“Ninguém muda ninguém; ninguém muda sozinho; nós mudamos nos encontros”: essa é a opinião do pensador brasileiro, Roberto Crema. Um tanto simples, mas profundo! Já ouvi dizer que os dois fatores que mais nos influenciam e fazem com que aconteça a nossa transformação são os livros que lemos e as pessoas com as quais convivemos. Será?
Quanto a mim a afirmativa é real. Admiro-me quando observo o quanto sou transformada e o quanto aprendo a partir dos encontros que tenho. Principalmente, quando me abro para acolher os impactos que as ideias e os sentimentos do outro me causam. Um dia desses, ouvi uma partilha que me fez compreender melhor o que estou afirmando.
Falando sobre relacionamentos, um amigo fez a seguinte reflexão:
Há transformação em mim, a partir dos encontros que eu tenho?
“Você já observou a diferença que há entre as pedras que estão na nascente de um rio e as que estão em sua foz?”. Balançando a cabeça, eu disse que não; e ele me explicou: “As pedras na nascente são cobertas de lodo, pontiagudas e cheias de arestas. elas são carregadas pelo rio, sofrendo a ação da água e se atritando com as outras, também são polidas, desbastadas. As arestas somem; ficam mais orgânicas, mais suaves, lisas e, o melhor, ficam cada vez mais parecidas com as outras, sem necessariamente serem iguais. Quanto mais longo o curso do rio, mais transparece a mudança”. Depois disso, compreendi onde ele queria chegar, mesmo assim ele completou: “A mesma coisa acontece conosco, se nos abrimos corajosamente aos relacionamentos profundos. O “Rio da Vida” nos conduzirá entre um atrito e outro (contato com o próximo) eliminando arestas, desbastando diferenças e, harmonizando-nos uns com os outros, sem necessariamente perdermos nossa identidade, nossa essência”.
Passar pela vida sem relacionamentos profundos é o mesmo que não sofrer transformação
Pensando bem, essa é uma verdade inegável. Claro que, alguns relacionamentos nos deixam marcas (digamos que negativas): tiram lascas e, pode ser, que tirem pedaços de nós. Mas, um coração sem marcas é um coração que não amou, não viveu. Um coração que não chorou, nem sentiu dor é um coração sem vida, sem sentimentos. Sentimentos, já dizia o poeta: “são o tempero de nossa existência”; sem eles a vida seria monótona e árida. Passar pela vida sem se relacionar profundamente, sem permitir ter sentimentos, é o mesmo de não crescer, não se deixar transformar; é começar e terminar a existência com uma forma bruta, sem brilho, sem vida.
Carrego várias marcas de pessoas importantes que passaram ou permanecem na minha vida. No contato com elas, fui tomando a forma que tenho, muitas arestas foram eliminadas. Transformaram-me em alguém melhor, mais suave, mais equilibrada. Outras, com suas ações e palavras, criaram em mim novas arestas, que precisam ser desbastadas pelos que virão. Faz parte do jogo! Podemos chamar isso de experiências válidas. Quem disse que na vida a gente só ganha?
Somos capazes de amar!
O escritor Cearense, Paulo Angelim, falando sobre nossa transformação, a partir dos relacionamentos, diz:
“Os seres de grande valor percebem que, ao final da vida, foram perdendo todo os excessos que formavam suas arestas, se aproximando cada vez mais de sua essência e ficando cada vez menores. Quando finalmente aceitamos que somos pequenos, dada a compreensão da existência e importância do outro e, principalmente, da grandeza de Deus, finalmente nos tornamos grandes em valor. Já viu o tamanho do diamante? Sabe o quanto se tira de excesso para chegar ao seu âmago? É lá que está o verdadeiro valor”.
Leia mais:
.: O segredo do autodomínio é desejar mudar sempre
.:Ciclos e comunicação
.: Paternidade: a transformação profunda na identidade masculina
.:Somente a consciência do amor incondicional nos torna capazes de amar
Fomos criados para o amor
Creio que o diamante mais precioso que temos é a capacidade de amar e ser amados, pois Deus nos criou essencialmente para isso. Nos capacitou para amar e nos deixou o desafio de descobrir como. Acredito que não existe outra saída a não ser nos lançar, corajosamente, nos relacionamentos profundos.
Por um tempo acreditei que amar significava evitar sentimentos ruins. Não entendia que ferir e ser ferida; ignorar e ser ignorada; errar na tentativa de acertar; fazem parte da construção e do aprendizado do amor.
Ora, esses sentimentos simplesmente não ocorrem se não houver envolvimento. E envolvimento gera atrito, atrito gera mudança e mudar, às vezes, custa muito e exige disposição, coragem. Você está disposto?
Para concluir, podemos lembrar as inesquecíveis palavras de São Paulo:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E, ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria…” (1 Co 13:1-3).