Será que podemos amar os animais e os vegetais? Frederico Sciacca, filósofo cristão italiano, diz que não. Só podemos gostar deles. Isso porque olhamos para esses seres sob o critério da utilidade, sobre a vantagem que me trazem. Logo, nossas relações para com eles não são desinteressadas. Isso não permite falar que os amamos.
Mas podemos amar as pessoas, porque elas não são meio, mas fim em si mesmas. Por terem algo de infinito, as pessoas não podem ser usadas como meios. Por isso, podemos amá-las. Mas não de maneira abstrata: “amo a humanidade”. Não se pode amar idéias, mas homens e mulheres concretos. Caso contrário, apenas estaríamos arranjando um álibi cômodo, para justificar delitos.
Assim também a Deus, por ser uma pessoa, só podemos amá-lo de modo concreto e não abstrato. E O amamos em Cristo, Deus feito verdadeiro homem, identificado em nosso semelhante. Por isso, diz o filósofo italiano, só os cristãos podem, verdadeiramente, amar a Deus. Não vejo nessa afirmação nenhum delírio, mas sim, muita ousadia.
Cristo ensinou que só podemos amar o nosso semelhante, segundo um critério: “Amai vosso semelhante como a vós mesmos” (Mt 22, 39). Portanto, para amar o próximo, devemos antes de tudo amar-nos a nós mesmos como pessoas. Isso vai muito além da auto-estima.
Caso eu faça a finalidade da minha vida o possuir dinheiro, é porque eu me considero como um meio para alcançar a riqueza. Se tratarmos os outros como meios para a nossa utilidade, isso é sinal de que nos apreciamos a nós da mesma forma. A primeira caridade devemos te-la conosco mesmos, ao nos considerarmos como pessoas.
Só quem ama a si mesmo como ser humano, é capaz de amar os outros. Quem se ama como coisa não amará ninguém. Devemos realizar-nos de acordo com a nossa grande vocação. A riqueza que devemos ter no instante de nossa morte consiste naquilo que doamos, e na doação que fizemos da nossa pessoa aos outros. O amor verdadeiro é dom total, para que as outras pessoas se realizem em conformidade com sua vocação profunda. Mas não nos enganemos. Só podemos nos amar de fato, se amamos a Deus. Porque a sua graça nos revela que somos seus filhos, e jamais sentiremos a angústia de uma solidão total. Assim se fecha, segundo Cristo, o triângulo amoroso que deve existir, entre o Ser infinito, o nosso eu, e o semelhante.
Fonte: CNBB