No livro do Gênesis, encontramos a mais alta e completa definição de quem é o homem: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Gn 1,27). O homem é imagem de Deus, tem em si, portanto, a essência de Deus que Jesus veio nos revelar como Amor: “Deus é amor” (I Jo 4,8). Esse amor que faz parte da essência do homem é o caminho da sua plena realização e felicidade, pois é o primeiro chamado que Deus nos faz.
O amor leva à comunhão, à partilha, ao relacionamento com o outro, como afirma o Papa: “A pessoa humana, pela sua natureza íntima, exige uma relação com o outro, uma reciprocidade de amor” (cf. Congregação para a educação católica, Orientações educativas sobre o amor humano). Esse amor com o qual Deus plasmou e constituiu o ser do homem, pode ser vivido por cada um em vários aspectos da vida: na família, com os amigos e também com um namorado ou namorada.
O amor por alguém do outro sexo é algo natural, que pode surgir em um determinado momento da vida de cada homem. É belo e reflexo do amor de Deus se vivido no momento certo, com maturidade e abertura aos outros, sem deixar-se levar por tendências que a sociedade nos apresenta.
Vivemos em uma sociedade que nos bombardeia constantemente com estímulos dos mais diversos e que tentam “moldar” a personalidade dos menos atentos. O apelo ao consumo é um dos mais fortes: a roupa da moda, o computador de última geração, um moderno aparelho de som… constantemente, somos quase arrastados a “necessitar” comprar alguma coisa. Esses apelos, muitas vezes, vêm acompanhados de promessas de felicidade, bem-estar, completude.
Essa conduta consumista, do descartável, da auto-satisfação, que impulsiona as pessoas a ter tudo logo para preencher uma “falta”, chega de maneira sutil e muitas vezes transforma atitudes, criando novos comportamentos e valores que não atendem ao verdadeiro ser do homem. E acaba sendo refletida também nos relacionamentos. O outro acaba significando para mim alguém que me fará feliz, que irá atender às minhas exigências de vida. Então, aquela identidade do homem de comunhão e doação acaba sendo “manchada” por essa atitude egoísta de ter, possuir, satisfazer a si mesmo, levando ao fechamento em si, o que traz a infelicidade.
A mídia também apresenta uma idéia de que somos incompletos, necessitando de alguém do outro sexo para nos completar. Isso acentua ainda mais o egoísmo no relacionamento, pois não se vai ao encontro do outro para uma partilha de idéias, de momentos, de vida, mas pensando somente em si. Deus, em seu infinito amor e sabedoria, não nos fez pessoas incompletas. Fomos criados para a comunhão, de nós mesmos e dos dons com os quais Ele nos cumulou. Por isso, ao contrário de ir em busca de alguém que nos complete, devemos ir ao encontro do outro para doar nossos dons e amor, fazendo uma comunhão de vida.
É preciso reorientar a nossa afetividade, observar como estamos agindo diante daquele com o qual nos relacionamos. Em primeiro lugar, devemos entender que não somos pessoas incompletas, que buscam a sua “cara-metade”. A pessoa com a qual nos relacionamos não é alguém que tem o dever de nos satisfazer, mas alguém completo, com o qual temos a possibilidade de relacionar-nos na comunhão e partilha contínua e recíproca.
Para amar de maneira plena, livre do egoísmo, propomos o modelo a seguir: Jesus! Ele foi o homem que mais amou de maneira consciente, voluntária e gratuita. Olhando para Jesus, contemplamos a nossa humanidade realizada de maneira plena e perfeita. Jesus, com sua vida, nos mostra como viver em plenitude nossa vocação ao amor, na contínua doação a todos que se aproximam de nós, desapegados de tudo, até de si mesmos. Esse amor que gera comunhão ama a todos, por isso não existe o fechamento dos dois na relação, mas a abertura a cada irmão e a Deus, à sua vontade.
Esse é o caminho da verdadeira felicidade, da felicidade que não passa. Vivendo um relacionamento baseado no amor puro e na abertura, chegamos a uma realização humana e espiritual. Esse modo de viver é também a chave para um verdadeiro amadurecimento psicológico.
Fonte: Comunidade Shalom