‘De repente, o amor por meu marido desapareceu, e surgiu a dúvida se o amor duradouro realmente existe ou devemos nos contentar apenas com satisfações momentâneas’. Essa dúvida manifestada por uma leitora nos leva a aprofundar algumas características do verdadeiro amor.
Na opinião de muitas pessoas, o amor pode ser a emoção de dois enamorados quando seus olhares se encontram, o prazer de estar juntos ou a satisfação de cada um por sentir-se o centro da vida de alguém. É também a gratificação de ver um sorriso abrir-se no rosto do outro como resposta a um gesto de atenção ou de carinho, ou a alegria de um diálogo profundo. De fato, o amor é tudo isso, mas é também muito mais. Viver o amor é sinônimo de doação sem medidas, é almejar o bem do outro e gastar as próprias forças para alcançá-lo.
Portanto, o amor não é apenas questão de sentimento, mas também, principalmente,
vontade de amar. A experiência de muitas pessoas e casais confirma que, justamente nos momentos difíceis, podemos desenvolver a verdadeira capacidade de amar, que é
dom total de si mesmo ao outro. Esse modo de encarar o amor pode até ser considerado antiquado. Mas não seria uma contradição pensar que a busca da realização
pessoal pode prescindir da realização da pessoa a quem se ama?
Se observarmos o comportamento do homem e analisarmos seus anseios, devemos reconhecer que o caminho, nem sempre fácil, mas seguro, para desenvolver-se como pessoa, é o altruísmo, o dom de si mesmo. Ao viver segundo a lógica do amor, nos tornamos capazes de viver pelos outros.
Neste sentido, a experiência vivida por uma leitora de Cidade Nova é muito significativa: Por motivo de trabalho, meu marido precisou transferir-se para uma outra região. A separação forçada não deveria ser longa. Fiquei com os nossos dois filhos, aguardando o retorno dele. Mas depois de duas visitas rápidas, ele não voltou mais. Passaram-se anos de silêncio. Certo dia, através de um telegrama, soubemos que ele estava gravemente doente e desejava voltar para casa, para morrer entre os familiares.
Esquecidos de todo o sofrimento sem explicação, a leitora e os filhos se lançaram numa competição de amor, envolvendo parentes e amigos. O seu marido chegou em condições de saúde muito precárias. Viveu poucos dias, mas antes de morrer pediu perdão, reconciliou-se com toda a família e depois exclamou: Este é o momento mais feliz de minha vida.
Essa experiência evidencia um aspecto fundamental do amor que muitas vezes não é levado em consideração na sociedade contemporânea: o perdão. Quem não tem a coragem de perdoar e recomeçar está renunciando a si mesmo, ou seja, à possibilidade de desenvolver seu lado melhor. E isso pode significar a renúncia à própria felicidade.
É verdade que uma atitude de dom e perdão exige um certo esforço; mas, como o amor gera reciprocidade, à medida que o outro se sentir amado, será levado a retribuir com amor e, desse modo, não será impossível reconstruir uma felicidade a dois. Foi o que confirmou a nossa leitora: Experimentei a dor pela perda de alguém a quem eu amava, mas também a felicidade pelo seu retorno à nossa família que, em poucos dias, transformou sua vida e o levou ao reencontro com Deus.
A experiência mostra que nos momentos de crise o ser humano e, portanto, também o casal, pode descobrir novos recursos para ir em frente e conquistar novas metas, descortinando aspectos positivos de sua relação. O momento em que o relacionamento parece mostrar o fim do amor pode ser, na realidade, uma ocasião insubstituível para um crescimento. O amor, agora fortalecido pela vontade, nos permite dar o primeiro passo em direção ao outro e nos torna capazes de nos sacrificarmos pela sua felicidade.