Por que amamos alguém...

Volta e meia, deparamo-nos com conversas a respeito de determinados casais, questionando-nos como eles poderiam ter se casado. A nosso ver, pessoas tão diferentes, tão “aparentemente” incompatíveis, ou ainda, tão temperamentais, antipáticas, difíceis. Como pessoas assim poderiam ter encontrado “sua cara metade”? E não apenas isso, mas a demonstração, no dia-a-dia, do amor profundo que têm entre si. Como conseguem tal “proeza”?

Em conversas desse tipo, coisas assim são afirmadas:
– “É de se admirar que tenham se casado!”
– “Um tão bonito e o outro tão feio…”
– “Ele é tão chato! Como conseguiu se casar?”
– “Ela tem esses defeitos horríveis, embora tenha qualidades também… Só que as qualidades dela outras mulheres também têm. Então, por que ele a teria escolhido para casar?”

Isso me fez parar para refletir: O que nos leva a amar alguém? Será que amamos pelo que as pessoas nos trazem de bom?

Não nos restrinjamos ao amor entre homens e mulheres, porque este sentimento também acontece, e muitas vezes, de maneira intensa e profunda, entre amigos, irmãos, familiares, etc.


.: Ouça o testemunho: amar e interceder


Quando minha segunda filha nasceu, contraiu logo nos primeiros dias de vida, uma pneumonia que a levou à UTI. Quanto sofrimento, quanta angústia, até que ela se recuperasse, graças a Deus.
No entanto, com esta doença, eu acabei assistindo de perto uma bela história de amor. Ao visitá-la, conheci uma menina que havia nascido com má formação, cujos problemas eram tão sérios, que a tornavam totalmente dependente dos aparelhos. Não bastasse tudo isso, ela era bastante defeituosa, praticamente disforme, não falava, não andava, o máximo que fazia era emitir alguns gemidos, reagindo a algo que acontecesse ao seu redor. No entanto, ela não tinha a menor consciência de sua realidade. Esta menina tinha, na época, sete anos de idade. Sete anos de UTI.

Mas, o mais incrível de tudo era ver a mãe dela que, diariamente, a visitava. Todos os dias, ela chegava, conversava e brincava com a filha, e esta gemia mais alto. A mãe, por sua vez, se alegrava com cada reação, cada gemido… Era i-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l! Todo santo dia, por sete anos, estava lá esta mãe, por causa de sua filha, que não podia trazer nada de “bom” a ela. Muito pelo contrário. Quanto amor, não é?

O que nos faz amar algumas pessoas mesmo quando estas nos fazem sofrer, ou nos trazem uma porção de problemas, seja por culpa delas ou não? Ou que nos rejeitam, nos fazem mal, ou que nos desprezam ou ofendem? O que faz alguém perdoar ao amigo que o ofendeu?

O que faz um pai amar um filho viciado, que se droga e rouba o próprio lar? E o que nos faz amar um bebê que nem nasceu ainda? O que faz uma mulher continuar amando um marido que a agride com violência? Ou que a trai?

Eu diria, amor que é amor, definitivamente, não depende do que a pessoa amada possa fazer ou trazer de bom ao outro. De jeito nenhum! Já nos ensina a Palavra de Deus, por meio de São Paulo: “O amor não busca seus próprios interesses” (I Cor 13,5).

Eu gosto muito daquela frase que diz assim: “Nós não amamos por causa de… e sim, amamos apesar de…” Se entendermos isso, compreenderemos por que alguém que parece tão, digamos, “detestável”, pode ter encontrado quem o ame, a ponto de se casar e viver a vida inteira ao seu lado.

Mas então, por que amamos?

Para mim, a resposta é simples: Amamos porque Deus é amor e somos imagem e semelhança d’Ele. É a essência de Deus em nós. O “amar” está em nós. Na há motivos, não há causas lógicas, explicáveis para isso.

Cada pessoa é única. Amamos aquelas determinadas pessoas porque a amamos e pronto. Muitas passam a ter um grande significado para nós, a fazer parte de nossas vidas, passamos a amá-las, e só não estendemos este sentimento a todas as pessoas com as quais convivemos, porque somos pecadores. Quanto mais o pecado vai perdendo espaço em nossas vidas, tanto maior será a nossa capacidade de amar. E quanto mais amamos, tanto maior será a nossa semelhança com Deus, mais próximos estaremos daquilo para o qual Ele nos criou, e portanto, mais próximos estaremos de ser realizados e felizes.

Amar, muitas vezes, dói. E é por isso que algumas pessoas desistem de experimentar o amor. Contudo, quando isso nos acontece, é o mesmo que estivéssemos desistindo de ser semelhantes a Deus, desistindo de nossa própria essência. Como ser feliz assim?

Eu creio ser impossível vivermos o amor verdadeiro, sem a coragem, a força e a graça que só o Espírito de Deus pode nos dar. Ele nos cura, nos liberta e nos santifica para nos formar no amor.

“O amor jamais acabará. (I Cor 13,8)”

“Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus (I Jo 4,7).”

Também gosto de outra frase, a este respeito, que diz: “Somos feitos pelo amor, por amor e para o amor”.

Fiquemos com Deus.
Fiquemos com o Amor.