Mestre da Fé e Pastor Universal da Igreja, o Papa João Paulo II vem sendo, em seu longo pontificado, o construtor da paz. Tranqüilamente se pode afirmar que ninguém, na segunda metade do século passado e neste princípio de novo milênio, fez tanto pelo entendimento, a superação dos conflitos e a paz entre os povos. Vamos lembrar aos nossos leitores alguns fatos que o credenciam como o principal construtor da paz no mundo, reconhecendo que, também outros líderes, tiveram a sua parte nesse exigente trabalho.
Eleito em 16 de outubro de 1978, Karol Wojtyla, João Paulo II, iniciou as suas viagens apostólicas pelo mundo. Entre a primeira, feita já em janeiro de 1979, ao México, e a última que o levou à Eslováquia, meses atrás, peregrinando pelo mundo, ele encontrou-se com as mais altas autoridades. Viveu memoráveis momentos com multidões de jovens, operários e famílias, os homens de ciência e cultura, hansenianos, enfermos e detentos. João Paulo II aproximou como ninguém as pessoas de todas as classes sociais, diminuindo distâncias que dificultam o entendimento, a comunhão e a paz. Com uma coragem que impressiona, fez questão de entrar em contato com os povos mais marcados pelos desentendimentos, a violência e a guerra fratricida. Destacam-se entre as suas visitas de mais alto risco, as que fez ao Líbano e aos atribulados países da ex-Iugoslávia: a Croácia e a Bósnia-Herzegovina.
Movido pelo desejo de aproximar a todos reuniu, em duas oportunidades, na cidade de Assis, os grandes líderes religiosos cristãos e, também, os responsáveis pelas maiores religiões não-cristãs: muçulmanos, budistas e animistas, da África. O mundo pôde ver João Paulo II, com sua branca batina, cruz e anel do Pescador, confraternizando, refletindo e orando com os responsáveis pelos grandes grupos religiosos do mundo. No primeiro desses Encontros, apesar do grave atentado que em 13 de maio de 1981, quase fatal, quando ainda era tido como o “atleta de Cristo” e, no segundo, caminhando com dificuldade já com seus 82 anos de idade, ali esteve em Assis. Ninguém antes de João Paulo II, nem mesmo João XXIII que já lançara pontes entre católicos, ortodoxos, protestantes e judeus, na primeira sessão do Concílio Vaticano II, em 1962, havia ousado tanto.
Temos em nossa biblioteca as numerosas e densas Mensagens que Karol Wojtyla escreveu para os Dias Mundiais da Paz. São exatamente 24, entre a primeira, de janeiro de 1979, e a última deste ano. A instituição dessas Jornadas celebradas pela Igreja em todo o mundo, foi mérito do Papa Paulo VI. Mas João Paulo II lhes deu continuidade inovando, também, na decisão de fazer essas Mensagens serem entregues, pessoalmente, aos Chefes de Estado, com os quais a Santa Sé mantém relações diplomáticas oficiais. Estas, aliás, passaram de 50 para cerca de 170 países. Jamais o Estado do Vaticano, a Sé Apostólica de Roma, teve tão bons relacionamentos com nações do Ocidente e do Oriente, incluídas as de maioria muçulmana, budista e ex-comunistas.
Nessas Mensagens que viemos difundindo ano após ano, o tema da paz vem sendo tratado sob os mais importantes aspectos. A insistência maior é que a paz é possível, é um inestimável dom, e que as crianças e os jovens devem ser educados para o amor. Que a paz é fruto da justiça. A primeira dessas Mensagens para o Dia Mundial da Paz, de janeiro de 1979, logo após a sua eleição como Papa, foi dedicada ao tema “Para alcançar a paz, educar para a paz!”. Revendo essa longa série de Mensagens, agradeceríamos se alguma das nossas Editoras católicas as reunisse em um livro, que deveria estar, obrigatoriamente, na cabeceira de todos os líderes mundiais, políticos e religiosos.
Sentimos o dever de lembrar, ainda que brevemente e de passagem, o recente público empenho do Papa João Paulo II para evitar a desastrosa guerra entre os Estados Unidos e a Inglaterra, de um lado, Saddam Hussein e o Iraque, de outro. Além de colocar a diplomacia do Vaticano, das mais atuantes em todo o mundo, a serviço da causa da paz, o Santo Padre envolveu-se, pessoalmente, na superação do infeliz conflito. Enviou Cardeais como Pio Laghi ao encontro de George W. Bush e Roger Echegaray ao encontro do ditador Hussein. Convocou para audiências consigo mesmo, no Vaticano, o Secretário-Geral da ONU, Koffi Annan, o Secretário de Estado dos EUA, Collin Powell e outros líderes.
Foi tudo em vão. O ímpeto guerreiro de George W. Bush o levou à guerra, hoje mais um atoleiro em que estão se enterrando jovens soldados da maior potência política, militar e econômica de toda a história. Tendo ganho a guerra, estão perdendo a paz! Hoje, com certeza, Bush e os estrategistas do Pentágono devem estar arrependidos do próprio orgulho e belicismo. Se tivessem ouvido os candentes apelos de João Paulo II…
Não temos o espaço necessário para recordar o feliz êxito da arbitragem, anos atrás, do Papa e da Santa Sé, entre a Argentina e o Chile, quando estavam prestes a entrar em guerra os dois países-irmãos, reivindicando direitos no Canal de Beagle. Mas podemos, seguramente e com toda a justiça, afirmar que ninguém no mundo de hoje mereceria tanto o Prêmio Nobel da Paz. Nada temos contra a jurista iranina Shirin Ebadi, que o Comitê do Nobel preferiu à pessoa do Papa João Paulo II. Aliás, Karol Wojtyla não precisava do ambicionado Prêmio, já concedido a 79 homens e 11 mulheres. Há vinte séculos o próprio Cristo lhe concedeu a bem-aventurança da paz, bem mais importante, quando proclamou do alto da montanha da Galiléia: “Bem-aventurados os construtores da paz, pois serão chamados filhos de Deus!” (Mt 5,9).