexual; ele não deve ser sufocado nem negado, e sim orientado e bem trabalhado. Não é que se deva reprimir o impulso; em vez disso, o caminho mais saudável é colocá-lo no devido lugar. Quando ele guia nossos relacionamentos, corremos o enorme risco de nos transformarmos em coisas, em objetos de prazer, abrindo mão da autonomia na nossa arte de amar!

Instinto sexual

Em contrapartida, investir em relacionamentos sem nenhum impulso sexual é lançar-se em um buraco sem fundo, em que não se tem a aventura de se desejar. Há muitas pessoas, até dentro da realidade religiosa, que descartam tanto a dimensão corporal, que não vivem o amor verdadeiro. São namoros, noivados e até casamentos sem vida, sem desejo, sem vontade. Vivem juntos, mas estão “desintegrados”, fora de harmonia, pois amor verdadeiro é feito da harmonia das quatro camadas.

Algumas pessoas querem igualar o impulso sexual  com o mesmo que acontece nos animais, ou seja, ao instinto sexual animal. Contudo, Papa João Paulo II nos ensina que, para os animais, o instinto sexual é algo involuntário, sem participação de um pensamento consciente. Isso é bem distinto do que ocorre nas pessoas humanas, as quais possuem a consciência e a vontade, que podem e devem guiar os impulsos.

Por exemplo: uma cadela no cio não fica pensando sobre qual seria a melhor época para ter cachorrinhos, nem estuda um lugar confortável e discreto para acasalar, muito menos gasta noites sem dormir analisando o perfil do cão ideal para se tornar seu parceiro. Ela simplesmente entra no cio e pronto: quem chegar, leva. Note que: o animal age somente pelo instinto. Há pessoas que vivem guiadas unicamente pelo corpo e se tornam escravas do que está borbulhando dentro delas no âmbito sexual. Elas estão contrariando gravemente a ordem natural das coisas; afinal, somos nós quem controlamos o impulso sexual, e não ele quem nos controla.

Como é triste ver que muitos vivem essa “escravidão” do corpo! Acham que não dão conta de ir além de impulsos e desejos, negam a consciência de si, a abertura à verdadeira felicidade. São vidas que se traem. Toda atração pode e deve estar subordinada à sua razão e vontade. De fato, nem sempre somos responsáveis pelo que acontece na área da atração sexual, mas sempre somos responsáveis pelo que decidimos fazer em resposta a esses estímulos interiores. Decidimos o que queremos ser. Os impulsos sexuais, a sensualidade, a atração sexual, enfim, essa primeira camada promete um retorno muito saboroso. O problema surge quando nos lançamos à aventura dos corpos imaginando, ilusoriamente, que esse sabor passageiro será tudo!

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