Jovens contam como driblam as dificuldades de viver um intercâmbio acompanhado pela fé
Buscar novos ares, sem se afastar de sua espiritualidade, é um desafio. O cristão que, acompanhado pela fé, busca viver as experiências enriquecedoras de um intercâmbio usufrui de benefícios, que vão muito além do aprimoramento da língua.
A procura por um intercâmbio tem crescido nos últimos anos, especialmente entre os jovens”, afirma Michele Netto, representante de uma agência de intercâmbio. Aprimorar um idioma, fazer novos amigos e vivenciar costumes diferentes são alguns dos benefícios adquiridos em um intercâmbio, e é algo que pode ser considerado enriquecedor com o passar do tempo.
Para os que se aventuram em conhecer outra cultura e adotam costumes e valores diferentes dos seus, o processo de aculturação pode exercer grande influência sobre os hábitos construídos em sua vivência social e familiar. “Resultado do encontro de duas culturas, em que uma, pouco a pouco, sobressai a outra e gera perdas e ganhos de ambos os lados. O processo de aculturação pode ser muito enriquecedor se a pessoa souber viver esse efeito saudavelmente”, afirma padre Sóstenes Vieira, membro da Comunidade Canção Nova, que morou um ano na Palestina, na cidade de Belém; e três anos em Israel, na cidade de Nazaré.
Viver em outro país exige da pessoa foco e determinação, e para quem busca viver sua espiritualidade distante de casa, quando se vive em outra cultura, o importante é não deixar de lado sua identidade de cristão.
Dyego de Oliveira Soares, 27 anos, natural de Vitória (ES), está há dois anos e meio fora do Brasil. Ele mora na Suíça e lá iniciou sua experiência como voluntário. Atualmente, é presidente de uma organização de jovens que desenvolve líderes e busca a paz mundial chamada AIESEC. Responsável por todas as operações da empresa no país, em meio à correria do dia a dia, o jovem se esforça para não deixar de lado sua religiosidade, o que afirma fazer parte de sua essência. “Não vou falar que é fácil nem que todas as vezes eu vivo as minhas práticas de oração como de costume, mas, em meu quarto, sinto-me mais acolhido para viver bem essa experiência e retomar o que é da minha essência”.
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Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
Segundo Dyego, na Suíça, os jovens não veem sentido em ir à Missa, pois, além de não terem um incentivo dentro de casa, pensam que o fato de acreditar em Deus é o suficiente. “Não é uma realidade melhor nem pior. É diferente!”, finaliza ele.
Há quatro meses morando em Baltimore, nos Estados Unidos, Sarah Zuccareli, 21 anos, natural de São José dos Campos (SP), faz sua experiência profissional como Au pair. Na cidade onde mora, há muitas igrejas católicas, mas a maioria das pessoas são evangélicas.
A jovem não tem um horário fixo de trabalho, por isso precisa se esforçar para ir à igreja fazer suas orações e participar das Missas, as quais são todas em inglês. “Vou à igreja que tem do lado de casa, dependo do meu horário de trabalho, que não é fixo. Quando não consigo ir lá rezar, eu rezo em casa, no meu quarto. Não encontrei nenhuma Missa em português aqui por perto; então, procurei um grupo de oração, mas os que encontrei são diferentes dos grupos do Brasil. Aqui, as pessoas não ficam adorando e rezando, os jovens da igreja só se encontram para conversar e conhecer gente nova. Então, eu rezo sozinha!”
Patrick, 25 anos, fez um intercâmbio estudantil, em Portugal, e conta que foram muitos os desafios enfrentados por ele naquele país. “Eu poderia ter caído, ter sido seduzido por todas as tentações que aparecem quando se mora sozinho, mas estar focado tornou menos difícil viver minha fé em Portugal. Tinha uma capela na rua ao lado da minha, e no centro da cidade muitas igrejas onde havia Missa a cada 20 minutos. Eu participava das atividades da comunidade Shalom de Braga, e tínhamos um grupo de jovens no fim de semana. Uma vez por mês, eu tentava ir a Fátima”.
Há cinco anos em Roma, capital da Itália, Clarissa Amaral, 29 anos, natural de Volta Redonda (RJ), define-se como uma menina que reza. Alguém que não saberia viver largada, longe de Deus.
“Eu tenho minhas orações e as faço diariamente na parte da manhã. Quando não consigo, faço à noite. Procuro ir à Missa todos os dias, mas, muitas vezes, não consigo. Domingo fiz muitas coisas; à noite, senti que faltava alguma coisa, foi quando percebi que ainda não tinha ido à Missa. Acabei indo à Missa dos Desesperados, às 22h, a última da noite. Aprendi que, quando me afasto de Deus, as coisas não dão certo, fico meio perdida, sem saber para onde ir”.
Clarissa tem como espelho a vida de oração que vivencia com seus pais, por isso afirma que sua intimidade com Deus vem de berço; em Roma, sua espiritualidade só tem aumentado. “Aqui, a gente aprende muito sobre a fé. Aprendi que a fé não é apenas sentimento, mas também o intelectual, sei que preciso aprender muito mais e ficar bem enraizada na fé. Assim, quando a tribulação vem, a gente balança, mas não cai pelo fato de ter raízes”.
Cristianismo no mundo
Um estudo feito com mais de 200 países e divulgado pela fundação americana Pew Research Center’s Forum on Religion and Public Life, com base em dados recolhidos no ano de 2011, constata que existem cerca de 2,18 bilhões de cristãos, de todas as idades em todo o mundo.
Brasil, Estados Unidos e México possuem 24% da população cristã mundial. Juntos, os três países possuem a maior população católica. Cerca de 37% dos cristãos vivem nas Américas, onde nove em cada dez pessoas são cristãs, o que corresponde a 86% da população.
Os 10 países com o maior número de cristãos
Américas
1. Estados Unidos
2. Brasil
3. México
Europa
4. Rússia
5. Alemanha
Ásia, na região do Pacífico
6. Filipinas
7. China
África subsaariana
8. Nigéria
9. República Democrática do Congo
10. Etiópia
Wesley Almeida
Jornalista e Fotógrafo